Índice

 

1. ASPECTOS GERAIS

As rochas, ou materiais pétreos, contém informações que são imprescindíveis para o entendimento acerca da evolução da Terra e, desde tempos muito antigos, tem facilitado a vida do Homem, que encontrou maneiras de aproveitá-la para o seu benefício. Atualmente, esses materiais têm muitas aplicações, mas nada que supere aquelas ligadas ao setor da construção civil, onde são entendidos como matérias primas (Costa et al. 2000, 2002, 2009). Deste conjunto de matérias primas, parte é formada por rochas identificadas como ornamentais por conta de determinados tipos de aplicações. Outras, em estado bruto ou beneficiadas, são utilizadas na produção de argamassas, tijolos, elementos estruturantes etc.

Essas matérias primas são vitais para o desenvolvimento e manutenção da infraestrutura dos países, pois sem elas não seria possível a edificação de moradias, a construção de vias de transporte e de comunicação e de numerosos produtos que nos facilitam a vida. Em síntese, pode-se afirmar que os materiais pétreos desempenham um papel central para o desenvolvimento de um país industrializado ou em desenvolvimento.

1.1. Como são formadas as rochas

As rochas têm a sua formação relacionada com a atuação de diferentes processos geológicos, que se desenvolvem desde profundos níveis da crosta ou do manto até a superfície da Terra, assim identificados:

  • Magmatismo – responsável pela formação de rochas ígneas plutônicas e vulcânicas, como granitos e basaltos;
  • Sedimentação – responsável pela formação de rochas sedimentares, por exemplo, de arenitos, calcários, dolomitos e folhelhos;
  • Metamorfismo – responsável pela formação de rochas metamórficas, tais como ardósias, xistos, mármores, quartzitos e gnaisses;
  • Alteração/Intemperismo, Retrabalhamentos e Metassomatismo – esse conjunto de processos são responsáveis por alterações e modificações em materiais pétreos previamente formados, impondo aos mesmos diversificadas variações cromáticas e composicionais.

1.2. O que é uma rocha ornamental

O termo Rocha Ornamental é amplo e engloba as denominadas Rochas para Revestimento. Esse termo pode ser entendido como todos os materiais pétreos com função estética e/ou estruturante em uma obra de construção civil, que foram extraídos na forma de blocos ou placas. Por outro lado, as denominadas Rochas de Revestimento correspondem a produtos de desmonte de blocos de dimensões variadas, com posterior desdobramento em chapas ou placas, que mais tarde são polidas (beneficiamento) e recortadas, ou utilizadas em estado bruto.

Visando esclarecer dúvidas com relação à identificação, classificação e caracterização tecnológica de materiais pétreos aplicados, foram propostas normas técnicas pela ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, dentre as quais destacamos a norma ABNT NBR 15012:2013 – Rochas para revestimentos de edificações – Terminologia (ABNT 2013), recentemente revisada por uma Comissão de Estudo da ABNT.

Como destacado no texto da norma, esta define os termos referentes à geologia, petrologia e mineralogia dos materiais pétreos, destacando os tipos petrográficos, as texturas e as estruturas, bem como a descrição dos principais minerais constituintes daqueles tipos mais utilizados como materiais ornamentais e de revestimentos em edificações. A norma define ainda termos referentes aos processos de extração e de beneficiamento destes materiais, bem como produtos gerados a partir deles e ainda contempla conceitos e definições historicamente utilizadas no comércio e na indústria relacionadas com estes materiais.

Segundo essa norma, rocha ornamental tem um conceito mais amplo e é entendida como sendo: material pétreo natural utilizado em revestimentos internos e externos, estruturas, elementos de composição arquitetônica, decoração, mobiliário e arte funerária. Por outro lado, as denominadas rochas para revestimento são entendidas como: rocha ornamental submetida a diferentes graus ou tipos de beneficiamento, utilizada no revestimento de superfícies, especialmente pisos, paredes e fachadas. Dentre outros termos normalmente empregados, a norma cuidou de reconhecer alguns, como é o caso do termo pedra de revestimento, que é também utilizado em alguns setores para identificar tanto rochas utilizadas em revestimentos, quanto pedras decorativas.

Ainda que não contemplada pela norma da ABNT, convém mencionar que o mercado utiliza uma terceira denominação que é a de “Pedras Naturais” com o sentido exclusivo de materiais utilizados “in natura”. Nessa classificação, normalmente são encontrados materiais pétreos que apresentam facilidade de separação em placas tais como: ardósias, quartzitos foliados, gnaisses etc.

1.3. Influências, locais e tipos de aplicações de rochas ornamentais

Ao longo da história do Homem, materiais pétreos sempre foram utilizados nas edificações de construções civis, administrativas ou religiosas, bem como de monumentos (Figura 1). Proximidade com relação às áreas de ocorrência para esses materiais e modismos sempre exerveram forte influência nessas utilizações, nem sempre com resultados satisfatórios. No primeiro caso, verifica-se a existência de algum comprometimento das edificações pelo emprego de materiais com custos reduzidos por essa proximidade, mas de baixo desempenho, considerando as suas características tecnológicas. Vale lembrar que essas características nem sempre foram levantadas e, com frequência, aspectos estéticos foram impostos aos tecnológicos. Por outro lado, seguindo especificações de época, ou influências de mercado, também identificadas como modismo, se pode estender esses resultados negativos à área econômica das empresas da área da extração, significando em muitos casos o fechamento de frentes de extração por falta de demanda, provocando ainda redução de postos de trabalho. Na maior parte das vezes, recolocações desses produtos no mercado nunca se efetivaram. Como exemplo desses modimos, pode ser citada a preferência por determinadas cores. Nos casos mineiros, se destacam os chamados granitos verdes e os quartzitos e granitos amarelos. Também merece destaque a utilização de tipos exóticos com texturas especiais, como as rochas pegmatíticas

Figura 1. Exemplos de aplicações de materiais pétreos em uma edificação histórica (acima) e em uma contemporânea (abaixo). Na edificação histórica, localizada em Ouro Preto, foram aplicadas rochas quartzíticas, enquanto a contemporânea mostra-se revestida por chapas de cordierita gnaisse (Fotografias: A.G. Costa).

Atualmente, esses são os principais locais de aplicação dos materiais pétreos:

  • Edificações públicas (aeroportos, estações de metrô etc.);
  • Edificações comerciais (shoppings etc.);
  • Edificações residenciais (móveis de decoração, revestimentos de cozinhas e banheiros, revestimento de fachadas, lareiras etc.);
  • Decoração Urbana (passeios, praças etc.);
  • Arte funerária (urnas funerárias);
  • Arte Sacra (esculturas sacras);
  • Criação artística (arte estatuária etc.).

Por outro lado, considerando os tipos de aplicações e ambientes, podem ser relacionados os seguintes:

  • Aplicações sem tratamento: aplicações em estado bruto, envolvendo recortes, manuais ou com uso de equipamento adequado, mas sem beneficiamento e normalmente encontradas em:
    • Elementos estruturantes;
    • Revestimentos.
  • Aplicações com tratamento: normalmente aplicações com beneficiamento para revestimentos internos ou externos
    • Polimento – obtido por meio de abrasão progressiva com uso de pastas;
    • Apicoamento – obtido por uso de pontões ou máquina especial;
    • Levigada – obtido por abrasão grossa;
    • Flameado – obtido por meio de aquecimento superficial;
    • Lustro – obtido com a utilização de ceras, pastas e resinas especiais;
    • Tingimento – obtido pela aplicação de corantes.
  • Ambientes:
    • Externos ou internos;
    • Secos ou úmidos;
    • Com exposição ou não a correntes de ventos;
    • Com exposição a longos períodos de insolação ou a variações térmicas muito intensas.

1.4. Condições para a aplicação das rochas ornamentais

Com já destacado, rochas ornamentais correspondem a tipos litológicos extraídos em blocos ou placas, que podem ser cortados em formas diversas e beneficiados através de esquadrejamento, polimento e lustro para posterior aplicação.

Dentre o conjunto de fatores que influenciam as aplicações dessas rochas destacam-se:

  1. Proximidade e disponibilidade de materiais, que em inúmeras situações levaram à utilização de materiais inadequados;
  2. Fatores intrínsecos, que são aqueles diretamente relacionados com as características e propriedades das rochas, como composição mineralógica e texturas;
  3. Fatores extrínsecos, relacionados com o meio, como por exemplo, condições climáticas;
  4. Condições históricas e tradições, que envolvem, por exemplo, a utilização de materiais pétreos na arte funerária;
  5. Fatores macroeconômicos e diversificação industrial.

Considerando esse conjunto de fatores, destaca-se uma constante atuação integrada de alguns, com resultados explicados sempre pela atuação, por exemplo, de fatores intrínsecos (relacionados com as composições e propriedades dos materiais) versus os fatores extrínsecos (relacionados com o meio). Rochas muito porosas, ou formadas por minerais de fácil dissolução, sofrerão desgastes consideráveis se aplicadas em ambientes poluídos e atingidos por chuvas ácidas, por exemplo. A presença de filossilicatos, como as micas, a existência de bandamentos composicionais e a atuação de processos deformacionais, relacionados com diversos eventos tectônicos, poderão, em quantidades adequadas, modificar significativamente as texturas das rochas, propiciando o desenvolvimento prévio de estruturas planares ou de foliações. Essas modificações, em conjunto ou individualmente, poderão restringir ou mesmo comprometer as aplicações dessas rochas. Por meio dos planos das foliações (Figura 2), poderá ocorrer com maior facilidade a circulação de fluídos (água), o que significa aumento das condições de absorção. Outro fator, relacionado à presença desses planos, se refere à redução da capacidade de resistência desses materiais. Dependendo do uso e da posição dos cortes dos blocos em relação a esses planos, se paralelos ou perpendiculares, ocorrerá com certeza uma redução da capacidade de resistência à compressão, por exemplo.

Figura 2. Foliações presentes em rochas com potencial para aplicações enquanto rocha ornamental. À esquerda, imagem macroscópica mostrando foliação ou clivagem ardosiana em uma ardósia; à direita, fotomicrografia mostrando foliação em um xisto (nicóis cruzados). Fotografias: A.G. Costa.

Dessa forma, pode-se afirmar que as composições mineralógicas e as texturas das rochas, assim como as condições do meio, serão sempre determinantes nas condições de resistência e no grau de alterabilidade dos materiais aplicados. Uma vez expostas e aplicadas, pode-se igualmente afirmar que as atuações de processos de alteração e de degradação também interferem nas características estéticas destes materiais pétreos, provocando principalmente variações cromáticas nos mesmos.

1.5. Os nomes das rochas ornamentais

Nesta questão dos nomes para as rochas ornamentais, se observa junto ao setor que cuida das suas comercializações, o emprego de denominações que podemos identificar como comerciais ou de fantasia. Em algum momento após o processo de extração, já nas fases de beneficiamento, comercialização e aplicação, estas rochas recebem estas denominações, que não mostram nenhuma relação com a sua história de formação, ou com a sua Geologia.

Iniciativas têm sido colocadas em prática, buscando fazer com que estas denominações se façam acompanhar de informações identificadas como petrográficas (critério petrográfico), e que envolvem dados sobre conteúdos mineralógicos e feições texturais (Costa 2013) destes materiais disponibilizados para comercialização e aplicação. Com a adoção deste critério para a definição dos nomes das rochas, que do ponto de vista petrográfico podem ser granitos, sienitos, gabros, mármores, gnaisses, xistos, arenitos, calcários ou outras, nomes de fantasia seriam acrescentados aos nomes petrográficos corretos. Essa ausência de informações ou de conexões geológicas para os nomes destas rochas também leva a outra questão importante e que tem a ver com o desconhecimento acerca das suas propriedades tecnológicas, o que poderá comprometer suas aplicações nos projetos arquitetônicos.

1.6. Os nomes comerciais

Cercadas por modismos, estas denominações buscam chamar a atenção dos consumidores e por si só pouco dizem sobre as reais características das rochas envolvidas. Como exemplos podemos encontrar nomes como: Granito Blue Pearl para um sienito, Granito Verde Butterfly para um charnockito e Granito Matrix para um xisto.

No dia a dia do mercado que cuida da difusão e comercialização desses bens, os nomes petrográficos, já indicados anteriormente, ainda não são bem conhecidos e, segundo a classificação comercial, foram subdivididos em praticamente dois grandes grupos, a saber: o dos granitos e o dos mármores comerciais. Vale destacar que, com base nessa classificação comercial, um xisto, que é uma rocha metamórfica foliada (ex. Granito Matrix), e um granito sensu strictu (ex. Granito RubyRed) são indistintamente identificados como granitos, ainda que apresentem petrografias e propriedades completamente distintas (Figura 3). Outro exemplo vem do serpentinito, que embora seja rico em serpentina e, portanto, mostrando composição mineralógica muito distinta, é comercialmente identificado como sendo um mármore que, por sua vez, é rico em carbonatos. Os denominados Mármore Verde Alpi, Mármore Verde Guatemala ou ainda o Verde Rajasthan são bons exemplos (Figura 4). Nesta mesma direção, podem ser ainda mencionados os chamados granitos pretos ou negros absolutos, como o Granito Preto São Gabriel, que de fato são gabros de grão fino.

Figura 3. Identificação comercial para rochas ornamentais com propriedades muito distintas. À esquerda, tem-se uma chapa para um Granito Matrix, que é uma rocha metamórfica (xisto) e, à direita, uma de um Granito RubyRed, que é uma rocha ígnea (granito) (Fonte: Costa 2013).

Figura 4. Mármore Verde Alpi. Chapa polida do comercialmente denominado Mármore Verde Alpi, que corresponde a uma rocha identificada por sua petrografia como um serpentinito (Fonte: Costa 2013).

Ainda segundo a classificação comercial, o grupo dos granitos pode ser subdividido em função da presença ou ausência de arranjos texturais, representados por estruturas planares (foliações) ou por estruturas tais como bandamentos. Nesses casos, há o destaque para aqueles que se apresentam com essas orientações e que, por conta disso, são chamados de granitos movimentados (anisotrópicos) em contraposição aos não movimentados (isotrópicos). Para os granitos anisotrópicos, é a distribuição preferencial dos constituintes minerais que confere o caráter movimentado às rochas que, pelo critério petrográfico, correspondem a gnaisses, enquanto que os granitos isotrópicos correspondem a granitos verdadeiros, ou a outras rochas com distribuição homogênea dos seus constituintes mineralógicos. Dentre os tipos de granitos comerciais movimentados, podem ser citados: o Granito Giallo California, um ortognaisse, ou o Granito Verde Eucalipto, um paragnaisse, e ainda o Granito Verde São Francisco, que corresponde a um gnaisse migmatítico. Alguns granitos isotrópicos, ou mesmo algumas rochas vulcânicas, após deformação intensa, como consequência da atuação de processos como o da milonitização, adquirem essa feição movimentada, como nos casos dos granitos isotrópicos identificados como Granito Madeira e Granito Olho de Pomba, e da rocha vulcânica ácida, identificada como Granito Azul Conduru.

Na comercialização de rochas ornamentais, e novamente sob a influência de modismos, materiais movimentados apresentam padrões ou arranjos que se destacam pela beleza ou estética (Figura 5).

Figura 5. Os granitos movimentados de Minas Gerais. Com predomínio para colorações esverdeadas, essas rochas, que são de fato gnaisses, sempre ocuparam lugar de destaque no conjunto de rochas ornamentais do Brasil. (Imagens retiradas do Portfolio Rochas Ornamentais e de Revestimento de Minas Gerais – produzido no âmbito do PEET – Programa Estadual de Extensão Tecnológica / Grupo de Trabalho Rochas Ornamentais).

No entanto, essa chamada movimentação da rocha deverá exercer grande influência nos parâmetros de caracterização tecnológica para essas rochas, seja nos granitos movimentados ou em outras rochas ornamentais com presença de estruturas planares, bem como outras descontinuidades. A existência destas descontinuidades, por exemplo, poderá implicar na redução da resistência à flexão e à compressão, determinando significativos aumentos nas taxas de porosidade e de absorção. Esses efeitos podem ser minimizados com estudos de cortes para esses materiais com direções apropriadas, paralelas ou perpendiculares às estruturas presentes.

De todo modo, e para se evitar aplicações inadequadas, se entende ser importante aliar às denominações comerciais das rochas, todas as suas informações petrográficas e tecnológicas.

1.7. Os nomes das rochas ornamentais com base em critérios petrográficos

As rochas ígneas, metamórficas e sedimentares são constituídas por minerais ou associações de minerais com arranjos muito particulares (texturas) e, em função disso, receberão nomes petrográficos que foram propostos após acordos envolvendo inúmeras sociedades e instituições internacionais da área das Geociências, como é o caso da IUGS Subcommission on the Systematics of Igneous Rocks. Como resultado foi proposto, por exemplo, o diagrama conhecido como QAPF, ou diagrama de Streckeisen (Figura 6), internacionalmente aceito para a classificação de rochas ígneas, plutônicas e boa parte das vulcânicas.

Figura 6. Diagrama de Streckeisen empregado para a classificação de rochas ígneas, nesse caso apenas para as plutônicas, como granitos, sienitos e gabros (Fonte: adaptado de Ciccolella 2016).

A quase ausência de informações petrográficas junto aos setores que trabalham com as rochas ornamentais e o crescente entendimento da necessidade de uma uniformização para denominações de rochas com aplicação ornamental acabou por provocar o desenvolvimento de uma ação coordenada pela ABNT, com participação de diversas instituições e pesquisadores envolvidos com o tema. Desta iniciativa resultaram atualizações e complementações para a norma identificada como: ABNT NBR 15012:2013 – Rochas para revestimentos de edificações – Terminologia (ABNT 2013). Com seu conteúdo atual, essa norma contempla definições e terminologia não só para as rochas, mas também para todas as etapas do processo produtivo, da extração até o beneficiamento. A seguir são apresentados termos petrográficos mais comuns que constam da mesma e que são relacionados com materiais pétreos comumente utilizados na indústria da construção civil.

1.7.1. Granito

Esse termo deve ser utilizado para identificar rochas plutônicas intrusivas de origem magmática e composição ácida, pegmatíticas ou não, e constituídas essencialmente por quartzo, feldspatos alcalinos e, em menor conteúdo, por feldspatos cálcicos e por micas, granada, sillimanita, cordierita ou ainda, mas raramente, por ortopiroxênio. Nos casos dos granitos, as denominações petrográficas e comerciais coincidem. Atualmente, dos materiais disponíveis no mercado, enquadram-se nesse tipo rochas tais como: Granito Ruby Red e Granito Verde Ubatuba.

No entanto, os granitos podem apresentar variações em termos do tamanho de grãos e cromáticas, sendo as últimas relacionadas em parte com a presença de minerais primários (feldspatos, piroxênios, anfibólios etc.) ou com os chamados secundários e que resultam da atuação de processos de alteração, principalmente de seus constituintes óxidos e sulfetos ou dos minerais máficos, com a formação de determinados produtos, dentre os quais se destacam a clorita, a biotita e a limonita (Figura 7). Com relação à variação de tamanhos de grãos, destacam-se os tipos de grão grosso, porfiríticos ou não, e, em especial, os pegmatíticos com seus cristais centimétricos.

Figura 7. As cores das rochas ornamentais. À esquerda, chapa polida do Granito Arabesco Branco mostrando coloração esbranquiçada primária. À direita, chapa polida do Granito Gold 500 mostrando intensa coloração amarelada por conta de alterações de parte dos seus minerais com liberação de material secundário que provocou o manchamento da rocha (Fonte: Costa 2013).

Considerando as colorações mais frequentes, os granitos podem ser identificados como:

Granito cinza – essa é a coloração da maioria dos granitos e se deve pela presença frequente e predominante de minerais primários como feldspatos esbranquiçados e quartzo acinzentado. Exemplos: Granito Cinza Mauá e Granito Cinza Andorinha.

Granito amarelo ou alaranjado – resultando os primeiros de alterações de feldspatos e os últimos de minerais máficos e óxidos contendo ferro, que se transformam em limonita, um óxido de ferro hidratado que provoca manchamentos de cor laranja ou ocre. Essas rochas apresentam colorações que fazem com que estes tipos sejam mais raros. Exemplos: Granito Juparaná e Granito Amarelo Ouro Brasil.

Granito branco – essa coloração resulta da ausência ou de conteúdos muito baixos em minerais máficos, com predomínio de feldspatos e quartzo com tonalidades esbranquiçadas. Exemplos: Granito Nepal e Granito Branco Itaúnas.

Granito vermelho ou róseo – no primeiro, a coloração dá-se por conta da presença na rocha de feldspato alcalino naturalmente com essa coloração. Exemplos: Granito Rosa Raissa, Granito Vermelho Bragança e Granito Ruby Red. É de se destacar que alguns granitos podem apresentar coloração rósea, que deve ser entendida como resultado de processos de alteração de seus minerais contendo ferro.

Granito verde – no caso destes granitos, a coloração é conferida pela presença de minerais secundários de coloração verde, como clorita, ocupando espaços em microfissuras e clivagens de feldspatos, que primariamente são esbranquiçados. Esses granitos são identificados pela petrografia como charnockitos. Comercialmente, podem ser destacados os exemplos: Granito Verde Pavão e Granito Verde Ubatuba.

No caso dos granitos propriamente ditos (sensu strictu), é possível ainda diferenciá-los, com base na petrografia, entre granitos com composições próximas ou afastadas do chamado ponto mínimo de fusão (minimum melting), como nos casos do Granito Branco Cotton e do Granito Rosa Iris.

1.7.2. Gnaisse

Esse termo se aplica à identificação de rocha metamórfica de granulação média a grossa, que apresenta estrutura de bandamento, normalmente identificado pela alternância de bandas claras e escuras, regulares ou não, e estruturas planares normalmente definidas pela disposição de minerais micáceos (biotita ou muscovita) ou prismáticos (anfibólios, granadas etc.). Em outro ponto da norma, também se encontra uma definição para o termo migmatito, que corresponde a uma rocha também com estruturação gnáissica, mas apresentando caráter híbrido, pois em parte é metamórfica e em parte ígnea. Exemplos de gnaisses ornamentais, comercialmente identificados como granitos são: Granito Lilás Gerais, Granito Giallo California e Granito Verde São Francisco.

1.7.3. Sienito

O termo se aplica para os casos de rochas magmáticas essencialmente constituídas por feldspatos alcalinos, às vezes por feldspatoides, raramente contendo quartzo. Podem conter ainda minerais máficos, como biotita, anfibólios e piroxênios. Embora sieníticas, essas rochas são denominadas comercialmente como sendo granitos, como nos exemplos: Granito Marrom Itarantim e Granito Café Imperial. No conjunto, as rochas que fazem parte desse grupo podem ainda ser diferenciadas por conta das inúmeras variações cromáticas que podem apresentar, com destaque para as seguintes tonalidades:

Sienitos marrons – essa coloração se deve à presença de diminutas inclusões de lamelas de ilmenita e agulhas de rutilo em feldspatos e minerais máficos (Figura 8), como nos casos dos sienitos identificados como: Granito Café Imperial e Granito Marrom Caldas.

Figura 8. Granito Marrom Caldas. Chapa polida de sienito identificado como Granito Marrom Caldas, apresentando orientação por fluxo magmático. À direita, tem-se uma fotomicrografia destacando a presença de diminutas inclusões de rutilo e de ilmenita que conferem a coloração marrom à rocha (Fonte: Costa 2013).

Sienitos azuis – nesses casos a coloração é conferida pela presença de um fedspatoide identificado como sodalita, como no caso do sienito comercialmente identificado como: Granito Azul Bahia, ou pela coloração que resulta de uma propriedade do próprio feldspato, como no caso do Granito Azul da Noruega.

Sienitos brancos – essa coloração se deve pela presença predominante de feldspatos, ausência de inclusões que podem provocar variações cromáticas e pela presença subordinada de minerais máficos (anfibólio), como no caso do sienito identificado como Granito Ás de Paus (Figura 9).

Figura 9. Granito Ás de Paus. Chapa polida de sienito identificado como Ás de Paus (Fonte: Costa 2013).

1.7.4. Gabro

Corresponde a uma rocha magmática de composição básica, normalmente contendo feldspatos cálcicos, com teor de anortita > 50%, minerais máficos como piroxênios e, mais raramente, olivinas. Pela petrografia, se houver predomínio dos ortopiroxênios sobre os clinopiroxênios, deve ser identificado como um norito. No caso dos gabros, a principal característica para os ornamentais está na coloração, que deve ser preta e homogênea, o que é alcançado apenas quando a rocha apresenta granulação mais fina, não destacando a coloração mais esbranquiçada dos feldspatos sobre os minerais máficos presentes. Com essas características, destaca-se um desses gabros, que é comercialmente identificado como Granito Preto São Gabriel.

1.7.5. Quartzito

O termo deve ser empregado para rochas metamórficas resultantes da transformação de arenitos e com granulação variando entre a fina e a média. Considerando a petrografia, sabe-se que os quartzitos com alto grau de recristalização e granulação predominantemente fina, quando constituídos essencialmente por quartzo, mostram textura granoblástica e podem apresentar propriedades tecnológicas (resistências) que são típicas dos granitos verdadeiros (sensu strictu). Nesses casos, a extração será a partir de blocos, sendo possível a obtenção de chapas regulares, em teares apropriados, com posterior processo de beneficiamento envolvendo o polimento, por exemplo. Ao contrário desses primeiros, os quartzitos com alto conteúdo em minerais micáceos, como os mineiros Quartzito São Tomé e Quartzito Lages, podem apresentar foliação até muito bem desenvolvida em função da disposição preferencial destes filossilicatos, não permitindo a extração de blocos e o corte regular de chapas. Quartzitos puros mostram coloração esbranquiçada, como o mineiro São Tomé Bianco, mas em função da presença de determinados minerais, como a dumortierita ou a cianita, ou ainda de minerais opacos alterados, observa-se uma variação na coloração destas rochas entre tons de azul e cinza azulado, como os baianos Quartzito Azul Imperial e Quartzito Azul, e entre o rosa e o amarelado para os mineiros: Quartzito Rosinha do Serro e Amarilio São Tomé, respectivamente. No mercado, encontram-se ainda rochas ricas em quartzo, mas pouco recristalizados que, a partir da análise petrográfica, são melhor caracterizados como sendo meta-arenitos, como no caso do Quartzito Rosa Aurora, e ainda aquelas com altos conteúdos em feldspatos, que correspondem a meta-arcósios, como é o caso do Quartzito Pink.

1.7.6. Mármore e calcário

Enquanto o mármore é definido como sendo uma rocha metamórfica, constituída essencialmente por cristais de calcita e/ou dolomita recristalizados e com textura granoblástica, o calcário corresponde a uma rocha sedimentar carbonática de granulação normalmente fina e constituída predominantemente por cristais de calcita (carbonato de cálcio), mas podendo conter dolomita (carbonato de cálcio e magnésio). Normalmente brancos, tanto um quanto o outro podem mostrar variações cromáticas em função da presença de outros minerais e de fósseis. No caso dos mármores, a variação de granulação entre fina e grossa pode ser explicada em função da variação do grau metamórfico, que deve ser mais alto naqueles de grão mais grosso. Em função da presença de minerais como o diopsídio, anfibólios e micas, os mármores podem mostrar grande variedade de cores, com tonalidades variando entre o verde, o amarelo, o rosa, o salmão, o marrom, e outros. Com qualificação ornamental, destacam-se os tipos de mármores de grão fino, com larga aplicação no setor estatuário, como os italianos Bianco Carrara Venato, o Bianco Statuario Venatino e o Bianco Statuario. Para os calcários e mármores destinados a outras aplicações, podem ser destacados os calcários Bege Bahia (Bahia) e o Crema Marfil (Espanha) e os mármores mineiros: Aurora Pérola, Bordeaux e Jacarandá (Distrito de Cachoeira do Campo), e Preto Florido e Verde Jaspe (Município de Campos Altos).

1.7.7. Ardósia

Uma ardósia pode ser descrita como sendo uma rocha de granulação muito fina, constituída essencialmente por minerais filossilicatos (sericita), que apresenta foliação muito penetrativa (clivagem ardosiana) e que resulta da transformação metamórfica de baixo grau de uma rocha sedimentar. Por conta dessas características, apresenta delaminação em placas com espessuras reprodutíveis e superfícies muito planas. Considerando a normatização internacional, podem ser encontrados dois termos relacionados com as ardósias. Um deles está relacionado com o tipo metamórfico e com clivagem ardosiana, enquanto o outro está relacionado com o tipo sedimentar. Ambas mostram intensa variação cromática e apresentam propriedades muito semelhantes.

1.7.8. Esteatito e Serpentinito

Segundo a norma, o primeiro termo se aplica a uma rocha metamórfica magnesiana, de granulação fina, maciça e constituída essencialmente por talco, enquanto o segundo tem a ver com o resultado da alteração de rochas ultrabásicas e ultramáficas, tais como dunitos e peridotitos. Nesses casos, ocorrem transformações mineralógicas com substituição de olivinas primárias por serpentinas, podendo ainda ocorrer a formação de anfibólios, cloritas e carbonato a partir de piroxênios. O produto dessas transformações é o denominado serpentinito. Normalmente em sequência, e em determinadas áreas, quando o serpentinito é colocado em contato com a sílica (SiO2), e havendo aumento da temperatura, ocorre uma reação que forma talco e assim resulta o esteatito (Pedra Sabão). Quando a rocha é constituída quase que exclusivamente pelo mineral talco, recebe a denominação de Pedra Talco e, normalmente, destina-se ao setor estatuário (Figura 10). Com qualidade ornamental podem ser mencionados exemplos de serpentinitos estrangeiros, como os comercialmente denominados Verde Vittoria e Verde Guatemala, e um de Minas Gerais, que já não é mais produzido, que é o Verde Boiadeiro.

Figura 10. Pedra Talco. Exemplo para a aplicação da Pedra Talco na produção de elemento artístico instalado no frontispício da igreja de São Pedro dos Clérigos, em Mariana, Minas Gerais (Fotografia: A.G. Costa).

1.7.9. Xistos

Seguindo as indicações petrográficas e o exposto na norma, tem-se que os xistos representam rochas metamórficas com granulação variando de fina até média, mostrando foliação (xistosidade) definida pela disposição preferencial de minerais micáceos, normalmente abundantes, mas também de prismáticos. Podem conter, além de quartzo, minerais como: granada, andaluzita, estaurolita, cordierita, clorita, anfibólios, sillimanita, epidotos e feldspatos. A presença ou a ausência desses últimos minerais pode ser consequência do grau metamórfico e da composição da rocha. Exemplos de xistos comercializados são: Granito Matrix e Granito Blackmoon.

Ainda que privilegiando os termos petrográficos, a norma manteve um conjunto de denominações comerciais para rochas ornamentais, que já se encontram consagradas no mercado, como é o caso da Pedra Sabão para esteatitos e de denominações como: pedra Mineira, pedra São Tomé e pedra Luminária para quartzitos, todas oriundas de Minas Gerais. Ainda para Minas, tem-se a pedra Lagoa Santa, que corresponde a uma rocha metamórfica com alguma xistosidade. A pedra Madeira e a pedra Miracema (ou Paduana) correspondem a milonitos graníticos extraídos na divisa de Minas Gerais com o estado do Rio de Janeiro, no município de Santo Antônio de Pádua. Outros nomes consagrados são: pedra Pirenópolis (quartzito/Goiás), pedra Morisca (arenito/Piauí) e pedra Cariri (calcário/Ceará).

2. A GEOLOGIA DAS ROCHAS ORNAMENTAIS

O Brasil, e em especial o estado de Minas Gerais, apresenta um significativo número de tipos de rochas com aplicação ornamental ou com potencial para aplicação nessa área. Essa variedade pode ser explicada com base na geodiverdidade presente não só, mas muito particularmente, no território do estado de Minas Gerais (Figura 11, Tabela 1).

Figura 11. Principais ocorrências de rochas ornamentais no estado de Minas Gerais (ard: ardósia; ck: charnockito; eto: esteatito; gb: gabro; gn: gnaisse; gr: granito; mm: mármore; qt: quartzito; sp: serpentinito; st: sienito). A numeração se refere aos itens da Tabela 1. Mapa geológico modificado de Pinto & Silva 2014.

Tabela 1. Principais ocorrências de rochas ornamentais no estado de Minas Gerais (mapa da Figura 11).

ABREV SUBSTÂNCIA TOPONÍMIA MUNICÍPIO Latitude Longitude
1 ard Ardósia Alberto Isaacson Martinho Campos -19,529091 -45,01588
2 ard Ardósia Distrito sede de Papagaios Papagaios -19,479189 -44,785983
3 mm Mármore Barreiro de Sete Lagoas Sete Lagoas -19,425641 -44,379726
4 sp Serpentinito Distrito sede de Nova Lima Nova Lima -20,114027 -43,875062
5 eto Esteatito Distrito sede de Congonhas Congonhas -20,510049 -43,839192
6 mm Mármore Miguel Burnier Ouro Preto -20,412817 -43,687637
7 eto Esteatito Santa Rita de Ouro Preto Ouro Preto -20,538706 -43,544926
8 qt Quartzito Passagem de Mariana Mariana -20,387667 -43,452852
9 eto Esteatito Cachoeira do Brumado Mariana -20,38455 -43,235883
10 ck Charnockito Distrito sede de Manhuaçu Manhuaçu -20,206938 -42,001151
11 gb Gabro Distrito sede de Manhuaçu Manhuaçu -20,185639 -42,00197
12 gb Gabro Distrito sede de Manhuaçu Manhuaçu -20,185299 -41,977152
13 ck Charnockito Distrito sede de Simonésia Simonésia -20,142705 -41,972567
14 gn Gnaisse Distrito sede de Durandé Durandé -20,11022 -41,735343
15 gn Gnaisse Distrito sede de Lajinha Lajinha -20,108872 -41,712122
16 st Sienito Distrito sede de Santa Rita de Caldas Santa Rita de Caldas -22,006957 -46,381806
17 st Sienito Distrito sede de Caldas Caldas -21,972378 -46,378851
18 gr Granito Itira Araçuaí -16,682019 -41,955053
19 gr Granito Distrito sede de Itinga Itinga -16,605223 -41,857985
20 gr Granito Distrito sede de Itinga Itinga -16,710673 -41,735347
21 gr Granito Distrito sede de Ponto dos Volantes Ponto dos Volantes -16,814984 -41,684681

A nível do Estado, e tendo por referências os tipos de rochas já considerados e o Mapa Geológico de Minas Gerais, de 2014 (Pinto & Silva 2014), é também possível perceber a existência de um claro controle geológico sobre a distribuição desses tipos pelo território mineiro, o que permite a identificação de regiões produtoras ou polos produtores de rochas ornamentais ou com potencial para tal. Diante disso, pode-se considerar que a Geologia de Minas Gerais se mostra muito favorável à extração e produção de diferentes e volumosos tipos de materiais pétreos com características ornamentais.

Nesse contexto, e levando-se em conta a localização de áreas de extração em atividade ou já interrompidas, bem como os tipos de rochas, podem ser identificadas, para Minas Gerais, as regiões produtoras ou com potencial para a produção de rochas ornamentais.

2.1. Região Nordeste

Rochas: granitos isotrópicos e xistos

Granitos – a região nordeste de Minas Gerais, com ênfase para a região do médio vale do rio Jequitinhonha, é caracterizada por uma geologia muito favorável, por conta da presença de inúmeras e volumosas ocorrências de rochas ígneas plutônicas e de composição granítica, identificadas como granitos sensu strictu. Essas rochas são compostas por feldspatos ricos em potássio (K) e sódio (Na) e por quartzo, mais minerais máficos (biotita, granada e cordierita) e outros, como a muscovita. Aqui se destacam inúmeras áreas de extração como, por exemplo, as do município de Medina. No conjunto do estado, a região nordeste de Minas Gerais pode ser identificada como um polo produtor de granitos ornamentais não movimentados (sensu strictu).

Xistos – há aproximadamente dez anos, teve início a extração de xistos com aplicação ornamental na região nordeste de Minas Gerais, mais precisamente no médio vale do rio Jequitinhonha. Com o tempo, essa produção só tem aumentado e a região ainda apresenta grande potencial para novas áreas de extração envolvendo xistos de médio grau metamórfico, nomeadamente aluminosos e outros mais quartzosos. Esses xistos, ricos em minerais micáceos, apresentam porfiroblastos, às vezes centimétricos, de minerais como andaluzita e cordierita, como é o caso de ocorrências no município de Itinga. Em direção oeste, e alcançando os municípios de Araçuaí e Virgem da Lapa, é frequente a presença de porfiroblastos de granada e estaurolita nesses micaxistos. Por conta disso, a região pode ser identificada como um polo produtor de xistos ornamentais, com destaque para o xisto identificado como Granito Matrix (Figura 12), por exemplo. No passado, foram comuns as extrações e aplicações de xistos verdes, de grau metamórfico mais baixo, em diversas cidades das regiões central e sul do estado, atualmente consideradas cidades históricas, como Ouro Preto e Tiradentes.

Figura 12. Granito Matrix. Àesquerda, área de extração de cordierita-andaluzita-mica xisto, localizada no município Itinga-MG (Coordenadas 16°38’40”S, 41°50’39”W). No mercado, esse xisto é comercializado sob as denominações de Granito Matrix ou Granito Blackmoon, conforme chapa à direita (Fotografias: A.G. Costa e Costa 2013).

2.2. Região Leste

Rochas: granitos.

Granitos – Na região leste do estado, o destaque é para a produção de granitos ornamentais, isotrópicos ou movimentados, com ênfase para materiais produzidos no município de Dores de Guanhães. Mais a leste, já na região de municípios limítrofes com o Estado do Espírito Santo, bem como em áreas do médio vale do rio Mucuri, destaca-se a existência de áreas com potencial e outras com extração de granitos que fazem parte da associação charnockítica, por conta da presença de ortopiroxênio em suas composições mineralógicas e de suas características colorações esverdeadas (Figura 13).

Figura 13. Granito Verde Pavão. Chapa polida de material identificado como um charnockito, que é um granito com hyperstênio (ortopiroxênio). Esta rocha é explorada em região limítrofe entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Mostra típica coloração esverdeada (Fonte: Costa 2013).

2.3. Região Central

Rochas: quartzitos, esteatitos, serpentinitos e mármores

Quartzitos – em Minas Gerais, os quartzitos com aplicação ornamental estão presentes, com maior ênfase, na região compreendida entre os municípios de Luminárias e São Tomé das Letras, na região central do estado. Por conta disso, a mesma pode ser identificada como o principal polo produtor de quartzitos ornamentais mineiros. No entanto, verifica-se que essas rochas são também exploradas em áreas dos municípios de Ouro Preto, Mariana e Diamantina, esse último localizado na região nordeste do estado. De modo geral, essas rochas são formadas essencialmente por quartzo, mas apresentam sempre conteúdos subordinados de minerais tais como: sericita, muscovita, óxidos e, mais raramente, cianita e granada. Quando apresentam conteúdos mais elevados em minerais planares, como as micas, esses minerais chegam a constituir planos na rocha, o que facilita o seu desplacamento, como muito bem pode ser observado na produção de peças do Quartzito São Tomé.

Esteatitos e Serpentinitos – a região central do estado de Minas Gerais caracteriza-se, desde tempos coloniais, pela extração e aplicação de esteatitos (pedra sabão) e, mais raramente, de serpentinitos. No passado, esses materiais, em especial os esteatitos (Figura 14), foram amplamente utilizados nas construções religiosas ou residenciais e em edificações de importantes monumentos.

Figura 14. Chapa polida de Esteatito. Também identificado como Pedra Sabão, esta rocha pode mostrar variações cromáticas entre tons de cinza e verde por conta da presença de minerais como clorita, serpentina, anfibólios e carbonatos, além do talco (Fonte: Costa 2013).

Quando ocorrendo in situ, esteatitos e serpentinitos mostram-se muito frequentemente associados. O esteatito, que ocorre sempre na forma de corpos de dimensões reduzidas, in situ ou como matacões, tem suas mais importantes ocorrências em áreas localizadas nos municípios de Ouro Preto (distrito de Santa Rita), Mariana (distritos de Furquim e Cachoeira do Brumado), Acaiaca e Congonhas. Já o serpentinito com aplicação ornamental tem sua extração mais volumosa somente a partir de tempos mais recentes, com ocorrência bem mais restrita que os esteatitos e limitando-se praticamente a pequenas áreas nos municípios de Rio Acima (Viriato), Piranga e Ouro Branco (Alto da Varginha). No Viriato, esse material chegou a ser comercializado com o nome de Verde Boiadeiro. Atualmente, grande parte do esteatito, que ainda é extraído, destina-se ao mercado interno e é utilizado para a confecção de diferentes itens de uso doméstico e decorativos. A menor parte destina-se a confecção de lareiras, que são exportadas para os mercados europeu e americano. O serpentinito tem sido utilizado, mais raramente, como material de revestimento e, não raro, enfrenta a concorrência de produtos indianos e italianos.

Mármores – a extração de mármores com finalidade ornamental está presente, em Minas, desde meados do século passado. Quando comparada a de outros tipos, a produção desses materiais pode ser considerada de pequeno volume e tem nos municípios de Ouro Preto (distrito de Cachoeira do Campo) e de Campos Altos as mais relevantes e antigas áreas de extração, com os mármores Aurora Pérola e Verde Jaspe, respectivamente. De modo geral, essas rochas são formadas essencialmente por carbonatos, acompanhados por minerais como o diopsídio, a tremolita, a clorita e, mais raramente, por micas. Na região de Mar de Espanha, região sudeste do estado, afloram mármores calcíticos, mas estes não são explorados para uso ornamental Apesar da presença de calcários em território mineiro, esses, por conta das suas propriedades e características texturais (cor, microfissuras, tamanho de grão), nunca tiveram aplicações expressivas.

2.4. Região Sudoeste

Rochas: Gnaisses (granitos movimentados) e Sienitos

Gnaisse – embora as regiões sudoeste e sudeste do estado de Minas Gerais tenham geologia muito favorável e com grande potencial para produção de gnaisses ornamentais, migmatíticos ou não, é na primeira que se concentra a quase totalidade da produção destas rochas. Assim, esta região constitui, senão a mais antiga, a mais importante região produtora ou com potencial para a produção de gnaisses ornamentais em Minas Gerais. As principais áreas com extração destes gnaisses se encontram nos municípios de Candeias, Itapecerica, Campo Belo, Carmo da Mata, Oliveira e São Francisco, por exemplo. Essas rochas apresentam ampla variação cromática e, dentre os tipos já produzidos ou em produção, predomina o migmatítico. Destacam-se aqui gnaisses comercialmente identificados como Granito Verde Lavras e Granito Verde Raissa.

Sienitos – na região sudoeste do estado de Minas Gerais, nos municípios de Caldas, Santa Rita de Caldas e Andradas, encontram-se as mais importantes áreas de extração de rochas sieníticas. De fato, essas rochas variam entre sienitos e foiaitos, pois podem apresentar algum conteúdo em feldspatoides, como a nefelina. Podem ser identificadas por meio dos tipos Marrom Caldas e Café Imperial. Essas rochas, que se diferenciam das graníticas pela ausência ou por baixos conteúdos em quartzo e pela presença de feldspatoides, anfibólios e piroxênios alcalinos, já foram, no passado, exploradas em áreas dos maciços de Passa Quatro e Itatiaia, na região sul de Minas.

2.5. Região Centro-Norte

Rochas: Ardósias

Ardósias – as principais ocorrências deste material se encontram distribuídas entre os municípios de Sete Lagoas, ao sul, e o de Pirapora, ao norte, na região central do estado de Minas Gerais. Essa região envolve ainda os municípios de Papagaios, Pompéu, Curvelo e Felixlândia. Nesse contexto, o município de Papagaios abriga a principal área de extração e beneficiamento. Os materiais que afloram nesta região mostram grande variação de tonalidade, com o predomínio de tons esverdeados e acinzentados.

3. ASPECTOS ECONÔMICOS RELACIONADOS COM AS ROCHAS ORNAMENTAIS

Considerando dados históricos para o século XX, apresentados por Peiter & Chiodi Filho (2001), é possível perceber a dimensão do avanço da produção e da demanda por rochas ornamentais no mundo, ao longo do século passado. Segundo esses dados, houve um expressivo aumento de produção no setor, que passou de cerca de 1,5 milhões de toneladas nos anos 1920 para 55 milhões de toneladas/ano, entre o final do século XX e o início do XXI. Para o período, e considerando os tipos mais comuns de rochas, como os mármores e granitos, esses autores descrevem uma variação de produção entre 1.175 e 31.300 toneladas, para os primeiros, e entre 175 e 20.350 toneladas para os últimos. Para 2001, Silva Cunha et al. (2003) dão conta de que a produção mundial de rochas ornamentais alcançou 68,7 milhões de toneladas.

Passados dez anos, e segundo dados disponibilizados pela ABIROCHAS, que é a Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais,e que constam de relatório interno produzido pela FIEMG (2017), a produção mundial de rochas ornamentais teria alcançado o volume de 116 milhões de toneladas em 2011. A maior parte desta produção (cerca de 60%) é formada por mármores, calcários e travertinos, o que de certa forma indica quase que uma duplicação na produção por conta de crescente demanda, mas sempre com predomínio das rochas calcárias.

Do ponto de vista da história, o Brasil e, em especial, Minas Gerais, fizeram parte desta evolução do setor das rochas ornamentais e foi, exatamente neste contexto histórico do século XX, que a produção destas rochas teve início no Brasil. Com participação inicial insignificante a nível mundial, essa produção mineira teve seu começo por volta de 1950, mas sua evolução deu-se com maior ênfase somente a partir dos últimos trinta anos do século XX. Nos anos iniciais, as principais áreas de extração estiveram concentradas nas regiões central e sul do estado, como as dos municípios de: Ouro Preto, com destaque para os distritos de Cachoeira do Campo e de Santa Rita; Lavras; Oliveira; Caldas; Candeias e São Tomé das Letras. Na passagem para os anos 2000, verificou-se uma importante expansão para outras regiões, com abertura de inúmeras frentes de lavra em municípios das regiões nordeste e leste de Minas Gerais. Merece destaque o ocorrido na região nordeste do estado, inicialmente identificada por conta de novas opções em termos de produção de rochas graníticas, como as do município de Medina, mas que aos poucos passou a adquirir importância também pela produção de tipos exóticos, como os materiais pegmatíticos e, sobretudo, pela produção de xistos ornamentais, como os dos municípios de Araçuaí, Itinga e Itaobim, comercializados internamente, mas que já ocupam posição de destaque entre os materiais brasileiros exportados.

Retornando ao início dos anos 2000, e conforme indicado por Peiter & Chiodi Filho (2001, p. 60), o Brasil apresentava uma produção total de rochas ornamentais ultrapassando os 5,2 milhões de toneladas. Desse total, os granitos respondiam por cerca de 60%, envolvendo mais de 300 variedades comerciais, e as rochas calcárias, envolvendo mármores, calcários e dolomitos, respondiam por cerca de 20%. Os 20% restantes envolviam outros tipos, como quartzitos, ardósias e outros materiais. Para 2013, segundo dados obtidos junto à ABIROCHAS, e que constam de relatório interno produzido em 2015 no âmbito do Programa de Competitividade Industrial Regional (PCIR; FIEMG 2017), executado pelo Sistema FIEMG, por intermédio do IEL, a produção estimada do país foi de 10,5 milhões de toneladas. Desse total produzido, quase 50% foram para rochas graníticas, seguidas por cerca por 20% de mármores e calcários, 13% para quartzitos foliados e maciços, 6% para ardósias e 11% para outras, incluindo aqui os esteatitos. Então, assim como ocorrido a nível mundial, passados um pouco mais de dez anos, também se percebe que a produção de rochas ornamentais no Brasil praticamente dobrou.

Atualmente, e levantados os dados de produção por estado, encontra-se que apenas três estados brasileiros continuam respondendo pela maior parte desta produção de rochas não processadas, a saber: Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia, que juntos respondem por 80% da produção de rochas ornamentais no Brasil. No quadro atual, se Minas ocupa o segundo lugar em termos de volume das extrações ou de produção de material não processado, com cerca de 18%, ocupa seguramente o primeiro em termos de diversidade de tipos extraídos ou em extração, o que é reflexo da sua geodiversidade. Ainda segundo dados que constam do relatório interno da FIEMG, e considerando a produção de material processado, os melhores desempenhos ficam com os estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, para as rochas graníticas. Embora o estado de Minas Gerais tenha um grande volume e potencial para a produção de rochas graníticas processadas, a maior parte da sua produção é exportada para o Espírito Santo, por rodovias e na forma de blocos. Isso se dá em função da ausência de uma indústria de transformação no estado. Mas Minas Gerais segue à frente com a produção de ardósias e de quartzitos, ainda que enfretando, no caso destes últimos, a concorrência de materiais oriundos do Ceará e da Bahia. Vale destacar que o desejável é exportar cada vez mais materiais processados, considerando-se que chapas polidas tem valor agregado muito maior do que aquele dos blocos. Atualmente, o mercado chinês tem sido o destino principal das exportações brasileiras de blocos, enquanto o material processado tem como destinos principais os mercados europeu e americano.

Ainda considerando aspectos econômicos, vale destacar que, tanto nas frentes de extração quanto nas de benficiamento, seja pelas características estruturais dos matériais ou pelas técnicas empregadas, verifica-se que são, às vezes, muito baixas as taxas de recuperação dos materiais pétreos. Em casos especiais, e considerando a importância econômica para alguns desses materiais com baixa taxa de recuperação, o mercado tem deixado de seguir as dimensões padrão para a produção de blocos ou de chapas, aproveitando aqueles de dimensões menores. Esse aproveitamento de blocos com dimensões fora do padrão, e com a utilização de talha blocos, gera recursos para as empresas e contribui para reduzir impactos ou danos ambientais provocados pelas pilhas de rejeitos. Sobre as dimensões de blocos e de chapas, as chamadas medidas líquidas para blocos levam em conta as medidas das arestas de comprimento, largura e altura. No caso das chapas considera-se a espessura. Os blocos tem normalmente as seguintes dimensões: 2,90 m x 1,75m x 1,75m – podendo apresentar variações na largura e altura, enquanto as chapas apresentam as dimensões: 2,90 m x 1,75 m x 2,0 cm.

Em resumo, e levando-se em conta aspectos relacionados com a produção de rochas ornamentais no Brasil, sabe-se que o país se encontra em posição de destaque neste mercado, apresentando oscilações, mas ocupando sempre as primeiras posições, tanto em termos de produção, quanto de exportação mundial de rochas ornamentais. Nesse contexto, o Brasil fica entre países como a China, Itália, Índia, Espanha e Portugal, ocupando, segundo dados de 2013 disponibilizados no mencionado relatório interno, a 4ª posição em termos de produção mundial. Dados recentes e disponibilizados pela ABIROCHAS, confirmam que a produção e exportação de material bruto no formato de blocos, ainda correspondem à maior parte e, por conta disso, o Brasil ocupa uma posição de pouco destaque na produção de materiais processados, como é o caso das chapas polidas. Por conta de incentivos não só na área de extração, mas também na de beneficiamento, com a introdução de novos equipamentos, verifica-se que nos últimos anos vem ocorrendo um incremento na produção de material processado.

Com relação a Minas Gerais, que iniciou sua produção com mármores, como os de Cachoeira do Campo, e com granitos movimentados em municípios da região sudoeste, confirma-se que o estado, na atualidade, continua sendo um polo produtor importante, principalmente para rochas quartzíticas, mas que também vem se mantendo como um importante produtor de rochas graníticas e de tipos exóticos, muito procurados na atualidade, como os pegmatíticos, com ênfase para as áreas produtoras da região nordeste de Minas, onde também é crescente a produção dos xistos ornamentais.

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