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Fotos: Construdeia.com e Mapa da Obra Acesso em 1/11/2017.

Índice

1. AGREGADOS PARA CONSTRUÇÃO CIVIL

Desde a antiguidade o homem utiliza os recursos minerais para a construção de moradias, edificações públicas, pavimentação de vias, obras de saneamento básico, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos, pontes, viadutos etc.

Para a construção civil, os recursos rochosos utilizados na forma de blocos ou placas são conhecidos como rochas ornamentais (não abordadas neste capítulo), ao passo que os recursos granulares, não metálicos, são denominados agregados. Com relação aos agregados, é conveniente a separação em dois grupos (Suguio 2003):

i) os materiais que devem ser tratados quimicamente, queimados, fundidos, misturados com outros materiais, ou modificados por algum outro modo, até atingir a capacidade de serem moldados e adquirir novas formas. Nesse grupo incluem-se as matérias-primas e utilizadas para a fabricação de aglomerantes (rocha pulverizada ou mistura desse pó com outras substâncias, tais como a cal, o gesso ou o cimento) ou as matérias-primas utilizadas para a fabricação de cerâmicas vermelhas ou brancas (argilas);

ii) os materiais que são utilizados diretamente como estão disponíveis na natureza, sem a necessidade de tratamento químico. A sua utilização envolve apenas tipos básicos de tratamento tais como corte, moagem e peneiramento. Nesse grupo incluem-se a areia, o cascalho e as rochas britadas (britas).

No Brasil, o órgão que rege todo o conjunto de regras e ensaios técnicos que envolvem o controle de qualidade dos agregados é a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Segundo a norma NBR 9935 (ABNT 2011), os agregados são definidos como os materiais granulares, geralmente inertes, com dimensões e propriedades adequadas para preparação de produtos artificiais empregados na construção civil, tais como as argamassas, o concreto e o asfalto. A Associação Nacional das Entidades Produtoras de Agregados para Construção Civil (ANEPAC), acrescenta que o termo ‘agregado’ se deve ao fato desses materiais serem agrupados e misturados com água, ou ligantes betuminosos, para a fabricação dos materiais utilizados na construção civil. Além desses, também se enquadram na definição de agregados os materiais granulares de grande porte utilizados para pavimentação de estradas, lastro de ferrovias, gabiões (contenção de taludes) e enrocamentos (contenção de drenagens) etc.

Uma das características do setor mineral para a construção civil é o emprego de um imenso volume de agregados para a confecção das obras (Tabela 1). Segundo dados da ANEPAC (2017), o mercado brasileiro de areia e brita é atendido por uma ampla e diversificada gama de produtores, envolvendo cerca de 3.100 empresas: 600 de produção de brita e 2.500 de extração de areia, com geração de 75.000 empregos diretos e 250.000 indiretos. Segundo essa mesma fonte, a produção no ano de 2015 foi de aproximadamente 519 milhões de toneladas e faturamento estimado de R$ 15 bilhões.

Devido à abundância de ocorrência dos agregados na natureza, o baixo valor unitário associado, a relativa facilidade de extração e a necessidade de desenvolvimento de uma sociedade, as matérias primas utilizadas na construção civil constituem os insumos minerais (à exceção da água) mais consumidos no mundo (ANEPAC 2017, USGS 2017).

Tabela 1. Exemplos da quantidade de agregados (areia e brita) necessários para a confecção de alguns tipos básicos de obras. Dados fornecidos pela Associação Nacional das Entidades Produtoras de Agregados para Construção Civil (ANEPAC 2017).

Obra Consumo de agregados (toneladas)
1 km de estrada pavimentada 9.800
1 km de pavimentação urbana 2.000
1 casa popular de 50 m2 68
1.000 m2 de um edifício 1.360
1 km de linha de metrô 50.000

Assim como os recursos energéticos (carvão mineral, petróleo e gás), os agregados constituem a base para o desenvolvimento de uma sociedade, uma vez que são essenciais para as necessidades básicas do homem moderno. Os países que mais consomem agregados são os que mais investem em obras de infraestrutura e, consequentemente, são os que proporcionam uma melhor qualidade de vida para a população. Por esse motivo, o consumo de agregados per capita pode ser utilizado como um confiável indicador do nível socioeconômico de uma nação (ANEPAC 2017, USGS 2017). Como exemplo, a ANEPAC indica que no ano de 2014 o consumo anual de brita e areia no Brasil foi da ordem 3,7 toneladas por habitante, ao passo que países mais desenvolvidos como EUA (9 t/hab), China (12 t/hab) e Finlândia (17 t/hab), apresentaram dados bem mais expressivos.

Os recursos minerais empregados na construção civil são variados e, neste trabalho, foram analisados em tópicos à parte, com base nas matérias primas principais:

i) calcário/dolomito;

ii) argilas;

iii) areia e cascalho;

iv) brita.

Ao final do capítulo, são apresentados os principais aspectos econômicos relacionados a esses materiais, destacando-se a produção no estado de Minas Gerais.

2. CLASSIFICAÇÃO DOS AGREGADOS PARA CONSTRUÇÃO CIVIL

Os agregados para a construção civil podem ser classificados com base em três parâmetros principais:

i) quanto à origem;

ii) quanto à massa específica;

iii) quanto ao tamanho dos grãos (Frazão & Paraguassu 1998, de La Serna & Rezende 2009, Hagemann 2011, Bertolino et al. 2012; Figura 1).

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Figura 1. Formas de classificação dos materiais granulares utilizados na construção civil (agregados). Eles podem ser classificados com base em três parâmetros diferentes: quanto ao tamanho dos grãos, quanto à massa específica ou quanto à origem dos grãos. Fonte: (Frazão & Paraguassu 1998, de La Serna & Rezende 2009, Hagemann 2011, Bertolino et al. 2012).

Com relação ao tamanho dos grãos, a norma NBR 7211 (ABNT 2005) estabelece que os agregados podem ser classificados em dois tipos principais:

i) agregados graúdos: materiais granulares com diâmetro entre 4,75 mm e 75 mm;

ii) agregados miúdos: materiais granulares com diâmetro entre 0,15 mm e 4,75 m. Os grãos menores que 0.15 mm são denominados finos.

Com relação à massa específica (γ), os agregados são classificados (NBR 9935, ABNT 2011) como:

i) agregados leves (γ < 2 g/cm3): oriundos de materiais como as argilas expandidas ou as pedras-pome;

ii) agregados normais (2 g/cm3 < γ < 3 g/cm3): mais comuns, largamente utilizados comercialmente, possuem densidade intermediária e os melhores exemplos são as areias e as britas derivadas de rochas comuns, tais como granito, gnaisse, quartzito, calcário, gabro e basalto;

iii) agregados pesados (γ > 3 g/cm3): raramente utilizados. São formados por minerais mais densos, como a limonita, a magnesita ou a barita.

Com relação à origem, esses materiais podem ser classificados como:

i) agregados naturais: materiais extraídos nos depósitos sedimentares inconsolidados, ou seja, são lavrados já na forma granular. Tais depósitos se formam a partir da ação de agentes erosivos naturais na rocha consolidada aflorante em superfície. Ao longo do tempo esses agentes provocam o desgaste e a fragmentação da rocha em sedimentos, os quais são transportados e acumulados em locais específicos. Os melhores exemplos desses depósitos são as areias e cascalhos acumulados em colúvios (encostas de morros) ou em alúvios (leito de rios);

ii) agregados artificiais: materiais produzidos a partir de processos de fragmentação e britagem artificial de rocha. Os melhores exemplos são as britas e as areias artificiais.

3. MATÉRIAS-PRIMAS PARA A PRODUÇÃO DE AGREGADOS PARA A CONSTRUÇÃO CIVIL

3.1. Calcário e dolomito

O calcário (Ficha 1) é uma rocha sedimentar química originada em ambientes marinhos, ou de água doce, a partir de processos inorgânicos controlados pela temperatura, pressão e pela quantidade de CO2 dissolvido na água (Suguio 2003). Se a água, em uma certa temperatura e pressão, está saturada em CO2 e CaCO3, qualquer acréscimo de temperatura, decréscimo de pressão ou perda de água por evaporação, implicará na precipitação de CaCO3. Esse material deposita-se por ação gravitacional e, quando compactado, origina o calcário.

A calcita (CaCO3) é o principal mineral constituinte dos calcários. Uma síntese das suas principais propriedades físico-químicas (conforme Deer et al. 2013) pode ser verificada na Ficha 2. O ambiente sedimentar mais favorável para a sua produção é o marinho raso (plataformal), de clima quente (Suguio 2003).

O dolomito é uma rocha muito semelhante ao calcário (Ficha 1), composta basicamente por dolomita [CaMg(CO3)2], um mineral que resulta da transformação da calcita a partir de reações com soluções hipersalinas, ricas em magnésio, marinhas ou de origem magmática (Suguio 2003).

Além da calcita e da dolomita, as rochas carbonáticas podem conter também menores quantidades de outros minerais carbonáticos tais como a siderita (FeCO3), a magnesita (MgCO3) e a ankerita [Ca(Mg,Fe)(CO3)2]. Da mesma forma, também podem ocorrer impurezas como sedimentos siliclásticos, óxidos de ferro, micas e matéria orgânica.

Ficha 1. Síntese das principais características do calcário, duas rochas carbonáticas com propriedades semelhantes e amplamente utilizadas como recursos minerais para a construção civil.

CALCÁRIO
Tipo: rocha sedimentar química;

Composição mineral: carbonatos (calcita, dolomita, magnesita, ankerita etc.). Pode conter impurezas (quartzo, argilominerais, micas, óxidos de ferro, matéria orgânica, conchas etc.); Cor: variável (cinza, bege, marrom, preto);

Textura: rocha cimentada;

Estrutura: maciça. Pode ser estratificada quando contém misturas de material clástico (calcarenitos);

Resistência mecânica: moderada;

Durabilidade: moderada. A rocha se dissolve com facilidade em contato com ácido moderado a forte;

Dureza: 3 – 4;

Porosidade: alta;

Permeabilidade: variável;

Massa específica: 2,30 – 2,70 g/cm³;

Uso na construção civil: recorrente. Matéria-prima para a indústria cimenteira e produção de cal. Confecção de britas utilizadas em concreto, pavimentação, calçamento, gabiões etc.;

Observação: O dolomito é uma rocha com propriedades muito semelhantes às do calcário e também é comumente empregado na construção civil.

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Foto: Geology – rocks & minerals

Acesso em 10/11/2017

Ficha 2. Síntese das principais características da Calcita, o principal mineral formador dos calcários. A calcita também é utilizada como recurso minerais para a construção civil.

CALCITA
Composição química: CaCO3;

Sistema cristalino (Cristalografia): Trigonal;

Dureza (escala de Mohs): 3;

Peso específico: 2,7 g/cm3;

Diafaneidade: transparente a translúcida;

Cor: Variável. Geralmente branca ou incolor, mas pode ser amarela, laranja, azul, rosa, vermelho, marrom, verde, preto ou cinza dependendo da presença de impurezas no cristal;

Traço na placa de porcelana: branco;

Brilho: vítreo a resinoso;

Clivagem: perfeita, em três direções. O ângulo entre elas é obliquo, formando romboedros;

Fratura: conchoidal;

Hábito: romboédrico (quando cristal bem formado); maciço (quando granular);

Uso na construção civil: recorrente. Quando queimada industrialmente (calcinação), produz a cal virgem (CaO) ou a cal hidratada (CaO.OH). Ambos são agregados pulverizados (aglomerantes) utilizados para aumentar o poder de retenção de água das argamassas.

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Foto: Geology – rocks & minerals

Acesso em 10/11/2017

A depender da concentração em que ocorrem, tais impurezas alteram as propriedades físico-químicas dessas rochas, sendo responsáveis, por exemplo, pela mudança na cor (os calcários podem ser brancos, rosados, cinzas, marrons ou pretos), na densidade, na resistência mecânica (capacidade de se fragmentarem frente a impactos), na durabilidade (resistência frente a processos naturais de desgaste quando expostos na natureza) etc.

Quando submetidos a altas pressões e temperaturas, as rochas carbonáticas sofrem metamorfismo e transformam-se em mármore, uma rocha comumente empregada na construção civil como placas de revestimento (rocha ornamental).

3.1.1. Calcário e dolomito em Minas Gerais

Com base em informações disponíveis no banco de dados do Serviço Geológico Brasileiro (CPRM 2018) e da Companhia de Desenvolvimento do estado de Minas Gerais (CODEMIG 2018), os principais pontos com áreas reais ou em potencial para exploração calcário e dolomito no estado estão distribuídos no mapa da Figura 2A. Tratam-se de indícios, ocorrências ou depósitos, cadastrados com o status de mina, garimpo ou região ainda não explorada. Como pano de fundo, estão destacadas as principais unidades geológicas mapeadas como portadoras de calcários ou dolomitos no estado (Figura 2A; Pinto & Silva 2014). Tais unidades denominam-se Grupo Bauru, Grupo Bambuí, Grupo Vazante, Grupo Paranoá e Supergrupo Minas. A seguir, apresenta-se uma síntese de cada uma dessas unidades, com enfoque no conteúdo de rochas carbonáticas:

i) Grupo Bauru: ocorre na região do triângulo mineiro (Figura 2A) e é representado por conjunto de rochas siliciclásticas, de ambiente predominantemente fluvial, depositadas em uma bacia de idade Cenozoica. Apesar da dominância de pelitos e arenitos associados ao ambiente fluvial, alguns exemplares de calcário de ambiente lacustre ocorrem subordinadamente na Formação Uberaba, que aflora nas proximidades das cidades de Uberaba, Veríssimo e Comendador Gomes;

ii) Grupo Bambuí: é unidade que contém os mais extensos e espessos registros de rochas carbonáticas, ocupando toda a região centro-norte do estado (Figura 2A). Trata-se uma sequência constituída por carbonatos, pelitos, arenitos e conglomerados subordinados, interpretada como originada em bacias de antepaís, no período Ediacarano (Reis et al. 2017). As rochas carbonáticas estão associadas com ambiente marinho raso sendo majoritariamente encontradas nas Formações Sete Lagoas e Lagoa do Jacaré. A Formação Sete Lagoas é constituída por extensas e espessas lentes de calcário cinza-escuro e dolomitos cinza-claro a bege, encaixadas em pacotes de siltitos finos e margas (Reis et al. 2017). Como exemplo, na figura 2B está detalhada uma ocorrência de calcário que ocorre em um maciço rochoso próximo à cidade de Presidente Juscelino, a sudoeste de Diamantina. A figura 2C apresenta o detalhe de uma amostra do calcário retirada desse afloramento. A Formação Sete Lagoas está amplamente distribuída na bacia Bambuí e os melhores exemplares ocorrem nas proximidades das cidades de Sete lagoas, Arcos, Pains, Formoso e Januária. A Formação Lagoa do Jacaré ocorre em posição estratigraficamente superior, sendo formada por calcários cinza-escuros, geralmente oolíticos, comumente explorados na região de Montes Claros e Corinto (Figura 2A);

iii) Grupo Vazante: ocorre na região noroeste e oeste do estado (Figura 2A), nos domínios do cinturão Brasília, com os melhores registros aflorando nas proximidades das cidades de Vazante, Lagamar, Coromandel e Paracatu (Figura 2A). Corresponde a uma sequência plataformal, de margem passiva, depositada no período Toniano. A Formação Lagamar detém os melhores registros de calcário, contendo inclusive porções mineralizadas em metais como Zinco e Chumbo. Em contrapartida, nas sequências de topo do Grupo Vazante (Formações Serra do Poço Verde e Morro do Calcário) ocorrem espessos pacotes de dolomitos (Fuck et al. 2017, Reis et al. 2017, Valeriano 2017);

iv) Grupo Paranoá: ocorre na região noroeste do estado, nos domínios do cinturão deformacional Brasília, aflorando nas proximidades das cidades de Unaí, Buritis e Dom Bosco. Corresponde a uma sequência plataformal, de margem passiva, depositada no Esteniano-Toniano, com presença de dolomitos na sequência basal e dolomitos com intercalação de calcário no topo da sequência estratigráfica (Fuck et al. 2017, Reis et al. 2017, Valeriano 2017);

v) Supergrupo Minas: ocorre na região central de Minas Gerais, nos domínios do Quadrilátero Ferrífero. Corresponde a uma sequência de rochas de origem continental e marinha, originadas na era Paleoproterozoica e posteriormente submetidas a processos de deformação e metamorfismo. O principal registro de rochas carbonáticas ocorre na Formação Gandarela (Grupo Itabira), um conjunto de calcários e dolomitos com intercalações de formações ferríferas dolomíticas e pelitos, que representam um ambiente deposicional marinho raso. Também são registradas, em menor quantidade, lentes carbonáticas na Formação Fecho do Funil (Grupo Piracicaba), uma unidade mais nova que a Formação Gandarela, que representa uma sedimentação em ambiente marinho mais profundo. Maiores detalhes sobre as rochas do Supergrupo Minas podem ser verificados em Alkmim & Teixeira (2017). As principais lavras de calcário e dolomito associados ao Supergrupo Minas localizam-se nas regiões de Belo Horizonte, Ouro Preto, Nova Lima, Barão de Cocais, Santa Bárbara, Itabirito e Brumadinho (Figura 2A).

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Figura 2. A) Principais ocorrências, indícios ou depósitos de calcário e dolomito registrados no estado de Minas Gerais (CODEMIG 2018, CPRM 2018); B) Aspecto geral de afloramento de calcário da Formação Sete Lagoas (Grupo Bambuí; Latitude: 18,602920S, Longitude: 43,967835W, Datum: WGS84) que ocorre na região de Presidente Juscelino. C) Detalhe do calcário amostrado no afloramento anterior. As porções mais claras são regiões mais puras, contendo cristais submilimétricos de calcita, enquanto que as porções mais escuras são regiões que contém uma concentração maior de impurezas.

3.1.2. Uso do calcário/dolomito na construção civil

O calcário e o dolomito são matérias-primas largamente empregadas como recursos para a construção civil.

Na forma britada, essas rochas produzem agregados miúdos (Figura 1), comumente utilizados como componente do concreto (Figura 3A), para a confecção de fundação de casas (Figura 3B) ou como material base para pavimentação de estradas (Figura 3C). Quando britadas em frações maiores (agregados graúdos; Figura 1), essas rochas são comumente empregadas para a confecção de fundações de edifícios, como de lastro de ferrovias (Figura 3D), muros gabiões (Figura 3E), enrocamentos (Figura 3F) ou como pedra de calçamento (Figura 4).

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Figura 3. Uso de calcário ou dolomito na forma britada (agregados miúdos ou graúdos). A) Como componente do concreto. B) Para a confecção de fundação de casas ou edifícios. C) Como material base para pavimentação de estradas. D) Para a confecção de lastro de ferrovias. E) Construção de muros gabiões (contenção de taludes). F) Construção de enrocamentos (contenção de água: avanço de rios ou mar). Fotos (Acesso em 1/11/2017): A) Cuiket.com.br; B) Meia colher; C) Engrena; D) Pedreira Beira Rio; E) Alibaba.com; F) Schramm Areias e Terraplanagem.

A calçada Portuguesa (Figura 4) é um tipo muito comum no Brasil. Consiste em um mosaico normalmente formado pelo contraste entre pequenos blocos de calcário de cores claras e escuras. Tais rochas são comumente empregadas para esse fim devido à sua baixa dureza (Ficha 1), o que implica na facilidade de corte e confecção de blocos geométricos que são montados lado a lado (Figura 4).

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Figura 4. Exemplo de aplicação de agregados de calcário para a construção de calçadas para passeio em espaços públicos. A calçada portuguesa é um tipo muito comum no Brasil e o contraste entre as cores permite a criação de mosaicos, como esse ondulado que ocorre na orla da praia de Copabacana – RJ. Fotos (Acesso em 1/11/2017): O Globo.

Além de ser empregado na forma britada, o calcário (ou dolomito) também é bastante utilizado na construção civil na forma pulverizada (como aglomerante).

Os aglomerantes são agregados finos, artificiais, pulverulentos (granulometria < 0.075 mm; NBR 9935, ABNT 2011), produtos do pó de rochas/minerais ou da mistura desse pó com outras substâncias. A cal e o cimento são os principais tipos de aglomerantes provenientes do calcário. Esses materiais atuam como ligantes que promovem a união dos grãos de areia e/ou brita em produtos como o asfalto, as argamassas e o concreto. Abaixo, segue uma breve definição da cal, do cimento e seus produtos principais:

i) Cal: tipo de aglomerante obtido a partir da calcinação (queima) da calcita (Ficha 1), um mineral tipicamente encontrado em rochas carbonáticas, como o calcário e, em menores quantidades, no dolomito. A “cal virgem” (Figura 5A) é o óxido de cálcio (CaO) retirado da calcita após tratamento térmico, somado a pequenas quantidades de impurezas que existem na rocha, tais como óxidos de magnésio (MgO), óxidos de ferro (FeO, Fe2O3, Fe3O4), óxidos de alumínio (Al2O3) e sílica (SiO2). Para ser utilizada como aglomerante, a cal virgem deve reagir com água e o resultado dessa reação é a “cal hidratada”, que nada mais é do que um hidróxido de cálcio (CaO.OH, Hagemann 2011). A principal aplicabilidade da cal hidratada na construção civil é como um dos componentes, juntamente com areia e cimento (Figura 5B), para a produção de argamassas utilizadas em revestimento de muros e paredes. Nesse caso, o papel da cal é aumentar o poder de retenção de água, evitando destacamentos entre argamassa e os componentes da alvenaria (Votorantim 2017). Abaixo, as reações químicas de formação da cal virgem (A) e da cal hidratada (B):

Além da utilização na construção civil, a cal também é empregada em outros setores produtivos, tais como: indústrias siderúrgicas, meio ambiente, indústria química, papel e celulose, indústria alimentícia, pelotização de minério de ferro e como insumos para a agricultura (Lima & Neves 2016);

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Figura 5. A) Detalhe de amostras de cal virgem obtida após a calcinação da calcita, o principal mineral componente do calcário. B) Detalhe do emprego da cal em mistura contendo areia e cimento para a obtenção de argamassas após adição de água. Fotos (Acesso em 1/11/2017): A) Ecivil; B) Mapa da Obra.

ii) Cimento: tipo de aglomerante obtido a partir da mistura (denominada clínquer) entre o pó de calcário e argilominerais que, ao reagirem com água, forma uma pasta gelatinosa que endurece e fica rígida após secagem simples (Figura 6, Portal do concreto 2017). Para melhorar a qualidade do produto, o cimento pode conter também algumas pequenas quantidades de outros materiais aglomerantes como a cal e o gesso. No Brasil, e no mundo, o cimento mais comercializado é tipo Portland, uma patente criada por um construtor britânico que descobriu que o sólido gerado após o endurecimento do cimento possui propriedades semelhantes com as rochas que ocorrem na ilha britânica de Portland (Hagemann 2011). O cimento é um dos principais componentes do concreto (Figura 3A) e também é utilizado na construção civil para a confecção de chapiscos e reboco (Portal do concreto 2017);

iii) Asfalto: conjunto de materiais aplicados na pavimentação de estradas. É a mistura constituída por um aglomerante asfáltico (ex.: cimento de petróleo) com areia e brita;

iv) Argamassa: mistura homogênea composta por aglomerantes (cal, gesso ou cimento), areia e água (Figura 6), com propriedades de aderência e endurecimento. Pode conter ainda a presença de pequenas quantidades de aditivos químicos ou minerais que visam o melhoramento na qualidade da mistura (NBR13529, ABNT 2013). As argamassas são utilizadas para assentamento de tijolos, azulejos, cerâmicas, revestimento de paredes ou como material impermeabilizante e de regularização de defeitos na superfície (buracos, desníveis, rachaduras etc.; Portal do concreto 2017);

v) Concreto: material resistente formado pelo endurecimento de uma mistura homogênea composta por aglomerante (cimento), areia, brita e água (Figura 3A; Figura 6). Pode ainda conter componentes minoritários (aditivos químicos ou minerais) que conferem maior qualidade ao produto (NBR12655, ABNT 2015). A proporção entre os ingredientes utilizados para formar o concreto é variável, o que implica na existência de vários tipos no mercado (Portal do concreto 2017). Segundo Quaresma (2009a), uma proporção usual para o concreto compreende na utilização de 42% de brita, 40% de areia, 10% de cimento, 7% de água e 1% de aditivos químicos. O concreto mais conhecido comercialmente é o tipo Portland, que corresponde àquele feito com o cimento Portland.

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Figura 6. Componentes primários utilizados na fabricação de argamassas e concreto. O calcário pulverizado somado com argilas compõe o cimento, um tipo de aglomerante essencial para a construção civil. A partir do calcário também se produz a Cal, um outro tipo de aglomerante utilizado na construção civil para melhorar a qualidade do cimento e para a confecção de argamassas brancas. Fotos: Mapa da Obra.

3.2. Argilas

As argilas são agregados finos naturais que possuem vários significados em função dos diferentes campos de aplicação (Ferreira 2010):

i) Para o ceramista, a argila é um material natural, preferencialmente de coloração esbranquiçada-avermelhada que, quando misturado com água, se converte em uma pasta plástica facilmente moldável (Figura 7). No mercado de construção civil, os produtos confeccionados com argilas esbranquiçadas são comercializados como cerâmica branca e as argilas avermelhadas como cerâmicas vermelhas;

ii) Para o sedimentólogo, argila é um termo granulométrico abrangendo as partículas com diâmetro menor ou igual a 0,004 mm (conforme classificação de Wentworth 1922);

iii) Para o petrólogo, argila é um agregado quase sempre friável de partículas minerais muito finas, não identificáveis a olho nu ou mesmo com a lupa de mão (Figura 7);

iv) Para o mineralogista, o termo argila se refere ao mineral, ou mistura de minerais, pertencente à classe dos filossilicatos, grupo dos argilominerais;

v) Para o pedólogo, argila é a fração mais fina do solo, que inclui partículas responsáveis pela fixação do mesmo.

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Figura 7. Detalhe de ocorrência natural de argilas evidenciando a textura terrosa, a coloração esbranquiçada-avermelhada e o caráter plástico típico do material. Foto (acesso em 1/11/2017): Grupo Martins Lara.

Segundo a Associação Brasileira de Cerâmicas (ABCERAM 2017), a argila é um agregado fino, natural, abundante e que pode ser moldado facilmente na presença de água, secando e endurecendo na presença de calor. Possui textura terrosa (Figura 7), são constituídas essencialmente por argilominerais, podendo conter pequenas quantidades de outros minerais (quartzo, micas e óxidos de ferro), bem como matéria orgânica.

A norma da ABNT NBR 6502 (ABNT 1995) define a argila como sendo o solo de granulação fina constituído por partículas com dimensões menores que 0,002 mm, apresentando coesão e plasticidade como características principais (Figura 7).

3.2.1. Argilominerais

Apesar de poder conter impurezas (outros minerais ou matéria orgânica), o principal componente das argilas são os argilominerais. A depender de sua estrutura cristalina e características físico-químicas, esses minerais são capazes de tornar as argilas mais ou menos plásticas. Existe uma ampla variedade de argilominerais, mas a maioria tende a apresentar as seguintes características em comum (Deer et al. 2013):

i) são estruturados em camadas cristalinas construídas por um agrupamento de tetraedros de sílica (camada T) e por octaedros de alumínio (camada O), que ocorrem em diferentes arranjos a depender do tipo de argilomineral (Figura 8);

ii) quimicamente, são aluminossilicatos hidratados que, com o calor, perdem água (adsorvida ou na estrutura do mineral; Figura 8). Quando submetidas a temperaturas bem elevadas, se desidratam completamente e tornam-se materiais refratários (péssimos condutores de calor e eletricidade);

iii) são minerais com uma direção perfeita de clivagem e macios, com dureza da ordem de 2 na escala de Mohs.

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Figura 8. Os argilominerais minerais possuem estrutura placoides, formada pelo empilhamento regular entre folhas compostas por tetraedros de sílica e folhas octaédricas de alumínio. Os membros do grupo da Caulinita possuem estrutura regular, sem a presença de água entre as folhas. Os membros do grupo da Esmectita admitem água interlamelar, o que confere alta plasticidade e expansividade nas argilas. Os membros do grupo da Ilita admitem água interlamelar, porém em menor quantidade do que nas esmectitas. Fonte: Esquema modificado de Tournassat et al. (2015).

No entanto, algumas importantes diferenças estruturais entre os tipos de argilominerais levam a sua subdivisão em quatro grandes grupos, cujas principais características são detalhadas a seguir (Deer et al. 2013, Tournassat et al. 2015):

i) Grupo da caulinita: argilominerais caracterizados por conter uma estrutura lamelar simples, formada pelo empilhamento regular de camadas constituídas por tetraedros de sílica e camadas octaédricas de alumínio (Figura 8). Pertencem a esse grupo a dickita, a nacrita, a halloysita e a caulinita [Al2Si2O5(OH)4], sendo este o mineral mais comum. O termo caulim é utilizado para denominar as argilas brancas (Figuras 9A e B) que contém a caulinita como o seu principal constituinte (Luz & Almeida 2012). O caulim é uma argila formada principalmente por ação de atividade intempérica, ou hidrotermal, em rochas aluminosas. Dentre as principais formas de ocorrência dos argilominerais do grupo da caulinita destacam-se os mantos de alteração derivados da decomposição de rochas graníticas ou gnáissicas (Figuras 9A e B);

ii) Grupo da esmectita: argilominerais caracterizados por conter uma estrutura lamelar formada pelo empilhamento de uma folha octaédrica de alumínio entre duas folhas tetraédricas de sílica, sendo cada agrupamento de três folhas unidos, preferencialmente, por água (Figura 8). Essa capacidade de adsorver água entre as camadas produz uma marcante expansão na estrutura dos minerais. Dessa forma, as argilas compostas majoritariamente por esses minerais (ex.: Bentonita), são conhecidas como “argilas expandidas”. Pertencem a esse grupo a nontronita, a beidelita, a saponita, a hectorita, a sauconita e a montmorilonita [(Na,Ca)0.3(Al,Mg)2(Si4O10).nH2O], sendo este último o mais comum. As esmectitas são constituintes comuns em rochas sedimentares e são os argilominerais mais importantes na formação de solos avermelhados (argila vermelha; Figuras 9A e B), comumente encontrados em zonas tropicais. Nesse sentido, as esmectitas são os principais componentes de materiais cerâmicos avermelhados utilizados em alvenaria (tijolos, telhas e pisos cerâmicos);

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Figura 9. A) Aspecto geral de ocorrência de caulim e argilas vermelhas em manto de alteração caracterizado pela formação de voçorocas. B) Detalhe da ocorrência anterior, evidenciando a textura terrosa e o aspecto friável das argilas, bem como a coloração esbranquiçada do caulim que se encontra abaixo de uma fina camada de argilas vermelhas. Fotos: voçorocas da região de Cachoeira do Campo, MG (Latitude: 20,392791S, Longitude: 43,667523W; Datum WGS84).

iii) Grupo da ilita: argilominerais do grupo das micas hidratadas, caracterizados por conter uma estrutura lamelar formada pelo empilhamento de uma folha octaédrica de alumínio entre duas folhas tetraédricas de sílica (Figura 8). Cada grupo composto por essas três folhas estão normalmente unidos a outro conjunto igual por um cátion de potássio (K+). Pertencem a esse grupo a phengita, a brammalita, a glauconita, a celadonita e a ilita, sendo este o mineral mais comum. A estrutura da ilita é mais estável do que os argilominerais do grupo das esmectitas, o que reduz a possibilidade de admissão de água interlamelar e a capacidade expansiva do mineral (Figura 8);

iv) Grupo da vermiculita: basicamente formado por vermiculita, um argilomineral ferro-magnesiano [(Mg,Fe,Al)3(Al,Si)4O10(OH)2.4H2O] com propriedades estruturais semelhante à montmorilonita, porém com menor capacidade de expansão devido à menor quantidade de água absorvida. Origina-se a partir da alteração de micas, mais comumente a biotita e a flogopita. Apesar de ser um mineral semelhante aos argilominerais do grupo da esmectita, a separação em um grupo a parte é conveniente devido à característica peculiar da vermiculita em se expandir rapidamente quando submetida ao calor. O produto gerado da queima é um material de baixa densidade e alta capacidade de isolamento térmico, acústico e elétrico. Não se decompõe facilmente, é inodoro, não é prejudicial à saúde e possui também propriedades lubrificantes, bem como excelente capacidade em absorver água. Essas propriedades lhe dão uma extraordinária condição de uso nos campos de construção civil, agricultura, indústria química, equipamentos, materiais especiais e outros (Lima & Neves 2016).

3.2.2. Origem das argilas

As argilas se originam a partir da alteração de silicatos aluminosos, principalmente os feldspatos e micas, constituintes de rochas ígneas, sedimentares ou metamórficas. Além da decomposição de minerais pré-existentes, os sedimentos clásticos de tamanho fração argila também podem ser originados em cinzas vulcânicas ou em farinhas glaciais (Suguio 2003). Quanto ao tipo de depósito formado, as argilas podem ser residuais ou transportadas:

i) Argilas residuais: são aquelas que, devido às condições favoráveis de intemperismo, da natureza da rocha fonte e da topografia, permaneceram no local de sua formação. Os tipos mais comuns de argilas residuais são a bentonita (argila vermelha com predominância do argilomineral montmorilonita) e o caulim (argila branca com predominância do argilomineral caulinita) derivado de rochas graníticas ou gnáissicas (Figuras 9A e B);

ii) Argilas transportadas: após o intemperismo, quando há transporte de material pela ação da água ou do vento, os sedimentos de fração mais fina depositam-se em regiões de baixa velocidade de correnteza, acumulando-se em ambientes como fundo de rios, lagos, pântanos e mares. Abaixo, uma síntese de cada um desses ambientes (Suguio 2003):

As argilas fluviais são depositadas, principalmente, nas planícies de inundações dos rios, durante o período de enchente. Nesse caso, os depósitos comumente apresentam-se em forma de bolsões e gradam lateralmente para depósitos mais enriquecidos em partículas maiores (fração silte e areia; Wentworth 1922). Depósitos semelhantes também podem ocorrer em regiões deltaicas. De um modo geral, nos ambientes fluviais predominam as argilas vermelhas;

As argilas lacustres ocorrem em bacias restritas e, independentemente do tipo de lago (fluvial, glacial, desértico, deltaico, cárstico etc.), a tendência é que os sedimentos argilosos ocorram no centro, onde há menor energia hidrodinâmica. Nesse caso, as partículas mais finas em suspensão na água se depositam. As argilas vermelhas são as mais recorrentes nesse ambiente;

As argilas de pântano geralmente ocorrem sob camadas de carvão, em camadas pouco espessas. São argilas muito plásticas, ricas em caulinita e matéria orgânica;

As argilas de planície de maré ocorrem nas margens de estuários, lagunas, baías ou atrás de ilhas de barreiras, onde desenvolve-se um ambiente transicional governado pela variação da amplitude da maré marinha. Na região mais aplainada e próxima do continente (região de supramaré), os sedimentos são lamosos e, devido à baixa energia hidrodinâmica, decantam e acumulam-se. Nesse ambiente é comum os depósitos de argila estarem associados a resíduos orgânicos e, sobre eles, desenvolvem-se os manguezais;

As argilas marinhas se depositam na plataforma ou em regiões mais afastadas da costa, no fundo oceânico, onde predominam correntes calmas suficientes para o material fino, em suspensão, decantar. Em regiões mais próximas da costa (plataformas continentais), a contribuição argilosa é proveniente, em grande parte, de correntes fluviais (deltaica) que levam consigo a carga em suspensão incapaz de ficar retida nos diversos filtros da faixa costeira (lagunas, estuários, barras arenosas etc.). No fundo oceânico, a contribuição de material argiloso é proveniente de partículas trazidas pelo vento. Nesse caso, em virtude da baixa taxa de sedimentação, os depósitos formados são pouco espessos. No ambiente marinho, as principais argilas formadas são as vermelhas e os depósitos contém significante quantidade de impurezas proveniente de detritos biogênicos ou sedimento carbonático;

Quando um depósito argiloso é compactado, formam-se as rochas sedimentares argilosas conhecidas como argilito, siltito ou folhelho (Ficha 3), as quais são genericamente chamadas de “pelitos”. Quando metamorfizadas, essas rochas transformam-se em filitos ou xistos (Ficha 3).

3.2.3. Argilas em Minas Gerais

Devido aos vários ambientes sedimentares responsáveis pela deposição de argilas transportadas, bem como a possibilidade delas se formarem em mantos de alteração residuais a partir de diversas rochas-fonte, as argilas estão amplamente distribuídas por todo o estado de Minas Gerais. Elas não estão restritas a certas unidades geológicas específicas ou a tipos específicos de rochas, mas sim aos processos geológicos recentes vinculados à deposição de partículas finas provenientes da desagregação de rochas siliciclásticas.

Com base em informações disponíveis em CPRM (2018) e CODEMIG (2018), os principais pontos com áreas reais ou em potencial para argilas no estado estão distribuídos no mapa da Figura 10A. Tratam-se de ocorrências, indícios ou depósitos, cadastrados com o status de mina, garimpo ou região ainda não explorada.

Ficha 3. Síntese das principais características das rochas argilosas (argilito, siltito, folhelho e xisto).

ARGILITO/SILTITO/FOLHELHO
Tipo: rocha sedimentar clástica. Genericamente chamada de “pelito”;

Composição mineral: argilominerais;

Cor: variável (cinza, marrom, verde, bege, ocre);

Textura: granular, clástica, de granulometria muito fina;

Estrutura: estratificada;

Resistência mecânica: baixa;

Durabilidade: baixa;

Dureza: 2.0 – 3.0;

Porosidade: alta;

Permeabilidade: baixa;

Massa específica: 2.20 – 2.80 g/cm³;

Uso na construção civil: os depósitos de argila em leitos de lagos e rios são lavrados para a produção de argilas utilizadas para a produção de cerâmicas brancas ou vermelhas.

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Foto: Geology.com

Acesso em 10/11/2017

XISTO
Tipo: rocha metamórfica de pelitos;

Composição mineral: variável. Quartzo, feldspato, e minerais metamórficos aluminosos (biotita, muscovita, anfibólio, granada, estaurolita, andalusita, cianita;

Cor: variável;

Textura: granolepidoblástica;

Estrutura: foliada;

Resistência mecânica: baixa;

Durabilidade: moderada;

Dureza: 3.5 – 4.0;

Porosidade: baixa;

Permeabilidade: baixa;

Massa específica: 2.50 – 2.90 g/cm³;

Uso na construção civil: incomum.

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Foto: Geology.com

Acesso em 10/11/2017

No mapa da Figura 10A é possível verificar que, grosso modo, os potenciais para exploração de recursos argilosos estão agrupados na região extremo nordeste (proximidades da cidade de Jequitinhonha), ao longo de toda a porção leste, estendendo-se até Juiz de Fora, na região metropolitana de Belo Horizonte, Montes Claros, Arcos, Poços de Caldas, a norte de Araxá e em setores individualizados do triângulo mineiro.

Como exemplo, nas figuras 10B e C, está registrada a ocorrência de argilas residuais que ocorrem na região de Cachoeira do Campo, nos domínios do Quadrilátero Ferrífero (MG). Trata-se de um afloramento em voçoroca, cuja feição erosiva expôs um espesso solo argiloso avermelhado/esbranquiçado, provavelmente produto da alteração de granitoides que formam o embasamento cristalino da região.

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Figura 10. A) Principais ocorrências, indícios ou depósitos de argila registrados no estado de Minas Gerais (CODEMIG 2018, CPRM 2018); B e C) Aspectos gerais de ocorrência de argilas esbranquiçadas / avermelhadas em voçoroca que expôs um espesso solo residual friável. Região de Cachoeira do Campo, MG (Latitude: 20,392791S, Longitude: 43,667523W; Datum WGS84).

3.2.4. Utilização das argilas na construção civil

As argilas são substâncias empregadas na construção civil desde os tempos mais remotos e atualmente ainda são amplamente utilizadas.

Por causa das propriedades dos argilominerais (Figura 8), existem argilas com características específicas, o que altera a sua aplicabilidade na construção civil. As argilas compostas pelos argilominerais dos grupos da esmectita, ilita ou vermiculita são plásticas e mais adequadas para a fabricação de cerâmicas vermelhas tais como tijolos (Figura 11A), telhas (Figura 11B), pisos (Figura 11C), ladrilhos e outros materiais utilizados em alvenaria (Hagemann 2011, ABCERAM 2017). Por outro lado, as argilas brancas (caulim) possuem uma estrutura cristalina mais regular (Figura 8), sendo caracterizadas por uma baixa condutividade térmica (material refratário). Tais argilas formam as cerâmicas brancas, amplamente empregadas na confecção de porcelanas sanitárias (Figura 11D), azulejos e porcelanatos em geral (Hagemann 2011, ABCERAM 2017).

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Figura 11. Exemplos da aplicabilidade das argilas na construção civil. A) Confecção de tijolos para alvenaria. B) Confecção de telhas para alvenaria. C) Confecção de pisos cerâmicos e lajotas. D) Confecção de porcelanas sanitárias. Fotos (acesso em 1/11/2017): A) Casa.com; B) Telhados; C) Prelis – Smart Ceramics; D) Transforme sua Casa.

Na construção civil, além de serem usadas para a produção de cerâmicas, as argilas também são amplamente utilizadas como um dos componentes do cimento (cerca de 20% para o caso do cimento Portland; Figura 6) com a finalidade de conferir impermeabilidade e resistência térmica aos concretos (Figura 3A). Em certos casos, para atender exigências específicas de uma obra, tais como promover melhor isolamento térmico ou acústico em uma parede, é gerado um cimento contendo maiores proporções de argila (“concreto leve” ou “concreto celular”; Portal do concreto 2017).

3.3. Areia e cascalho

A ABNT (NBR 9935, ABNT 2011) define a areia (Figura 12A) como o agregado miúdo (0,15 – 4,8 mm) originado a partir de processos naturais ou artificiais de desintegração mecânica de rochas. Essa mesma norma também define o cascalho (ou pedregulho; Figura 12B), como sendo o agregado graúdo (4,8 – 76 mm) utilizado diretamente na forma como é encontrado na natureza, sem qualquer tratamento que não seja lavagem e seleção. Dessa forma, areia e cascalho são termos genéricos definidos com base na fração granulométrica, e não com base na composição do grão.

Outra classificação, mais usual, é baseada nos intervalos granulométricos estabelecidos por Wentworth (1922), que fixa a faixa granulométrica dos grãos de areia entre 0,062 e 2 mm (Tabela 2). Nessa classificação, as areias são subdivididas nas variações muito fina, fina, média, grossa e muito grossa. Segundo Suguio (2003), é considerado cascalho o depósito sedimentar inconsolidado composto por sedimentos detríticos formados por grãos maiores que areia, sejam eles de fração grânulo, seixo, calhau ou matacão (Wentworth 1922).

Tabela 2 Intervalos granulométricos para os tipos de areias (Wentworth 1922).

Tipo Tamanho dos grãos (mm)
Grãos de Cascalho
Matacão > 256
Calhau 64 a 256
Seixo 4 a 64
Grânulo 2 a 4
Grãos de areia
Areia muito grossa 1 a 2
Areia grossa 0,5 a 1
Areia média 0,25 a 0,5
Areia fina 0,125 a 0,25
Areia muito fina 0,062 a 0,125
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Figura 12. Exemplos de depósitos naturais de areia e cascalho. A) Ocorrência de areia de coloração esbranquiçada acumulada em meandros e leitos de rio. Região de Lapinha da Serra (centro de Minas Gerais; Latitude: 19,077383S, Longitude: 43,699793W; Coordenadas geográficas, Datum WGS/84). B) Ocorrência de cascalheira composta por grãos de composições variadas e de tamanho grânulo a calhau. Região de Lassance (centro de Minas Gerais; Latitude: 17,916831S, Longitude: 44,653411W; Datum WGS84).

A depender do modo como foram transportados e depositados, os grãos de areia ou de cascalho podem variar quanto à forma: se mais angulosos ou mais arredondados, se mais ou menos esféricos (Shepard 1967; Figura 13). A tendência é que, quanto mais afastados da rocha fonte, mais desgaste os grãos sofrem durante o transporte e, por conseguinte, são mais arredondados e esféricos. Analogamente, quanto mais próximos da fonte, os grãos tendem a ser menos esféricos e mais angulosos (Suguio 2003). Para a construção civil, a forma do grão é importante, pois influencia o grau de compactação e a aderência do cimento e argamassas (Quaresma 2009a).

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Figura 13. Classificação dos grãos de areia quanto à forma (Fonte: modificado de Shepard 1967).

Como visto, um grão de areia ou de cascalho independe da composição da rocha. Nesse caso, praticamente todas as rochas comuns, sejam elas ígneas, sedimentares ou metamórficas, são passíveis de formar depósitos, desde que sejam desagregadas em fragmentos ou minerais da fração granulométrica adequada (Tabela 2).

As rochas mais favoráveis para a produção de areia são aquelas que detêm altos valores de um mineral denominado quartzo, um silicato composto por dióxido de silício (SiO2), caracterizado por apresentar uma estrutura cristalina tridimensional, estável e fortemente unida (Deer et al. 2013). As principais características físicas do quartzo estão resumidas na Ficha 4.

Com relação à composição dos grãos de cascalho, além de fragmentos maiores de quartzo (normalmente oriundos de veios desagregados), é bastante comum a presença também de fragmentos de rocha (Figura 12B).

Além de ocorrer em abundância na crosta terrestre, o quartzo apresenta grande resistência frente aos processos de decomposição física ou química, ou seja, não se deteriora facilmente e tende a se acumular em depósitos inconsolidados (Figura 12A). Quando um depósito de areia é soterrado e consolidado, a rocha formada é um arenito (Ficha 5). Quando o arenito sofre metamorfismo transforma-se em um quartzito (Ficha 5).

Os depósitos de areia e cascalho podem ser formados em diversos ambientes, tais como canais fluviais, praias, lagos, desertos, vales encaixados e topos de morros ou chapadas. No Brasil, os sedimentos inconsolidados mais explorados são as areias e cascalhos provenientes de aluviões, que são aqueles formados em leitos, planícies de inundação ou leito de rios (Figura 12A). Subordinadamente, esses materiais também são explorados em mantos de decomposição de rochas areníticas, quartzíticas ou pegmatíticas que formam, preferencialmente, depósitos residuais em coberturas de morros e chapadas (Quaresma 2009a).

Ficha 4. Síntese das principais características do Quartzo, um dos minerais formadores de rocha mais comuns do planeta e principal constituinte dos depósitos de areia e cascalho.

QUARTZO
Composição química: SiO2;

Sistema cristalino (Cristalografia): trigonal;

Dureza (escala de Mohs): 7;

Peso específico: 2,65 g/cm3;

Diafaneidade: transparente a translúcido;

Cor: Variável. geralmente incolor, mas pode ser branco, roxo, rosa, cinza, marrom, preto, amarelo, laranja dependendo da presença de impurezas no cristal;

Traço na placa de porcelana: branco;

Brilho: vítreo;

Clivagem: inexistente;

Fratura: conchoidal;

Hábito: hexagonal (quando cristal bem formado); maciço (quando granular);

Uso na construção civil: recorrente. Principal mineral componente em depósitos de areia e cascalho.

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Foto: Geology – rocks & minerals

Acesso em 10/11/2017

Ficha 5. Síntese das principais características das rochas siliciclásticas compostas predominantemente por quartzo (arenito e quartzito).

ARENITO
Tipo: rocha sedimentar clástica, formada a partir da das areias quartzosas.

Composição mineral: quartzo, sericita, óxidos de ferro, feldspato, carbonato.

Cor: variável (bege, branco, marrom, cinza, vermelho).

Textura: granular, clástica, de granulação fina a grossa.

Estrutura: estratificada (acamamento).

Resistência mecânica: moderada

Durabilidade: moderada

Dureza: 7

Porosidade: alta

Permeabilidade: moderada

Massa específica: 2,20 – 2,80 g/cm³

Uso na construção civil: Material utilizado para revestimento de pisos e paredes. Rocha fonte para depósitos de areia e cascalho

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Foto: Geology – rocks & minerals

Acesso em 10/11/2017

QUARTZITO
Tipo: rocha metamórfica do arenito.

Composição mineral: quartzo, feldspato, argilominerais, muscovita, óxidos de ferro.

Cor: variável (cinza, marrom, rosa, branco, laranja).

Textura: granoblástica

Estrutura: maciça.

Resistência mecânica: alta

Durabilidade: alta

Dureza: 7

Porosidade: baixa

Permeabilidade: baixa

Massa específica: 2,60 – 2,80 g/cm³

Uso na construção civil: Material utilizado para revestimento de pisos e paredes. Confecção de britas utilizadas em concreto, pavimentação e calçamentos. Rocha fonte para depósitos de areia e cascalho

ConsCivil_Ficha05b

Foto: Geology – rocks & minerals

Acesso em 10/11/2017

No mercado de construção civil também é comum a utilização do produto conhecido como saibro, definido como um solo de cores variadas, proveniente da decomposição de granitos e gnaisses (Figura 14A, NBR 13529, ABNT 2013). Trata-se de um material granular composto por um misto entre grãos de areia, argila e fragmentos de minerais como feldspato e micas. Em alguns casos, no saibro ainda podem ser verificadas as texturas e/ou estruturas da rocha original, como por exemplo, a presença de foliação e veios (Figura 14B).

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Figura 14. Exemplos de depósitos de saibro na região de Extrema (extremo sul de Minas Gerais; Latitude: 22,785066S, Longitude: 46,093744W; Datum WGS84). A) Aspecto geral do depósito com destaque para coloração rosada-avermelhada típica de saibro. B) Detalhe de exposição contendo estruturas preservadas (foliação e veios de quartzo leitoso) da rocha original que deu origem ao saibro.

3.3.1. Areia e cascalho em Minas Gerais

Todo tipo de rocha, quando desagregada, pode produzir grãos com granulometria correspondente à fração areia ou fração cascalho (Tabela 2). No entanto, para a construção civil, são utilizadas as areias quartzosas. Tendo em vista a grande ocorrência de rochas siliciclásticas no estado de Minas Gerais (arenito, quartzito, granito, gnaisse etc.), as fontes que originam os sedimentos quartzosos depositados no estado são diversas e independem de unidades geológicas específicas. Da mesma forma, os depósitos de cascalho, também podem ocorrer em diversas regiões, a partir de diferentes rochas. O saibro, em contrapartida, possui uma gênese mais específica, sendo originado a partir da desagregação, principalmente, de rochas graníticas. Tais rochas ocorrem em abundância em Minas Gerais, o que favorece sua distribuição no estado.

Além das condições geológicas (rocha-fonte > transporte > deposição), bem como as condições favoráveis de extração (restrições ambientais, pureza dos depósitos, quantidade disponível etc.) existe ainda um outro fator que determina os potenciais para exploração de areia, cascalho ou saibro: o fator mercado. Como os depósitos são abundantes e o custo envolvido na produção e transporte é caro, normalmente as áreas exploradas ocorrem ao redor dos grandes centros urbanos (Figura 14A; Quaresma 2009a).

Com base em informações disponíveis em CPRM (2018) e CODEMIG (2018), os principais pontos com áreas reais ou em potencial para areia, cascalho ou saibro no estado estão distribuídos no mapa da figura 15A. Tratam-se de ocorrências, indícios ou depósitos, cadastrados com o status de mina, garimpo ou região ainda não explorada. Como pano de fundo, estão destacadas as principais regiões do estado onde ocorrem arenitos ou quartzitos, bem como as principais coberturas recentes, formadas, predominantemente, por sedimentos inconsolidados aluvionares.

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Figura 15. A) Principais ocorrências de depósitos de areia, cascalho e saibro registrados no estado de Minas Gerais (CODEMIG 2018, CPRM 2018). B e C) Aspecto geral de ocorrência de areia aluvionar que ocorre em leito de rio na região central do estado (Serrado Cipó – MG; Latitude: 19,265943S, Longitude: 43,589458W; Datum WGS84).

No mapa da figura 15A é possível verificar que, grosso modo, os recursos se concentram nas proximidades dos grandes centros urbanos (Belo Horizonte, Juiz de Fora, Montes Claros) e, além disso, que há uma grande correspondência com a geologia. Nesse caso verifica-se que as regiões dominantemente marcadas por conterem rochas ricas em quartzo (arenito ou quartzito; Ficha 5), ou sedimentos inconsolidados, são as mais favoráveis para a exploração de areia, cascalho ou saibro. Vale ressaltar que a região leste do estado é dominada por rochas graníticas e gnáissicas, sendo muito provável que os pontos registrados com potencial para esses recursos estejam associados com a desagregação dessas rochas. Como exemplo, nas figuras 15B e C está registrada uma ocorrência de depósitos de areia em leito de rio na região da Serra do Cipó (domínio Sul da Serra Espinhaço).

Segundo Amaral (2016), a região metropolitana de Belo Horizonte é a maior produtora de areia do estado e é a segunda maior produtora de agregados (areia e brita) do Brasil, concentrando 12% da produção nacional. Devido às propriedades da areia (principalmente cor e granulometria uniforme), a região de Esmeraldas, por onde corre o Rio das Velhas, corresponde a um dos maiores polos da produção, com o reconhecimento de ser o local onde ocorrem as melhores areias de Minas Gerais (Amaral 2016).

3.3.2. Uso na construção civil

As areias e o cascalho são materiais essenciais nas construções modernas, sendo largamente utilizadas para pavimentação e confecção de argamassas, concretos, revestimento e filtros para tratamento de água (Hagemann 2011).

A maior aplicabilidade do cascalho na construção civil é como componente do cimento na fabricação de concretos (Figura 6) e sua função é conferir resistência, durabilidade e trabalhabilidade a esse produto. Subordinadamente, também podem ser utilizados como material base para pavimentação e filtros. Por serem constituídos de agregados graúdos (Figura 1), com alta resistência mecânica, o cascalho também pode ser utilizado para a confecção de lastro de ferrovias (Figura 3D), muros gabiões (Figura 3E) e enrocamentos (Figura 3F).

O saibro é utilizado basicamente para a confecção de argamassas para alvenaria, como material de revestimento ou confecção de quadras para práticas esportivas (Luz & Almeida 2012).

3.4. Brita

A ABNT define o termo “brita” como sendo o agregado graúdo artificial (Figura 1), gerado a partir da cominuição mecânica de uma rocha (NBR 9935, ABNT 2011). Tais materiais são as matérias-primas básicas na construção civil e, à exceção da água, correspondem a um dos recursos naturais mais acessíveis ao homem (ANEPAC 2017, USGS 2017).

Quando um corpo rochoso é submetido a detonação ele se divide em fragmentos menores, que são beneficiados em britadores e posteriormente separados em peneiras específicas, cujas aberturas das malhas são definidas pela ABNT (normas NBR 9935, ABNT 2011 e NBR 7211, ABNT 2005). Os materiais mais finos são separados por decantação ou flotação em água.

A princípio, qualquer rocha com alta resistência mecânica pode ser britada e usada na construção civil. Isso implica na existência de várias britas com composições diferentes no mercado (Figura 16). Nesse sentido, é a geologia da região que determina o tipo produzido e comercializado nos centros urbanos de um local.

Apesar da abundância, a instalação de uma pedreira leva em conta vários outros fatores dependentes do mercado e das restrições ambientais (Quaresma 2009b). Praticamente todo o transporte da brita produzida nas pedreiras é feito por via rodoviária. Portanto, idealmente, para que uma pedreira seja viável, a brita deve ser produzida o mais próximo possível dos centros de consumo. Além disso, a produção e comercialização de britas deve seguir o cumprimento de requisitos que garantem a qualidade do produto. Nesse sentido, a ABNT dispõe de diversas normas que controlam, por exemplo, o tamanho e formato da brita, a massa específica real e aparente, a presença de substâncias nocivas, o coeficiente de vazios, a resistência mecânica (abrasão, impacto e esmagamento) etc. (Hagemann 2011).

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Figura 16. As britas são agregados para construção civil produzidos artificialmente (mediante britagem nas pedreiras) e podem ser originárias a partir de diversos tipos de rochas. A geologia regional é que determina o tipo de brita encontrada no mercado consumidor de uma região. Foto (acesso em 1/11/2017): Geology.com.

3.4.1. Os principais tipos de britas

Como visto, as britas são materiais artificiais que derivam de rochas. De acordo com a ABNT (NBR 6502, ABNT 1995), uma rocha é definida como um material sólido, consolidado naturalmente, constituído por um ou mais minerais e com características físicas e mecânicas específicas para cada tipo.

Para a construção civil existem diversos tipos de rochas que podem ser lavradas para a produção de britas (Figura 16). Isso implica no fato da existência de britas composicionalmente distintas, com propriedades físico-químicas próprias. Dentre as propriedades da rocha que influenciam na qualidade da brita e, consequentemente, na qualidade da obra, destacam-se: composição mineral, textura, presença de estruturas, resistência mecânica, dureza, porosidade, permeabilidade, massa específica, durabilidade e reatividade (Hagemann 2011).

As rochas mais comuns utilizadas para a produção de brita são o calcário (ou dolomito; Ficha 1), o quartzito (Ficha 5), o granito (Ficha 6), o gnaisse (Ficha 6), o basalto (Ficha 6) e o gabro (ou diabásio; Ficha 6). No Brasil, cerca de 85% da brita produzida é oriunda de granito/gnaisse, 10% de calcário/dolomito e 5% de basalto ou gabro (Quaresma 2009b). As britas de granito e gnaisse ocorrem na maioria dos estados, ao passo que as britas de basalto predominam nas regiões sul-sudeste, e as britas de calcário se concentram nos estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás e Rio de Janeiro (Bertolino et al. 2012).

Ficha 6. Síntese das principais características das rochas utilizadas para a confecção de britas. Além do granito, gnaisse, gabro e basalto, o calcário (ver Ficha 1) e o quartzito (ver Ficha 5) também são tipos comumente utilizados.

GRANITO
Tipo: rocha ígnea plutônica, ácida (rica em sílica);

Composição mineral: quartzo, feldspato sódico, feldspato potássico, biotita, anfibólio, piroxênio, muscovita e acessórios variados;

Cor: variável (cinza, rosa, branco, laranja);

Textura: fanerítica (grãos visíveis a olho nu);

Estrutura: maciça. Por vezes com foliação de fluxo magmático;

Resistência mecânica: alta;

Durabilidade: alta;

Dureza: 6 – 7;

Porosidade: baixa;

Permeabilidade: baixa;

Massa específica: 2,60 – 2,70 g/cm³;

Uso na construção civil: confecção de britas para fundação, pavimentação, muros, calçamentos, lastro de ferrovias, enrocamentos, como componente do concreto etc. Como rocha ornamental é utilizada para revestimentos de pisos, paredes, lavatórios, bancadas e mesas e acabamentos e decoração em geral;

Observação: Existem vários outros tipos de rochas semelhantes com o granito, também utilizadas para produção de britas. Tais rochas são genericamente classificadas como “granitoides” e incluem, entre outras espécies, o sienito, o granodiorito, o tonalito, o charnockito e o granulito.

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Foto: Geology – rocks & minerals

Acesso em 10/11/2017

GABRO
Tipo: rocha ígnea plutônica, básica (pobre em sílica);

Composição mineral: feldspato cálcico, piroxênio, óxidos de ferro, olivina, quartzo, biotita e acessórios variados;

Cor: verde, marrom escuro ou preto;

Textura: fanerítica (grãos visíveis a olho nu);

Estrutura: maciça. Por vezes com foliação de fluxo magmático;

Resistência mecânica: alta;

Durabilidade: alta;

Dureza: 7;

Porosidade: baixa;

Permeabilidade: baixa;

Massa específica: 2,70 – 3,30 g/cm³;

Uso na construção civil: confecção de britas para fundação, pavimentação, muros, calçamentos, lastro de ferrovias, enrocamentos, como componente do concreto etc. Como rocha ornamental é utilizada para revestimentos de pisos, paredes, lavatórios, bancadas e mesas e acabamentos e decoração em geral;

Observação: O diabásio, o diorito e o anfibolito são rochas parecidas com o gabro em termos de propriedades mecânicas e também são comumente lavradas para produção de britas.

ConsCivil_Ficha06b

Foto: Geology – rocks & minerals

Acesso em 10/11/2017

BASALTO
Tipo: rocha ígnea vulcânica, básica (pobre em sílica);

Composição mineral: feldspato cálcico, piroxênio, olivina, feldspatoides (ou quartzo), vidro vulcânico e acessórios variados.

Cor: marrom escuro a preto;

Textura: afanítica (grãos invisíveis a olho nu);

Estrutura: maciça. Por vezes com foliação de fluxo magmático e/ou vesicular/amigdaloidal;

Resistência mecânica: alta;

Durabilidade: alta;

Dureza: 6;

Porosidade: baixa;

Permeabilidade: baixa;

Massa específica: 2,80 – 3,00 g/cm³;

Uso na construção civil: confecção de britas para fundação, pavimentação, muros, calçamentos, lastro de ferrovias, enrocamentos, como componente do concreto etc. Como rocha ornamental é utilizada para revestimentos de pisos, paredes, lavatórios, bancadas e mesas e acabamentos e decoração em geral.

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Foto: Geology – rocks & minerals

Acesso em 10/11/2017

GNAISSE
Tipo: rocha metamórfica proveniente de granitoides;

Composição mineral: quartzo, feldspato, micas, anfibólio e acessórios em geral;

Cor: variável (cinza, marrom, rosa, branco);

Textura: granolepidoblástica;

Estrutura: bandada;

Resistência mecânica: alta;

Durabilidade: alta;

Dureza: 7;

Porosidade: baixa;

Permeabilidade: baixa;

Massa específica: 2,50 – 2,70 g/cm³;

Uso na construção civil: confecção de britas para fundação, pavimentação, muros, calçamentos, lastro de ferrovias, enrocamentos, como componente do concreto etc. Como rocha ornamental é utilizada para revestimentos de pisos, paredes, lavatórios, bancadas e mesas e acabamentos e decoração em geral.

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Foto: Geology – rocks & minerals

Acesso em 10/11/2017

3.4.2. Britas em Minas Gerais

Assim como as argilas, as areias, cascalhos ou saibro, as rochas passíveis de serem britadas são recursos abundantes e a ocorrência dos depósitos depende das condições de extração e transporte do produto. Como o custo da lavra e transporte é caro, normalmente as áreas em potencial ocorrem ao redor dos grandes centros urbanos (Quaresma 2009b; Figura 17). Tendo em vista a grande disponibilidade de depósitos, o levantamento preciso das áreas em potencial para britas é difícil. Basicamente, todo bom afloramento rochoso em superfície pode ser um potencial, desde que atenda as condições legais de extração e de comercialização no mercado.

ConsCivil_Figura17
ConsCivil_Figura17

Figura 17. A) Principais ocorrências, indícios ou depósitos em potencial onde ocorrem rochas passíveis de serem britadas para a construção civil no estado de Minas Gerais (CODEMIG 2018, CPRM 2018). Calcários (ou dolomitos) e quartzitos não foram contabilizados (para essas rochas, ver mapas da figura 2 e Figura 15). B) Aspecto geral de uma pedreira de gnaisse que ocorre nas proximidades da região de Manhuaçu (extremo leste do estado. Latitude: 20,226332S, Longitude: 41,989245W, Datum WGS84).

Para se ter uma ideia mais genérica das ocorrências, indícios ou depósitos de rocha passíveis de serem britadas, o mapa da Figura 17A contém os registros catalogados no estado de Minas Gerais (CODEMIG 2018, CPRM 2018) e está organizado da seguinte forma:

i) os pontos definidos como “granitoides” incluem os potenciais catalogados como granito, sienito, charnockito ou granulito;

ii) os pontos definidos como “rochas máficas” incluem potenciais para basalto, gabro (ou diabásio) e anfibolito;

iii) os pontos definidos como “gnaisses” incluem, além de todas as variedades de gnaisses, os afloramentos genericamente catalogados como “britas”, “blocos para construção civil” ou “pedra de talhe”.

Como pano de fundo, no mapa da Figura 17A também está representado o domínio das principais unidades geológicas mapeadas como portadoras de gnaisses, granitoides, basaltos, anfibolitos, gabros (ou diabásio) no estado (Pinto & Silva 2014). Como exemplo de um dos pontos classificados como gnaisse (CODEMIG 2018; CPRM 2018) está destacado na Figura 17B o aspecto geral de uma pedreira de gnaisse que ocorre nas proximidades da cidade de Manhuaçu (extremo leste do estado, uma região dominada pela presença de gnaisses e granitos; Figura 17A). Vale ressaltar que na Figura 17A não estão representados os afloramentos de calcário (ou dolomito; pontos em potencial na Figura 2) e quartzito (pontos em potencial na Figura 15), ambos também comumente utilizados para a confecção de britas empregadas na construção civil.

3.4.3. Os produtos das pedreiras e seu uso na construção civil

Além dos tipos de britas com tamanhos diferentes, as pedreiras também produzem produtos subsidiários originados a partir do processo de britagem da rocha fonte, tais como: o rachão, o restolho, o filler, a bica-corrida, as areias artificiais e o pó de pedra. As características de cada um dos produtos das pedreiras, bem como sua aplicabilidade como recurso para construção civil, estão destacadas a seguir:

i) Brita: principal produto formado na pedreira. Corresponde aos agregados graúdos (4,75 a 76 mm) originados a partir da cominuição mecânica da rocha nos britadores e posteriormente selecionados em peneiras específicas. No mercado, as britas são comercializadas em tipos graduados conforme intervalos granulométricos estabelecidos pela ABNT:

Brita 0 (ou pedrisco): granulometria entre 4,8 e 9,5 mm (Figura 18A). É utilizada fabricação de massa asfáltica, concretos em geral, lajes pré-moldadas, chapiscos e material base para pavimentação (Hagemann 2011, Votorantim 2017). A brita 0 também pode ser comercializada com o nome de pedrisco, mas há uma diferença sutil com base na granulometria, pois segundo a norma NBR 9935 (ABNT 2011), o pedrisco corresponde ao produto britado com granulometria entre 4,75 e 12,5 mm;

Brita 1: granulometria entre 9,5 e 19 mm (Figura 18B). É o tipo mais comum usado na construção civil, atuando para a fabricação de concretos, lajes pré-moldadas, colunas, vigas, chapiscos e material base para pavimentação (Hagemann 2011, Votorantim 2017);

Brita 2: granulometria variando entre 19 e 25 mm (Figura 18C). É muito grossa para concretos, sendo pouco utilizada para esse fim (apenas em concretos ciclópicos; Portal do concreto 2017). Ela é ideal para aterros, lastros ferroviários e drenos (Hagemann 2011, Votorantim 2017);

Brita 3: granulometria entre 25 e 50 mm (Figura 18D). É utilizada para concretos ciclópicos, assim como para a construção de fundações e pisos mais espessos. (Hagemann 2011, Votorantim 2017);

Brita 4: granulometria entre 50 e 76 mm (Figura 18E). Material grande, com aplicações bem específicas. Utilizado em fossas sépticas, sumidouros, muros gabiões, reforços de subleito para pistas com tráfego pesado, lastros de ferrovias e concretos ciclópicos (Hagemann 2011, Votorantim 2017);

ConsCivil_Figura18
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Figura 18. Exemplos de tipos de britas resultantes das pedreiras, conforme classificação granulométrica comercializada no mercado. A) Brita 0. B) Brita 1. C) Brita 2. D) Brita 3. E) Brita 4. F) Rachão (ou pedra de mão). Fotos (acesso 1/11/2017): Mineração Santiago.

ii) Rachão (ou Pedra de mão): agregado constituído do material que passa pelo britador primário, mas é retido na peneira de 76 mm (Figura 18F). Também é conhecido como “pedra de mão”. Geralmente tem dimensões entre 76 e 250 mm. O rachão é usado para confecção de fundação de edifícios, calçamento, muros gabiões, construção de barragens e fabricação de concreto ciclópico (Votorantim 2017);

iii) Restolho: resíduo do processo de britagem. Trata-se de material granular friável (que se parte com facilidade), normalmente contaminado com material pulverulento de solo. É retirado do processo de britagem imediatamente após a passagem no britador primário. O restolho comumente é utilizado para a pavimentação das ruas internas da pedreira (Hagemann 2011);

iv) Areia de Brita (ou areia artificial): material com granulometria entre 0,15 e 4,8 mm, produto dos finos resultantes da produção da brita após passagem nos britadores primário e secundário. Possui a mesma aplicabilidade das areias naturais, podendo ser utilizadas em obras de alvenaria (reboco e chapiscos), como componente do cimento e para pavimentação (Hagemann 2011);

v) Bica-corrida (ou brita-corrida): material britado, mal selecionado, produto imediato do britador. A bica-corrida é primária, se resultante do britador de graduação na faixa de 0 a 300 mm, ou secundária, se resultante do britador de graduação na faixa de 0 a 76 mm. A aplicação na construção civil é em aterros ou como material base para pavimentação (Votorantim 2017);

vi) Filler: Agregado fino, com grãos da mesma grandeza de grãos da argila (< 0,075 mm), obtido por decantação nos tanques das instalações de lavagem de britas (Hagemann 2011). O filler pode ser utilizado para preencher vazios de concretos, como material de alvenaria (reboco) e como componente aditivo qualificador do cimento;

vii) Pó de pedra (ou pó de brita): Material granular resultante da britagem da rocha, com grãos menores do que 6,3 mm (NBR 9935, ABNT 2011). O pó de brita deve possuir 28% de material fino, com tamanho abaixo de 0,075 mm. São diferentes, portanto, do filler, que não admite grãos maiores que 0,075 mm, e das areias padronizadas, cuja proporção de material fino é diferente (Hagemann 2011). O pó de brita é muito utilizado em asfalto, calçadas, na fabricação de concretos com textura mais fina, pré-moldados e argamassa para contrapisos (Votorantim 2017).

4. TÍTULOS MINERÁRIOS E MINAS DE AGREGADOS PARA CONSTRUÇÃO CIVIL EM MINAS GERAIS

De acordo as informações do banco de dados referentes aos títulos minerais do estado de Minas Gerais fornecida pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (Sistema de Informações Geográficas da Mineração – SIGMINE; DNPM 2017b), há um grande número de títulos minerários em áreas com potencial para agregados para construção civil em Minas Gerais. Esses títulos encontram-se em diferentes fases do processo de aproveitamento mineral (autorização de pesquisa, requerimento de lavra, concessão de lavra, licenciamento, disponibilidade etc.) e a forma como estão distribuídos no estado de Minas pode ser verificada na figura 19. Dentre os títulos com as substâncias minerais informadas pelo banco de dados (DNPM 2017b), 9.532 são para areia, cascalho ou saibro (Figura 19A), 2.781 são para argilas em geral ou argilito (Figura 19B), 1.431 para calcário ou dolomito (Figura 19C) e 8.740 para rochas variadas (granito, granodiorito, tonalito, gnaisse, charnockito, granulito, basalto, gabro, diabásio, diorito e quartzito), passíveis de serem britadas (Figura 16D). Neste último caso, não estão contabilizados os títulos referentes a calcário ou dolomito.

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Figura 19. Localização das áreas com títulos minerários para pesquisa ou lavra em áreas com potenciais para agregados em Minas Gerais. A) Areia, cascalho e saibro (9.532 títulos ao todo). B) Argila (2.781 títulos). C) Calcário e dolomito (1.431 títulos). D) Rochas passíveis de serem britadas (8.740 títulos). Fonte: DNPM 2017b.

A localização de algumas dentre as várias minas cadastradas como produtoras de agregados para a construção civil em Minas Gerais (CODEMIG 2018, CPRM 2018) está destacada na Figura 20 e uma síntese com as principais características de cada uma delas pode ser verificada na Tabela 3. Ao todo, foram selecionadas 37 minas produtoras de areia (ou cascalho), argila ou rochas para brita (calcário, granito ou gnaisse).

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Figura 20. Distribuição de algumas minas produtoras de agregados para a construção civil em atividade no estado de Minas Gerais (CODEMIG 2018, CPRM 2018). Estão destacadas 37 minas registradas produtoras de areia (ou cascalho), argilas ou rochas para brita (calcário, granito ou gnaisse; Tabela 3). Mapa geológico modificado de Pinto & Silva 2014.

Tabela 3. Exemplos de pontos registrados com o status de mina produtoras de agregados para a construção civil, no estado de Minas Gerais (ver Figura 20). Dados compilados de CODEMIG 2018 e CPRM 2018.

Substância Situação Toponímia Município Latitude Longitude
1 Areia Ativa Ribeirão dos Macacos Lajes -19,445337 -44,535436
2 Areia Ativa Ribeirão dos Macacos Lajes -19,47181 -44,521962
3 Granito Ativa Faz Corr Vazante Joao Pinto Conselheiro Pena -19,206523 -41,469358
4 Areia Ativa Rio Grande Uberaba -20,021713 -47,876529
5 Areia Ativa Leito do Rio Paranaíba Araporã -18,400125 -49,145493
6 Argila Intermitente BR-262 (NW de Malaquias) Bom Despacho -19,786931 -45,163361
7 Gnaisse Ativa BR-262 (N de Araxá) Araxá -19,52877 -46,953865
8 Argila Ativa Rio Escuro Guarda-Mor -17,590114 -47,031608
9 Mármore Paralisada Santo Antônio do Leite Ouro Branco -20,41433 -43,688321
10 Gnaisse Ativa Amarantina Ouro Preto -20,324312 -43,697705
11 Gnaisse Ativa Fazenda Exupério Canguçu Almenara -16,147393 -40,696297
12 Argila Ativa Morro das Arvores Poços de Caldas -21,833968 -46,512832
13 Argila, Caulim Ativa Fazendas do Campo e Saboeiro Itabirito -20,312264 -43,857373
14 Calcário Ativa Morro do Mandacaru Pompéu -19,185611 -44,959101
15 Calcário Ativa Fazenda Samambaia Pedro Leopoldo -19,553722 -43,987274
16 Calcário Ativa MG-424 (N de Matozinhos) Matozinhos -19,529891 -44,095424
17 Calcário Intermitente Fazenda Taquari Martinho Campos -19,526523 -45,276165
18 Calcário Ativa Curvelo Curvelo -18,7168 -44,420086
19 Calcário Intermitente Sete Lagoas Sete Lagoas -19,449384 -44,291258
20 Calcário dolomítico Ativa Fazenda Lagoa Rica – Serra do Ambrósio Paracatu -17,149901 -46,792606
21 Areia, cascalho Ativa Ribeirão Santo Inácio Coromandel -18,550045 -47,029744
22 Cascalho, Quartzo, Gnaisse Ativa Fazenda Engenho Taquaraçu de Minas -19,68075 -43,763147
23 Cascalho, Quartzo, Gnaisse Ativa Piedade de Cima Visconde do Rio Branco -20,959818 -42,920537
24 Gnaisse, areia Ativa Ponte Nova Ponte Nova -20,42533 -42,910795
25 Gnaisse Ativa Morro do Sino Belo Horizonte -19,856347 -43,852858
26 Granito Ativa Joaquim Murtinho Congonhas -20,553165 -43,840641
27 Gnaisse Ativa Fazenda do Condado Carmo da Mata -20,528453 -44,905242
28 Areia Ativa Ribeirão Boa Vista Divinópolis -20,293027 -44,909295
29 Gnaisse Paralisada Fazenda Laurinha Itapecerica -20,363728 -44,969965
30 Gnaisse Ativa Fazenda Pedra Montada, Ribeirão Passa Tempo -20,639913 -44,5544
31 Gnaisse Ativa Fazenda Serrinha Piracema -20,483588 -44,505246
32 Granito Ativa BR-040 (Sul de Ressaquinha) Ressaquinha -21,100294 -43,753396
33 Gnaisse Paralisada Fazenda Barreira São Francisco de Paula -20,779919 -44,982325
34 Granito Ativa BR-342 (Sul de Medina) Medina -16,310904 -41,462792
35 Granito Ativa Fazenda Cachoeira Alegre Sabinópolis -18,734637 -43,097585
36 Granito Ativa BR-367 (Próximo ponte Ribeirão São João) Itaobim -16,561724 -41,477945
37 Granito Ativa Rio Jequitinhonha (a leste de Itinga) Itinga -16,605146 -41,85746

5. ASPECTOS ECONÔMICOS DOS AGREGADOS PARA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL

A verificação das principais estatísticas econômicas referentes aos agregados para a construção civil no Brasil é difícil por várias razões (Quaresma 2009a e b):

i) além das principais (areia, brita e cascalho), existem várias outras substâncias que também podem ser utilizadas na construção civil (ex. feldspato como componente de argamassas, gibsita para confecção de gesso, entulhos e materiais reciclados, escórias metalúrgicas ou siderúrgicas etc.);

ii) as principais substâncias (areia, argila, cascalho, calcário e outras rochas para brita) normalmente também são utilizadas para outros setores da economia (ex. calcário para a produção de fertilizantes, areia para produção de vidro, argilas industriais, etc.);

iii) alguns dados são registrados referentes a produtos manufaturados (ex. cal, cimento, argilas ativadas etc.);

iv) alguns dados são registrados em conjunto com outras substâncias (ex. brita e cascalho, areia e saibro);

v) o volume da produção é muito grande (da ordem de milhares de toneladas) e o controle dos dados não é fácil;

vi) existência de garimpos e pedreiras ilegais dispersas em todo o país.

Neste trabalho, os aspectos econômicos referentes aos agregados para a construção civil foram retirados do mais recente sumário mineral emitido pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (Lima & Neves 2016), que apresenta o comportamento dessas substâncias para o ano de 2014. Esse sumário apresenta as estatísticas para os seguintes recursos da construção civil: areia para a construção civil, brita e cascalho, bentonita, cal, caulim, cimento e vermiculita). A Tabela 4 apresenta os principais dados de cada uma dessas substâncias. A Figura 21 apresenta a produção bruta desses produtos no ano de 2014 no Brasil.

Tabela 4. Síntese dos dados nacionais referentes aos principais agregados para a construção civil no Brasil em 2014. Os dados disponíveis para argila se referem à Bentonita (B), Caulim (C) e Vermiculita (V). Os valores estão arredondados. AF: areia fina; AM: areia média; AG: areia grossa; CB: calcário bruto; n.i: dado não informado. Fonte: Sumário Mineral Brasileiro (Lima & Neves 2016).

Substância Produção

(103 t)

Importação

(103 t)

Gasto

(103 US$)

Exportação

(103 t)

Receita

(103 US$)

Preço médio

no Brasil (R$/t)

Areia para construção civil 391.766 n.i n.i n.i n.i AF: 32,84
AM: 35,91
AG: 34,52
Brita e Cascalho 308.829 202 5.216 76 2.365 Brita (tipo 2): 51,10
Cal CB: 130.000 64.800 7.84 9.620 1.138 Cal virgem: 262,68
Cal: 8.152 Cal hidratada: 298,51
Cimento 71.220 2.911 190.001 183 14.468 n.i
Argilas

(B, C e V)

B: 405 B: 116 B: 23 B: 16 B: 11.367 B: 40,07
C: 1.800 C: 23.610 C: 9.888 C: 1.930 C: 209.930 C: n.i
V: 5,6 V: 0,002 V: 2 V: 35 V: 10.625 V: n.i

Figura 21. Produção bruta de recursos para a construção civil no Brasil em 2014. Os dados foram retirados do mais recente sumário mineral brasileiro (Lima & Neves 2016), que fornece as estatísticas referentes a areia para construção civil (representa 43,3% da produção nacional), argilas (bentonita, caulim e vermiculita; 0,25%), brita e cascalho (34,1%), calcário (14,4%) e cimento (7,9%). Ao todo, esses produtos somaram 904.076.177 toneladas.

5.1. Areia para construção civil

As reservas de areia no Brasil são abundantes e o sumário mineral (Lima & Neves 2016) não apresenta valores que indicam a quantidade dessa substância no território nacional.

Com relação à produção bruta anual em 2014, os dados apontaram que o Brasil produziu 391.765.746 toneladas de areia para construção civil (Tabela 4), um valor que representa um acréscimo de 3,8% a mais do que em relação ao produzido no ano anterior. Para efeito de comparação com países mais desenvolvidos, no ano de 2014 os EUA produziram 911.000.000 toneladas (Lima & Neves 2016).

5.1.1. Produção Interna

Todas as unidades da federação são produtoras de areia. São Paulo é o estado com maior produção, concentrando, em 2014, 22% do total nacional. Em segundo lugar se encontra o estado de Minas Gerais, com 11%, seguido por Rio de Janeiro (7%), Paraná e Bahia (6%) e Rio Grande do Sul e Pernambuco (5%).

O preço da areia varia conforme a granulometria (fina, média ou grossa; Tabela 4). Em 2014, a tonelada da areia fina foi o produto mais barato, com preço médio de R$ 32,84. O preço médio mais alto foi registrado para a areia média, valorada em R$ 35,91 (Tabela 4). Nesse ano, os preços mais altos foram registrados no Distrito Federal e nas cidades de Goiânia, Belo Horizonte, Recife, Florianópolis e Rio de Janeiro (Lima & Neves 2016).

5.1.2. Consumo Interno

Após a retirada do material dos depósitos e beneficiamento, a areia para construção civil é lançada no mercado para alimentar diferentes centros consumidores (Figura 22). Cerca de 35% da produção é destinada para a confecção de argamassas, 20% para o fabrico do concreto, 15% para construtoras, 10% para o setor de produtos pré-fabricados, 10% para revendedores/lojas de material de construção, 5% para pavimentadoras/usinas de asfalto e 5% para outros centros consumidores (Quaresma 2009a, Lima & Neves 2016).

Figura 22. Proporção da quantidade de areia utilizada pelos principais segmentos da construção civil no Brasil. Fonte: Quaresma (2009a) e Sumário Mineral Brasileiro (Lima & Neves 2016).

5.2. Brita e cascalho

O sumário mineral brasileiro (Lima & Neves 2016) divulga os dados de brita e cascalho em conjunto, não sendo possível verificar os valores individuais para cada um desses agregados. O tipo de rocha utilizada para a confecção de brita depende das características geológicas do local. No estado de São Paulo, por exemplo, 73% da produção de britas ocorre em granitoides e gnaisses (Ficha 6), 23% são britas de basalto ou diabásio (Ficha 6), 3% de calcário ou dolomito (Ficha 1) e 1% são provenientes de quartzito (Ficha 5) ou cascalho. As reservas de brita e cascalho no Brasil são abundantes e o sumário mineral brasileiro (Lima & Neves 2016) não apresenta valores que indicam a quantidade dessas substâncias no território nacional.

Com relação à produção anual em 2014, os dados apontaram que o Brasil produziu 308.828.880 toneladas (Tabela 4) desses materiais, um valor que representa um acréscimo de 5,2% a mais do que em relação ao produzido no ano anterior. Para efeito de comparação com um país mais desenvolvido, os EUA produziram 1.260.000.000 toneladas de brita no mesmo ano (Lima & Neves 2016).

5.2.1 Produção Interna

À exceção do Acre, que importa de estados vizinhos para seu consumo, todos os estados da federação são produtores de brita e cascalho. Conforme os dados levantados, São Paulo foi o estado com maior produção, concentrando, em 2014, 26,7% do total nacional. Em segundo lugar, Minas Gerais participou com 10,7%, seguido por Rio de Janeiro (8,1%) e Paraná (6,5%; Lima & Neves 2016).

Com relação aos preços, de 2013 para 2014 os valores médios para brita mantiveram-se estáveis. A tonelada da Brita 2 (Figura 17), por exemplo, foi comercializada em 2013 a R$ 51,2, ao passo que em 2014 foi vendida a R$ 51,1. Apesar desta média estável, detectou-se queda dos preços praticados nas capitais de diversas unidades da federação, com destaque para o Maranhão, Amazonas, Mato Grosso, Piauí e Goiás. Em contrapartida houve aumento de preços em Mato Grosso do Sul, Tocantins, Pará, Espírito Santo, Acre e São Paulo. Os maiores preços são encontrados nos estados do Acre, Roraima, Rondônia e Amapá, o que indica a existência de problemas de abastecimento de diversas ordens, a maior parte deles relacionada à inexistência de jazidas de rochas em condições de exploração no entorno das grandes cidades (Lima & Neves 2016).

5.2.2. Importação/Exportação

As importações de brita e cascalho em 2014 totalizam 202.396 toneladas, com valor agregado de US$ 5.216.096,00 (Tabela 4). Tais produtos foram provenientes do Uruguai (59,2% do total importado), da Turquia (39%) e o restante (1,8%) de países diversos.

Nesse mesmo ano, 76.403 toneladas de brita e cascalho, valoradas em US$ 2.365.084,00 (Tabela 4), foram exportadas para países como Bolívia (86,6% do total exportado), Uruguai (12,7%) e o restante para Paraguai, Peru e China (Lima & Neves 2016).

5.2.3. Consumo Interno

O consumo de brita e cascalho se dá principalmente na indústria da construção, compreendendo os setores de edificações e de obras de infraestrutura. O consumo de brita e cascalho está dividido em 32% para o fabrico do concreto, 24% para construtoras, 14% para produtos pré-fabricados, 10% para revendedores/lojas de construção civil, 9% para pavimentadoras/usinas de asfalto, 7% para órgãos públicos e 4% para outros segmentos consumidores (Figura 23; Quaresma 2009b, Lima & Neves 2016).

Figura 23. Proporção da quantidade de brita utilizada pelos principais segmentos da construção civil no Brasil. Fonte: Quaresma (2009b) e Sumário Mineral Brasileiro (Lima & Neves 2016).

5.3. Cal

O sumário mineral brasileiro (Lima & Neves 2016) não divulga as estatísticas referente ao calcário bruto como fonte de agregados. O que é disponibilizado são informações acerca de produtos subsidiários provenientes do calcário e do dolomito, tais como a cal e pó de calcário com finalidades agrícolas. Tendo em vista o foco na construção civil, serão abordados apenas os dados referentes à produção da cal no Brasil.

As reservas lavráveis de calcário no Brasil estão relativamente distribuídas em todos os estados, sendo Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná e Goiás os que mais se destacaram no cenário nacional. Juntos, esses estados detêm 60% de todo o calcário de todo o país. Segundo a estatística apresentada no capítulo referente à cal do sumário mineral brasileiro (Lima & Neves 2016), o valor da produção anual de calcário bruto no país, em 2014, foi de 130 milhões de toneladas e a produção de cal totalizou 8.152.000 toneladas (Tabela 4).

Em relação à produção mundial de cal, a China continuou dominando o mercado em 2014, com uma participação de 65,7% de todo o montante mundial. O restante da produção está disseminado em mais de 20 países, sendo a participação brasileira equivalente a 2,3% do total (Lima & Neves 2016).

5.3.1. Produção Interna

Em 2014 a produção de cal no Brasil experimentou um decréscimo de 3,6% em relação a 2013, o que pode estar associado com a queda da atividade econômica do país. Dentre toda a produção de cal em 2014, 76% foram de cal virgem, ao passo que 24% de cal hidratada. O ano de 2014 registrou queda no preço da cal, sendo a cal virgem com preço médio de R$ 262,68 e a cal hidratada vendida a R$ 298,51 (Tabela 4; Lima & Neves 2016).

5.3.2. Importação/Exportação

As importações de cal virgem e cal hidratada em 2014 somaram 64.800 toneladas, valoradas em aproximadamente US$ 7,8 milhões (Tabela 4). Em relação ao ano de 2013, essa demanda representou um aumento de mais de 200%. O principal país que forneceu esses produtos para o Brasil foi o Uruguai (94,5%).

As exportações brasileiras no ano de 2014 totalizaram 9.620 toneladas, valorados em aproximadamente US$ 1,14 milhão (Tabela 4). Os principais destinos foram o Paraguai e o Uruguai (Lima & Neves 2016).

5.4. Cimento

Apesar de o cimento (mistura entre calcário pulverizado e argila) não ser um recurso mineral natural (Figura 6), o sumário mineral brasileiro (Lima & Neves 2016) fornece os dados estatísticos referentes ao comportamento desse recurso para construção civil.

O total de cimento produzido mundialmente em 2014 atingiu 4.180.000 toneladas, sendo a Ásia o maior produtor, com 75% desse montante. Só a China foi responsável pela produção de 2.500.000 toneladas (59,8% do total mundial). O Brasil foi o maior produtor da América Latina, com 71.220 toneladas de cimento (Tabela 4), o que representou 1,7% do total mundial (Lima & Neves 2016).

Como é um produto manufaturado do calcário e da argila, e o transporte do produto é caro, normalmente a produção do cimento ocorre em áreas próximas à essas jazidas, bem como próximo aos centros consumidores (Lima & Neves 2016).

5.4.1. Produção Interna

Segundo o sumário mineral brasileiro (Lima & Neves 2016), no Brasil existem mais de quinze grupos industriais que produzem cimento, sendo que seis deles são os grandes produtores, com 80% do montante nacional. Em 2014, a região sudeste foi a maior produtora, com cerca de 47,3% da produção nacional de cimento. Em seguida, vieram as regiões Nordeste (21,4%), Sul (14,6%), Centro-Oeste (12,2%) e Norte (4,5%; Figura 24).

Figura 24. Proporção da quantidade de cimento produzido em cada região brasileira no ano de 2014. Ao todo, o Brasil produziu 72.220.000 toneladas de cimento nesse ano. Fonte: Sumário Mineral Brasileiro (Lima & Neves 2016).

5.4.2. Importação/Exportação

Em 2014, o Brasil importou 2.911.000 toneladas de cimento (tipo não-pulverizado, tipo Portland comum e Portland branco), valorados em US$ 190 milhões (Tabela 4). Dentre os países fornecedores destacam-se: Espanha, China, Turquia, Portugal, México e Grécia (Lima & Neves 2016).

Em 2014, a quantidade exportada pelo Brasil nesse ano foi de 183.000 toneladas, responsáveis por uma receita de US$ 14,5 milhões (Tabela 4). Os cimentos não-pulverizados e Portland comum foram os principais tipos e os principais países de destino foram: Bolívia e Paraguai (Lima & Neves 2016).

Em 2014, o consumo de cimento seguiu a produção nacional: as regiões com maior produção (Figura 24), foram as maiores consumidoras. O Sudeste consumiu 43,9%, o Nordeste 22,7%, a região Sul 16,3%, o Centro-Oeste 9,9% e a região Norte 7,2% (Lima & Neves 2016). Isso reflete uma das principais características dos agregados para a construção civil, que é o fato de serem recursos gerados próximos aos centros consumidores, devido ao alto custo envolvido no transporte desses materiais.

Em relação ao perfil de distribuição, em 2014, 50,7% do cimento produzido foram para os revendedores/lojas de construção civil, 28,7% para os consumidores industriais (indústrias de concreto, artefatos, argamassas etc.) e 12,9% foram para as construtoras, empreiteiras, prefeituras e órgãos públicos (Lima & Neves 2016).

5.5. Argilas (bentonita, caulim e vermiculita)

O sumário mineral brasileiro não divulga os dados referentes à produção bruta de argila no país, de modo que as informações são divididas nos tipos específicos: caulim, vermiculita e bentonita.

As reservas nacionais de bentonita ocorrem, principalmente, nos seguintes estados: Paraná, São Paulo, Paraíba e Bahia. Muito em função da geologia da região e da intensa atividade tropical intempérica, as reservas de caulim concentram-se em maiores quantidades nos estados do Pará, Amapá e Amazonas. A vermiculita, por sua vez, ocorre em regiões diversas e as principais reservas nacionais se concentram nos estados de Goiás, Paraíba, Bahia, Piauí e Pernambuco (Lima & Neves 2016).

Com relação à produção anual, os dados apontaram que, em 2014, o Brasil produziu 405.169 toneladas de bentonita, 1.800.000 toneladas de Caulim e 56.444 toneladas de vermiculita (Tabela 4; Lima & Neves 2016).

No ano de 2014, o país que mais produziu bentonita no mundo foram os Estados Unidos, com 4.660.000 toneladas (38,6% da produção mundial). Com relação ao caulim, o Uzbequistão dominou a produção, com 7.000.000 toneladas (17,5% do mundo). A vermiculita, por sua vez, foi mais produzida na África do Sul (130.000 toneladas, que representam 32% da oferta mundial; Lima & Neves 2016).

5.5.1. Produção Interna

Em 2014, os maiores estados produtores de bentonita do Brasil foram Paraíba (60,8%) e Bahia (39,2%). A maior produção de caulim se situa na região Norte, sendo o estado do Pará o maior produtor, com cerca de 80% do total produzido. Em relação à vermiculita, Goiás foi o maior produtor nacional, com cerca de 92% (Lima & Neves 2016).

Com relação aos preços, a bentonita in natura foi comercializada no Brasil com preço médio de R$ 40,07 a tonelada (Tabela 4). A tonelada do caulim foi vendida para o mercado externo com preço médio de US$ 108,74. A tonelada da vermiculita, por sua vez, foi vendida para o mercado externo com preço médio de US$ 306,49 (Lima & Neves 2016). Com relação a essas últimas substâncias, o sumário mineral não informa o valor do preço médio comercializado no Brasil em 2014.

5.5.2. Importação/Exportação

Com relação à importação em 2014, o Brasil adquiriu 115.653 toneladas de bentonita bruta, valoradas em US$ 23.409.000,00 (Tabela 4). Os principais países fornecedores dessa argila para o Brasil foram: Argentina, Índia, EUA, Uruguai e Espanha.

Com relação ao caulim, o Brasil importou 23.610 toneladas em 2014, o que representou um gasto de US$ 9.888.000,00 (Tabela 4). Os principais países fornecedores de caulim para o Brasil foram: EUA, Reino Unido, Barbados, China e Alemanha. Em 2014, O Brasil importou 2 toneladas de vermiculita, valoradas a um preço médio de US$ 2.000,00. Os países fornecedores foram Turquia e Argentina (Lima & Neves 2016).

Em se tratando de exportações dessas argilas em 2014, o Brasil exportou 11.367 toneladas de bentonita bruta, valoradas em US$ 11.367.000,00 (Tabela 4). Os principais países de destino da bentonita bruta foram: África do Sul, Argentina, Colômbia, Quênia e Chile. A exportação de caulim atingiu 1.930.000 toneladas, valoradas em US$ 209.930.000,00 (Tabela 4). Os principais países de destino das exportações de caulim foram: Bélgica, Estados Unidos, Canadá, Finlândia e Itália. A exportação de vermiculita do Brasil em 2014 se resumiu em 34.667 toneladas, totalizando uma receita de US$ 10.625.000,00 (Tabela 4; Lima & Neves 2016).

5.5.3. Consumo Interno

Segundo o sumário mineral brasileiro (Lima & Neves 2016), os principais usos de bentonita foram para extração e beneficiamento de minerais, extração de petróleo e gás, fundição, filtros, pelotização, graxas e lubrificantes e construção civil. Os principais estados consumidores em 2014 foram: São Paulo (41,1%), Paraná (14%), Minas Gerais (12,3%), Santa Catarina (11%), Goiás (6,5%), Rio Grande do Sul (3,2%) e Bahia (1,1%).

No Brasil, o caulim tem utilização nas indústrias de cimento, cerâmicas brancas e de papel. O sumário mineral brasileiro (Lima & Neves 2016) não informa quais foram os principais estados consumidores.

A vermiculita produzida no Brasil em 2014 teve como principal destino o abastecimento do mercado de agricultura (87% da produção), sendo utilizada como corretivos de solos. As demais destinações variaram entre usos na construção civil e fabricação de isolantes e acústicos. O maior consumo foi registrado no Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraíba e Minas Gerais (Lima & Neves 2016).

6. ASPECTOS ECONÔMICOS DOS AGREGADOS PARA CONSTRUÇÃO CIVIL EM MINAS GERAIS

Os dados econômicos disponíveis para os agregados da construção civil em Minas Gerais podem ser verificados no anuário mineral de Minas Gerais (DNPM 2017a). Esse relatório mostra, entre outros dados, os valores da produção bruta de cada substância e a quantidade de minas disponíveis para os anos de 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014 no estado.

A produção bruta anual se refere à quantidade anual de material produzido obtido diretamente da mina, sem qualquer tipo de beneficiamento. Com relação às minas, o anuário estadual (DNPM 2017a) as classifica quanto ao porte e quanto a modalidade. As minas classificadas como de grande porte são aquelas com produção bruta anual maior do que 1.000.000 toneladas, as de médio porte são aquelas com produção anual entre 100.000 e 1.000.000 toneladas, as de pequeno porte são aquelas entre 10.000 e 100.000 toneladas e as minas micro, por sua vez, são aquelas com produção bruta anual inferior a 10.000 toneladas. Com relação à modalidade, as lavras, são classificadas como mina de céu aberto, mina mista (céu aberto e subterrânea) ou mina subterrânea.

É característico do setor de recursos minerais empregados na civil (areia, argilas, brita, cascalho, saibro e calcário), as minas serem a céu aberto e de portes variados, porém com presença de um grande número de micro e pequenas minas espalhadas pelo estado (DNPM 2017a).

No anuário mineral estadual (DNPM 2017a), os dados referentes aos recursos para a construção civil estão apresentados para as seguintes substâncias: areia, argilas comuns, plásticas, refratárias, ocre, caulim, calcário, dolomito, rochas britadas e saibro. A Figura 25 mostra a porcentagem da produção para esses recursos, sendo os valores de areia e saibro, todas as argilas, calcário e dolomito agrupados em conjunto.

Figura 25. Produção bruta de recursos para a construção civil em Minas Gerais para o ano de 2014. Os dados foram retirados do mais recente anuário mineral estadual (DNPM 2017a), que fornece as estatísticas referentes aos diversos tipos de argilas (comuns, plásticas, refratárias, ocre e caulim; 4,3%), areia e saibro (7,8%), britas e cascalho (25,9%) e calcário e dolomito (61,9%). Ao todo, esses produtos somaram 82.384.511 toneladas.

As figuras 26 e 27 mostram a evolução da produção bruta desses materiais entre os anos de 2010 a 2014 no estado de Minas Gerais (DNPM 2017a). Para todas as substâncias, houve um relativo aumento gradativo da quantidade produzida entre esses anos.

Figura 26. Evolução da produção bruta de areia (com saibro incluído) e argilas (comuns, refratárias, plásticas, ocre e caulim) entre os anos de 2010 a 2014 no estado de Minas Gerais. Fonte: anuário mineral estadual (DNPM 2017a).

Figura 27. Evolução da produção bruta de calcário (com dolomito incluído) e demais rochas para brita (com cascalho incluído) entre os anos de 2010 a 2014 no estado de Minas Gerais. Fonte: anuário mineral estadual (DNPM 2017a).

Com relação ao número de minas dos recursos minerais para a construção civil em Minas Gerais (algumas delas plotadas no mapa da Figura 19), a Figura 28 mostra a evolução do número total (minas de porte grande, médio, pequeno ou micro) registrado pelo anuário mineral do estado (DNPM 2017a) entre os anos de 2010 a 2014. Nesse período, o número de minas de areia (saibro também contabilizado) aumentou consideravelmente, de 361 em 2010, para 609 em 2014 (Figura 28), sendo a maioria delas (452) consideradas de porte micro nesse último ano. O número de minas de argila aumentou de 179 em 2010, para 240 em 2014 (Figura 28), sendo a maioria delas (194) também consideradas de porte micro nesse último ano. O número de minas de calcário (dolomito também incluso) aumentou gradativamente de 80 para 91 entre 2010 e 2014 (Figura 28), sendo 17 de grande porte, 27 de porte médio, 21 de porte pequeno e 25 de porte micro, em 2014. O número de minas para as demais rochas para brita manteve-se relativamente estagnado entre esse período e, em 2014, o estado contabilizou 157 minas, sendo 2 de grande porte, 44 de porte médio, 61 de pequeno porte e 50 de porte micro (DNPM 2017a).

Figura 28. Evolução da quantidade total de minas de areia (com saibro incluído), argilas (comuns, plásticas, refratárias, ocre e caulim), calcário (com dolomito incluído) e demais rochas para brita (com cascalho incluído) registradas em Minas Gerais, entre os anos de 2010 a 2014. Fonte: anuário mineral estadual (DNPM 2017a).

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