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1. ASPECTOS GERAIS

Os primeiros diamantes foram encontrados na Índia cerca de 2.000 a.C. Desde então, este mineral é aproveitado gemologicamente por suas características físicas únicas (Figura 1). Da antiguidade até os tempos atuais, nenhum outro mineral exerceu nas pessoas tanta paixão e ambição, tornando-se assim um símbolo de riqueza e poder. De tal maneira, provavelmente os nativos hindus (dravidians) conheciam esse mineral precioso já no oitavo século a.C., e introduziram a medida de peso “quilate” (ou carat em inglês – de símbolo “ct”), porque pensavam que ele se originava de uma certa árvore cuja semente, a cattie, pesava mais ou menos 0,2 g (Chaves & Chambel 2003).

Figura 1. Megacristal de diamante africano sob observação ótica (fonte: The Diamond Works Institute).

Ainda que os dados a respeito da descoberta do diamante no Brasil variem de acordo com os diversos historiadores, segundo Chaves & Chambel (2003) parece certo que as primeiras pedras foram recuperadas na Serra do Espinhaço, norte de Minas Gerais, na região do “Serro Frio”. Barbosa (1991) relata que tal encontro ocorreu em 1714, no Rio Pinheiro, imediações do Arraial do Tejuco (atual município de Diamantina). Acredita-se que muitos diamantes foram contrabandeados para a Europa, até que a coroa portuguesa tomasse controle da produção e comercialização do mineral, em 1730.

Tanto na Índia como no Brasil, os diamantes eram lavrados em depósitos de rio, ou aluvionares. O Brasil foi por quase 150 anos o maior produtor mundial de diamantes, até que um garoto de 15 anos encontrou sem querer na margem do rio Orange, África do Sul (atual República Sul-Africana) um grande diamante, pesando 21,25 ct, depois batizado de “Eureka”. A partir daí esse país experimentou um boom na mineração desta pedra preciosa e passou a dominar por mais de 100 anos a produção mundial de diamantes (Chaves & Chambel 2003). Entretanto, desde a década de 1990 ele vem sendo progressivamente sendo superado por vários outros países.

Devido a sua alta dureza, o diamante vem sendo aplicado também para outras funções que não seja a ornamentação pessoal. As mais tradicionais aplicações dizem respeito às indústrias de instrumentos de corte e perfurações de rochas, que ganhou forte impulso com o incremento da indústria petrolífera durante o século 20. Em temos mais recentes, tem sido utilizado também em dispositivos eletro-ópticos em ambientes hostis, como em reatores nucleares e no espaço, e em diversos dispositivos eletrônicos, como telas de LCD e células de captação de luz solar, dentre muitas outras (Chaves & Chambel 2003).

1.1. Mineralogia

O diamante é constituído por carbono puro (C), assim como o mineral grafita, entretanto a organização dos átomos em suas redes cristalinas é distinta, sendo que o diamante se cristaliza no sistema cúbico (ou isométrico), enquanto a grafita apresenta cristalização no sistema hexagonal (Figura 2). Existe ainda uma outra forma natural de carbono puro, designada lonsdaleíta, que é encontrada apenas em meteoritos, e por isso (erroneamente) é chamada de “diamante” interestelar (Chaves & Chambel 2003). As principais formas apresentadas pelos cristais são octaedros, cubos e rombododecaedros, embora transições entre estas também sejam verificadas (Figura 3).

Figura 2. As diferentes estruturas cristalinas apresentadas pelo carbono na natureza, com seus respectivos espaçamentos interatômicos. A) Diamante; B) Grafita; C) Lonsdaleíta (fonte: Harlow 1998).

Figura 3. As principais formas cristalográficas nas quais o diamante se cristaliza. A) Cubo; B) Octaedro; C) Rombododecaedro (imagens do autor).

Esse mineral possui densidade que varia entre 3,51 e 3,55 g/cm3 e tem dureza 10 na escala de Mohs, a maior dureza que se conhece para um mineral. Seu brilho é chamado de adamantino, com forte dispersão da luz em seu interior, e suas cores naturais variam do incolor ao amarelo, azul, verde, rosa e âmbar. As variedades que ocorrem como agregados cristalinos, denominadas carbonados e borts, são os diamantes de cores preta a preta-acinzentada, opacas, e são mais frágeis que os cristalinos, sendo somente utilizados industrialmente como material abrasivo.

Os diamantes primários podem ser encontrados em dois tipos distintos de rochas, conhecidas como kimberlito e lamproíto (Figura 4), que se originam em ambientes de grande pressão e temperatura no manto terrestre. Essa origem foi confirmada quando se encontraram as primeiras chaminés vulcânicas em Kimberley, na África do Sul. Depois que a erosão causa a desagregação dessas rochas, os diamantes são integrados aos ambientes secundários, podendo ser encontrados em areias e cascalhos dos leitos de rios, embora sempre preservando perfeitamente todas as suas propriedades físicas originais.

Figura 4. Cristal de diamante octaédrico em sua rocha matriz kimberlítica (fonte: Foro de Minerales).

1.2. Depósitos Primários

Os kimberlitos, em termos mundiais, são muito mais abundantes que os lamproítos. Essas rochas ígneas constituem-se de uma matriz composta essencialmente de olivina, flogopita, serpentina e carbonato, tendo como principais minerais acessórios granada piropo, diopsídio, e ilmenita magnesiana, constituindo o diamante uma fase acessória muito rara. Os três primeiros minerais são conhecidos como KIMs (kimberlite indicator minerals), sendo os principais utilizados em campanhas de rastreamento e pesquisa de kimberlitos (Mitchell 1986).

Os pipes (ou chaminés) kimberlíticos (Figura 5) são circulares a ovais em planta e alcançam de algumas dezenas de metros até cerca de 1 km de diâmetro. Essas rochas podem conter fragmentos das rochas (“xenólitos”) por onde a intrusão passou até chegar à superfície terrestre, principalmente xenólitos de eclogito e peridotito, os quais provêm de grandes profundidades no manto, onde o diamante se forma, ou mesmo xenólitos de rochas da crosta terrestre, coletados em profundidades mais próximas da superfície (Mitchell 1986).

Figura 5. Modelo esquemático de formação e de intrusão de uma intrusão kimberlítica com diamantes na superfície terrestre e sua mineração (fonte: modificado de Gemas do Brasil).

Os kimberlitos têm natureza predominantemente intrusiva (embora lavas kimberlíticas também sejam reconhecidas). Na maior parte essas rochas formam agrupamentos de dezenas de corpos, sempre em áreas cratônicas continentais (escudos antigos e plataformas estáveis) aparentemente controlados por fraturas muito profundas da crosta. Tais rochas possuem idades desde proterozoicas até cretácicas; a maioria pertence a esse último período, parecendo que estão geneticamente associadas ao rompimento do paleocontinente Gondwana (Helmstaedt et al. 2010, Stachel & Luth 2015).

1.3. Depósitos Secundários

Os depósitos secundários de diamante consistem em aluviões e coluviões, recentes ou muito comumente antigos, que abrigam diamantes liberados a partir da alteração e desagregação dos corpos kimberlíticos. Os diamantes são particularmente resistentes ao intemperismo (Figura 6) e passam aos depósitos coluvionares e aluvionares, de onde podem ser recuperados por processos de “garimpagem” ou de lavra mecanizada.

Figura 6. Diamantes de fonte aluvionar (fonte: Sinese).

Os minerais associados nos aluviões são mais resistentes, como quartzo, ouro, cianita, rutilo, magnetita e hematita. Além destes, a granada piropo, a ilmenita magnesiana e o diopsídio são particularmente característicos de quase todos os kimberlitos e, portanto, são minerais típicos de depósitos diamantíferos. Antigamente, esses e outros minerais “acompanhantes” do diamante em depósitos aluvionares eram conhecidos como “minerais satélites”, mas tal terminologia não representava qualquer associação genética entre eles e o diamante (Chaves 1997). Portanto, somente os últimos três minerais citados são satélites verdadeiros e para se evitar equívocos, somente esses três devem ser chamados de minerais indicadores de kimberlitos.

2. DEPÓSITOS E OCORRÊNCIAS EM MINAS GERAIS

O estado de Minas Gerais é particularmente rico em diamantes. Depósitos desse bem mineral são conhecidos em todas as regiões do estado, agrupando-se em quatro maiores que são designadas como “províncias diamantíferas” (Chaves & Chambel 2003): Serra do Espinhaço, Oeste São Francisco, Alto Paranaíba e Serra da Canastra (Figura 7). Entretanto, além dessas grandes regiões, existem ainda diversas ocorrências pontuais espalhadas por todo o estado.

Figura 7. Províncias diamantíferas de Minas Gerais no âmbito da cartografia geográfica 1:100.000. Folhas topográficas: 1, Padre Carvalho; 2, Botumirim; 3, Grão Mogol; 4, Jequitaí; 5, Bocaiúva; 6, Itacambira; 7, Minas Novas; 8, Serra do Cabral; 9, Curimataí; 10, Carbonita; 11, Corinto; 12, Diamantina; 13, Rio Vermelho; 14, Presidente Kubitschek; 15, Serro; 16, Baldim; 17, Conceição do Mato Dentro; 18, Santa Fé de Minas; 19, Canabrava; 20, Serra do Jatobá; 21, João Pinheiro; 22, Rio do Sono; 23, Chapadão dos Gerais; 24, Presidente Olegário; 25, Serra das Almas; 26, Três Marias; 27, Carmo do Paranaíba; 28, Serra Selada; 29, São Gotardo; 30, Dores do Indaiá; 31, Luz; 32, Guarda Mor; 33, Catalão; 34, Coromandel; 35, Lagamar; 36, Estrela do Sul; 37, Monte Carmelo; 38, Patos de Minas; 39, Nova Ponte; 40, Perdizes; 41, Ibiá; 42, Uberaba; 43, Sacramento; 44, Desemboque; 45, Delfinópolis; 46, Vargem Bonita; 47, Franca.

Os diamantes na maior parte são lavrados a partir de depósitos secundários, com idades distribuídas desde o Mesoproterozoico até o recente. Algumas centenas de kimberlitos ou rochas parentais, de idade cretácica, são conhecidos principalmente nas províncias Alto Paranaíba e Serra da Canastra, embora os reais potenciais diamantíferos de tais rochas ainda sejam objeto de controvérsias. O maior diamante brasileiro, designado “Presidente Vargas” com 726 ct, foi extraído em 1938 do rio Santo Antônio do Bonito, em Coromandel, Província Alto Paranaíba (Reis 1959).

Os dados sobre os depósitos de diamantes de Minas Gerais foram tabulados, agrupados especificamente de acordo com suas respectivas províncias diamantíferas, ou como ocorrências isoladas. Uma organização desses depósitos no espaço geográfico de Minas Gerais foi previamente fornecida em Alecrim (1982) e Chaves & Chambel (2003). A Figura 8 e a Tabela 1 mostram as principais ocorrências de diamante no estado de Minas Gerais

Figura 8. Principais ocorrências de diamante no estado de Minas Gerais. A numeração se refere aos itens da Tabela 1. Mapa geológico modificado de Pinto & Silva (2014).

Tabela 1. Principais ocorrências de diamante no estado de Minas Gerais, localizadas na Figura 8.

DESCRIÇÃO TOPONÍMIA MUNICÍPIO STATUS Longitude Latitude
1 Garimpo do Bandeira Distrito Sede de Frutal Frutal Garimpo ativo -48,762398 -20,125162
2 Rio Uberaba Distrito Sede de Uberaba Uberaba Garimpo inativo -48,13748 -19,704383
3 Rio Araguari Distrito Sede de Nova Ponte Nova Ponte Garimpo ativo -47,763477 -19,10884
4 Faz. Garimpinho Rio Araguari Nova Ponte Garimpo ativo -47,764733 -19,091783
5 PLG Bagagem Distrito de Dolearina Estrela do Sul Garimpo ativo -47,735789 -18,591046
6 Garimpo do Gino Rio Dourados Abadia dos Dourados Garimpo inativo -47,443717 -18,467801
7 Santa Rita da Estrela Rio Bagagem Estrela do Sul Garimpo inativo -47,705838 -18,708859
8 Pororoca Rio Bagagem Estrela do Sul Garimpo ativo -47,697875 -18,705082
9 Rio Bagagem Distrito Sede de Romaria Romaria Garimpo inativo -47,651459 -18,832321
10 Mina Romaria-GAR Distrito Sede de Romaria Romaria Mina ativa -47,580045 -18,880707
11 Fundão Distrito Sede de Perdizes Perdizes Garimpo ativo -47,386901 -19,238625
12 Rib. da Capetinga 1 Distrito Sede de Capetinga Capetinga Garimpo inativo -47,067296 -20,62626
13 Faz. Ponte Nova Rib. das Pedras Capetinga Mina ativa -47,044095 -20,632266
14 Kimb. Canastra-8 Rio Santo Antônio Delfinópolis Ocorrência -46,868162 -20,264752
15 Faz. do Garimpo Rio Santo Antônio Delfinópolis Garimpo inativo -46,863662 -20,264574
16 Kimb. Canastra-1 Cor. Cachoeira São Roque de Minas Mina inativa -46,550237 -20,342609
17 Cach. Casca d’Anta Rio São Francisco São Roque de Minas Ocorrência -46,52208 -20,30085
18 Faz. Paiolzinho Rio São Francisco São Roque de Minas Garimpo inativo -46,509549 -20,321917
19 Faz. dos Bentos Rio São Francisco São Roque de Minas Garimpo inativo -46,405138 -20,330195
20 Rio Samburá Distrito Sede de São Roque de Minas São Roque de Minas Garimpo inativo -46,24646 -20,171874
21 Rio Aiuruoca Distrito Sede de Aiuruoca Aiuruoca Garimpo inativo -44,597402 -21,985331
22 Intrusão Abel Régis Faz. Abel Régis Patos de Minas Ocorrência -46,583639 -18,686303
23 Rib. Areado Pindaíbas Patos de Minas Garimpo inativo -46,138345 -18,710409
24 Abaetezinho Rio Abaeté Tiros Garimpo inativo -45,979194 -18,896705
25 Faz. Tabocas Cór. Confusão Matutina Garimpo inativo -46,052832 -19,174685
26 Rio Indaiá Distrito Sede de Tiros Tiros Garimpo inativo -45,652577 -18,847384
27 Faz. Barroso Rio Indaiá Biquinhas Garimpo inativo -45,569764 -18,684934
28 Mina Canastrão Rio Borrachudo Tiros Mina ativa -45,673521 -18,59897
29 Fortaleza-Mina GAR Rio Abaeté São Gonçalo do Abaeté Mina ativa -45,667476 -18,248091
30 Mateus José Rio Abaeté São Gonçalo do Abaeté Garimpo inativo -45,323536 -18,094211
31 Rib. dos Bois Andrequicé Três Marias Garimpo inativo -45,073341 -18,318091
32 Rib. das Almas Distrito Sede de João Pinheiro João Pinheiro Garimpo inativo -45,792584 -17,851479
33 Rio Santo Antônio Olhos-D’Água do Oeste João Pinheiro Garimpo inativo -45,659666 -17,63618
34 Rio do Sono 1 Olhos-D’Água do Oeste João Pinheiro Garimpo inativo -45,705913 -17,553906
35 Cach. de Pirapora Distrito Sede de Buritizeiro Buritizeiro Garimpo inativo -44,953379 -17,357339
36 Rio Acari Distrito Sede de Pintópolis Pintópolis Garimpo inativo -45,26387 -16,176436
37 Cór. das Porteiras Distrito Sede de Pintópolis Pintópolis Garimpo inativo -45,26387 -16,176436
38 Taboa Santa Isabel de Minas São Francisco Garimpo inativo -45,19687 -15,841156
39 Barra Rica Rio Jequitaí Jequitaí Garimpo ativo -44,44741 -17,223555
40 Coruja Distrito Sede de Jequitaí Jequitaí Garimpo ativo -44,419293 -17,233295
41 Boi Morto Distrito Sede de Francisco Dumont Francisco Dumont Garimpo inativo -44,241526 -17,331305
42 Buriti Grande Distrito Sede de Francisco Dumont Francisco Dumont Garimpo inativo -44,153276 -17,371923
43 Papo d’Ema Distrito Sede de Grão Mogol Grão Mogol Garimpo inativo -42,91736 -16,558798
44 Pedra Rica Distrito Sede de Grão Mogol Grão Mogol Garimpo inativo -42,885891 -16,553946
45 Rio Itacambiruçu Váu Cristália Garimpo ativo -42,887307 -16,591563
46 Caçaratiba Rio Jequitinhonha Turmalina Garimpo inativo -43,083143 -17,252698
47 Terra Branca Rio Jequitinhonha Carbonita Garimpo inativo -43,215917 -17,32101
48 Rio Macaúbas Terra Branca Bocaiúva Garimpo inativo -43,32914 -17,358727
49 Rib. da Ilha Três Dias Olhos-d’Água Garimpo inativo -43,358067 -17,353148
50 Pedraria Rio Jequitinhonha Diamantina Garimpo inativo -43,456456 -17,557324
51 Faz. Duas Barras Rio Jequitinhonha Diamantina Garimpo inativo -43,610071 -17,635365
52 Garimpo da Areinha Rio Jequitinhonha Diamantina Garimpo ativo -43,502815 -17,907928
53 João Boa São João da Chapada Diamantina Mina ativa -43,767465 -18,013122
54 Campo Sampaio Novo São João da Chapada Diamantina Garimpo inativo -43,78705 -18,056488
55 Barro/Duro São João da Chapada Diamantina Garimpo inativo -43,750183 -18,086255
56 Rio Pardo Grande Conselheiro Mata Diamantina Garimpo inativo -43,840836 -18,181167
57 Rib. das Varas Cons. Mata Diamantina Garimpo inativo -43,938916 -18,330666
58 Caldeirões Sopa Diamantina Garimpo inativo -43,724339 -18,223263
59 Califórnia Sopa Diamantina Garimpo inativo -43,695505 -18,222165
60 Lavrinha Guinda Diamantina Garimpo inativo -43,682803 -18,251446
61 Pagão São João da Chapada Diamantina Garimpo inativo -43,694714 -18,264811
62 Mendanha Rio Jequitinhonha Diamantina Garimpo inativo -43,511283 -18,135975
63 Boa Vista Extração Diamantina Garimpo inativo -43,493479 -18,272098
64 Serrinha Extração Diamantina Garimpo inativo -43,522138 -18,294324
65 Lages Distrito Sede de Datas Datas Garimpo inativo -43,664947 -18,397033
66 Rib. do Inferno-3 Itaipava Diamantina Garimpo inativo -43,470466 -18,314914
67 Rib. de Datas-Tropinha Distrito Sede de Datas Datas Garimpo inativo -43,663892 -18,447764
68 Acaba-Mundo Rio Jequitinhonha/Extração Diamantina Garimpo inativo -43,442327 -18,287383
69 Lavra do Marzinho Distrito Sede de Datas Datas Garimpo inativo -43,652819 -18,470222
70 Lavra do Soberbo Distrito Sede de Couto de Magalhães de Minas Couto de Magalhães de Minas Garimpo inativo -43,356979 -18,291021
71 Ingleses/Surrão Distrito Sede de Datas Datas Garimpo inativo -43,649136 -18,445943
72 Trilha da Subida Pico do Itambé Santo Antônio do Itambé Garimpo inativo -43,327667 -18,398195
73 Kimb. Maravilhas-3 Faz. Rio Vermelho Pequi Não explotado -44,644688 -19,598454
74 Córrego do Garimpo Cocais Barão de Cocais Garimpo inativo -43,490457 -19,875124
75 Rio São Bento Distrito Sede de Santa Efigênia de Minas Santa Efigênia de Minas Garimpo inativo -42,383616 -18,834744
76 Rio de Janeiro Rio São Francisco Nanuque Garimpo inativo -40,325983 -17,932504

2.1. Província Serra do Espinhaço

2.1.1. Características Gerais e Geologia Básica

A Serra do Espinhaço é uma cadeia montanhosa que se estende por mais que 1.000 km, na direção sul-norte, desde o leste do Quadrilátero Ferrífero (região central de Minas Gerais) até a divisa dos estados da Bahia com o Piauí (Figura 9). Ao longo dessa extensão, diamantes ocorrem em diversas localidades (Figura 7 – destaque em amarelo), além de envolver ainda a Chapada Diamantina, no estado da Bahia. Nessa província, incluem-se os “distritos” diamantíferos de Diamantina, Grão Mogol, Serra do Cabral e Itacambira (Chaves & Karfunkel 2001). A pequena zona diamantífera de Serranópolis de Minas, apesar de insignificante em termos de produção e potencial, devido a sua similaridade geológica, pode também ser incluída na mesma província.

Figura 9. A Serra do Espinhaço em Minas Gerais e Bahia, mostrando as principais localidades produtoras de diamantes. Di, Diamantina; Sc, Serra do Cabral; It, Itacambira; Gm, Grão Mogol; Le, Lençóis. QF, Quadrilátero Ferrífero; CD, Chapada Diamantina (fonte: Chaves 1997).

A região de Diamantina se destaca não só por ser o local onde primeiramente diamantes foram descobertos no país, em 1714, como também por ser responsável pela maior parte da produção brasileira. Nesse contexto, se destaca o rio Jequitinhonha, que nasce na Serra do Espinhaço e corre por longa extensão a leste da mesma, constituindo assim o grande repositório de seus diamantes. Desde os tempos coloniais, quando a lavra era realizada por meio de mão-de-obra escrava (Figura 10A), até tempos mais recentes, com a mineração operada por modernas dragas de alcatruzes (Figura 10B), a bacia do Alto Jequitinhonha certamente constitui-se na mais rica em diamantes do país.

Figura 10. A) Escravos trabalhando em lavra da região de Diamantina (gravura de Spix & Martius 1828). B) Moderna draga operando no depósito aluvionar do rio Jequitinhonha em 1995 (foto cortesia da Rio Novo Mineração).

A Serra do Espinhaço é na maior parte sustentada por quartzitos, com filitos e rochas conglomeráticas subordinadas, além de ocorrências locais de rochas metamagmáticas, todas integrantes do Supergrupo Espinhaço. Na região de Diamantina, o Supergrupo Espinhaço é subdividido nos grupos Diamantina e Conselheiro Mata (Dossin et al. 1990); o primeiro constituído principalmente de depósitos sedimentares continentais e o superior, por depósitos de origem marinha. Tal sedimentação ocorreu numa bacia do tipo rifte, evoluída durante os períodos Paleoproterozoico e Mesoproterozoico (Martins-Neto 1998, 2000).

Os diamantes dessa última área se originaram das rochas conglomeráticas da Formação Sopa-Brumadinho, uma das unidades do Grupo Diamantina (Moraes & Guimarães 1930, Pflug 1965). Rochas primárias como kimberlitos ou lamproítos, mesmo que metamorfizadas, não são conhecidas ao longo do espigão serrano. As principais rochas diamantíferas são conglomerados e brechas daquela formação, que aflora principalmente nas porções serranas mais altas (Figura 11A-B). Tais rochas foram sedimentadas em sistemas fluviais e de leques aluviais, que provavelmente recolheram os diamantes de alguma área a oeste da serra, onde atualmente se situa a bacia do rio São Francisco (Chaves 1997, Chaves et al. 2001).

Figura 11. A) Conglomerado Sopa (Formação Sopa-Brumadinho) típico aflorando na lavra Lavrinha, área de Sopa-Guinda (Diamantina). B) Detalhe da brecha desta formação na lavra Brumadinho, também mineralizada, nesta mesma área. C) Conglomerado Grão Mogol aflorando nas imediações da cidade homônima em discordância sobre quartzito. D) Diamictito basal da Formação Jequitaí ao norte dessa cidade aflorando sobre quartzito do Supergrupo Espinhaço Fotos do autor.

Nas proximidades da cidade de Grão Mogol (Figura 9), as rochas conglomeráticas portadoras de diamantes são conhecidas como Formação Grão Mogol (Figura 11C), e no sistema evolutivo do Rifte Espinhaço podem ser consideradas mais novas que a Formação Sopa-Brumadinho (Chaves et al. 1999a). Na região de Itacambira, rochas conglomeráticas pertencentes à Formação Matão, provavelmente correlatas à Formação Grão Mogol, constituem as fontes dos diamantes, embora diamictitos glaciogênicos da Formação Jequitaí possam ser também mineralizados (Tompkins & Gonzaga 1989, Martins 2006, Chaves et al. 2010).

Na região da Serra do Cabral, os diamantes provavelmente possuem origem em mais de uma rocha fonte. Chaves et al. (2010) reconheceram que somente a fácies basal de metadiamictitos da Formação Jequitaí era diamantífera (Figura 11D). Essa formação era anteriormente conhecida como mineralizada em sua totalidade, desde o trabalho histórico de Derby (1879), tendo mais recentemente uma forte defesa dessa ideia sido dada em diversos estudos (Tompkins & Gonzaga 1989, Gonzaga & Tompkins 1991, Gonzaga et al. 1994).

2.1.2. Depósitos Diamantíferos

A partir de uma distribuição original de rochas kimberlíticas ou lamproíticas, ainda desconhecidas, o aporte dos diamantes deu-se inicialmente nos conglomerados e brechas da Formação Sopa-Brumadinho. Do Proterozoico ao recente, uma complexa história evolutiva multifásica dos depósitos diamantíferos presentes nessa província pode ser sumarizada a partir de dados compilados a partir de estudos de diversos autores (e.g. Pflug 1965, Tompkins & Gonzaga 1989, Chaves 1997, Chaves & Karfunkel 2001, Chaves et al. 2001). Ainda que algumas dessas idades não sejam absolutas, a maioria delas está bem estabelecida por datações radiométricas (caso dos depósitos proterozoicos) ou por fósseis e inferições acerca de grandes eventos climáticos a nível regional (caso dos depósitos fanerozoicos).

A Formação Sopa-Brumadinho (Pflug 1968, Schöll & Fogaça 1979), unidade diamantífera mais antiga desta província, compreende ainda outras litologias como quartzitos, filitos e diversos tipos de rochas magmáticas. Moraes & Guimarães (1930) designaram o “Conglomerado Sopa”, que constitui o principal tipo litológico no âmbito desta formação, lavrado em muitas localidades, como nas lavras Boa Vista e Brumadinho (Figura 12A-B). As brechas, também mineralizadas, são mais raras e lavradas principalmente na área de São João da Chapada, possuindo característicos seixos de cor vermelha em matriz argilosa, como nas lavras do Campo Sampaio, paralisada, e João Boa, ainda em plena atividade (Figura 12C).

Figura 12. A) Conglomerado Sopa com seixos muito grandes, lavrado na lavra Boa Vista (área de Extração). B) Lavra garimpeira rudimentar em atividade na lavra Brumadinho (área de Sopa-Guinda). C) Brecha da Formação Sopa-Brumadinho em plena lavra, na mina João Boa (área de São João da Chapada). D) Na região de Grão Mogol, destaca-se a “Pedra Rica” (Formação Grão Mogol), primeira lavra de diamantes em rocha no mundo. E) Os principais depósitos regionais relacionam-se a aluviões próximos, como os do rio Itacambiruçu, muito encaixados e por isso lavrado com escafandros. Fotos do autor.

Tais rochas diamantíferas possuem certas características particulares de acordo com suas principais áreas de afloramento, a saber: Sopa-Guinda, São João da Chapada, Datas e Extração (Tabela 2).

Tabela 2. Principais aspectos das rochas conglomeráticas diamantíferas da Formação Sopa-Brumadinho nas diversas áreas mineralizadas do Distrito de Diamantina (modificada de Chaves & Svisero 1993).

 

CARACTERÍSTICAS DOS

CONGLOMERADOS

SOPA-GUINDA SÃO JOÃO DA CHAPADA DATAS EXTRAÇÃO
Forma dos corpos lenticular acanalada lenticular lenticular/acanalada
Espessura máxima 12 m 10 m 25 m 100 m (?)
Clastos Classificação polimítico polimítico polimítico
Selecionamento mal Selecionado mal selecionado mal selecionado
Tamanho máximo 0,8 m 0,5 m 0,6 m
Suporte clasto-sustentado clasto-sustentado clasto-sustentado
Arredondamento subarredondados subangulosos subarredondados
Matriz predominante arenosa argilosa areno-argilosa Argilosa

Os conglomerados da região de Grão Mogol, também do Mesoproterozoico, foram reconhecidos como diamantífero anteriormente aos da região de Diamantina, quando foram incipientemente lavrados em vários locais, como na “Pedra Rica” (Figura 12D), nas imediações da cidade (Chaves et al. 2009a, 2013). Tais autores ressaltaram o fato de que tal rocha foi a primeira a ser minerada no mundo para diamantes, embora também constitua um depósito originalmente aluvionar, como o Conglomerado Sopa. No Neoproterozoico, com uma nova redistribuição dos diamantes, se formaram os depósitos de origem glacial da Formação Jequitaí, localmente também diamantíferos, a exemplo do que ocorre na região homônima (Figura 13A).

Figura 13. A) Garimpo de diamantes na região de Jequitaí (lavra da Coruja), onde os serviços desenvolvem-se diretamente sobre um solo elúvio-coluvionar da Formação Jequitaí. B) Conglomerado do Cretáceo Inferior da Formação Abaeté (detalhe abaixo a direita) aflorante ma parte superior da Serra do Cabral, provavelmente diamantífero. C) Terraço alto do rio Jequitaí, garimpado na localidade de Panazeiro, nas proximidades da cidade homônima. D) Garimpo em aluvião recente do rio Jequitaí, ressaltando uma prática comum na área que é a atuação de mulheres nos serviços. Fotos do autor.

Na evolução do processo de contínuas novas distribuições dos diamantes, durante o Fanerozoico se depositaram os sedimentos conglomeráticos, paleoaluvionares, da Formação Abaeté (base do Grupo Areado), de idade cretácica inferior (Chaves 1997). Tal deposição se deu como resultado da ressedimentação dos materiais desagregados das unidades diamantíferas anteriores, ocasionada pelo soerguimento da cadeia montanhosa do Espinhaço (Figura 13B; mostrando detalhe na parte inferior direita). Com o desmonte das serras do Espinhaço e do Cabral, durante os períodos Paleogeno e Neogeno, foram gerados depósitos de fanglomerados em suas bordas, como na região de Francisco Dumont, bem como cascalheiras aluvionares altas do rio Jequitaí (Figura 13C) e aluviões recentes deste mesmo rio (Figura 13D).

Do mesmo modo, na região de Diamantina, a partir do Pleistoceno se originaram depósitos coluvionares, conhecidos como “gorgulhos” pelos garimpeiros, sobre os altos serranos (Chaves & Benitez 2004), e outros aluviais em terraços elevados às margens dos maiores rios.

Os depósitos diamantíferos ditos recentes (do Holoceno) encontram-se nas planícies e calhas dos rios atuais, alguns também diamantíferos e onde se concentram grande parte das lavras ainda em atividade, desde rudimentares (Figura 14A-B) até mecanizadas (Figura 14C). Ainda de importância econômica expressiva, devem ser citados os depósitos aluvionares do rio Jequitinhonha a jusante da localidade de Mendanha. Duas mineradoras atuaram nessa área com grandes dragas de alcatruzes, as companhias Tejucana e Rio Novo. A primeira, entretanto, desde que foi vendida pelo grupo belga Union Minière a um consórcio de mineradores de Diamantina (1997), vem atuando na forma de pequenos garimpos. A Rio Novo Mineração (grupo Andrade Gutierrez), operava até recentemente com duas dragas (Figura 14C), e desde a paralisação de suas atividades possui áreas agora trabalhadas por garimpagem, como no atual garimpo da Areinha (Figura 14D).

Figura 14. A) Garimpo rudimentar de diamantes no alto serrano, área de Sopa-Guinda, onde o depósito visado é um cascalho coluvionar (“gorgulho” para os garimpeiros). B) Como o processo de lavra é simples, todo o serviço é feito manualmente (mesma localidade) C) Em contraste, lavra altamente mecanizada da Rio Novo Mineração, no rio Jequitinhonha. D) Garimpo semimecanizado da Areinha, instalado no rio Jequitinhonha após a retirada das dragas da empresa antes mencionada. Fotos do autor.

2.1.3. Principais Aspectos dos Diamantes

Nas áreas de Diamantina, Grão Mogol e Jequitaí, faltam completamente em seus depósitos os minerais indicadores típicos de rochas primárias fontes de diamantes; esse tem sido um dos mais fortes argumentos para atestar que tais fontes eram longínquas, possivelmente na região a oeste e que atualmente encontra-se coberta pelas rochas do Grupo Bambuí, do Neoproterozoico, além de coberturas fanerozoicas (Pflug 1965, Chaves 1997, Chaves et al. 2001).

Na região de Diamantina, Chaves (1997) e Chaves et al. (1998) relataram o estudo de um lote com 576 diamantes procedentes do rio Jequitinhonha (Rio Novo Mineração). Como este rio é o grande repositório dos diamantes da Serra do Espinhaço, suas características foram tomadas como representativas da grande região do Espinhaço como um todo. Além disso, aqueles autores ressaltaram não haver grandes diferenças em relação aos diamantes dos outros distritos (Grão Mogol e Itacambira).

A população de diamantes desta província é constituída de cristais de baixa quilatagem (cerca de 90% são menores que 1 ct) e incolores-amarelados (Figura 15A-B-C-D). A forma predominante dos cristais é o rombododecaedro, e os cristais com defeitos ou grandes inclusões são de proporção muito pequena; os agregados cristalinos são raríssimos e predominam os cristais intactos. Em sua grande maioria, os diamantes são de qualidade gemológica e a presença de “capas” é típica em todas as áreas. Essas características, aliadas aos aspectos geológicos envolvidos, foram também considerados como indicadoras de uma provável fonte originária distante para os diamantes da região (Chaves 1997).

Figura 15. A) Diamante de forma octaédrica perfeita, achado no rio Jequitinhonha. B) Lote de diamantes da região de Diamantina, cujo peso médio das pedras é de 1 ct. C) Lote de diamantes da região de Jequitaí, cujo peso médio das pedras é de 0,4 ct. D) Lote de diamantes da região de Grão Mogol, cujo peso médio das pedras é de 0,3 ct. Fotos do autor.

2.1.4. Dados Econômicos

No contexto da Província Serra do Espinhaço, as lavras ocorrem tanto nos depósitos ditos “de serra” (conglomerados proterozoicos e depósitos coluvionares derivados), como nos depósitos “de rio”, tanto aluviões como terraços antigos (Chaves & Karfunkel 2001). Nos últimos 30 anos, serviços empresariais de mineração foram desenvolvidos nas lavras dos Caldeirões e Lavrinha (Sopa-Guinda), Boa Vista, Cavalo Morto e Serrinha (Extração), Ingleses e Datas de Cima (Datas), João Boa e Campo Sampaio (São João da Chapada). No entanto, é difícil uma perfeita distinção entre a mineração organizada e a garimpagem semimecanizada, pois as práticas de ambas são muito semelhantes.

Na atualidade nenhum serviço “de serra” se enquadra na conceituação exata de empresa de mineração. A mina do Campo Sampaio, de grande potencial, operou regularmente até o final da década passada, porém encontra-se sob novos estudos de viabilidade econômica. As minas Boa Vista e Serrinha, que foram objeto de serviços mecanizados durante várias épocas distintas no século passado, necessitam de altos investimentos que as têm tornado pouco atrativas. Em todos esses locais predominam os serviços de garimpagem rudimentar, os quais, embora pouco econômicos, são interessantes também do ponto de vista social por manterem ativa a mão-de-obra do “interior” dos municípios.

Na Província Serra do Espinhaço existem diversos dados a respeito de teores (e reservas), ainda que estes sejam discutíveis em função das amostragens nas pesquisas, nem sempre envolvendo volumes adequados de rocha ou de cascalho mineralizado. Nos conglomerados da Formação Sopa-Brumadinho tais teores são variáveis de uma área diamantífera para outra. Assim, em São João da Chapada, Moraes (1934) calculou o teor de um trecho da lavra do Pagão em 1,75 ct/m3 talvez o maior já encontrado para todo o distrito. No Campo Sampaio, quando em lavra os teores médios variavam entre 0,7-0,8 ct/m3 (Geólogo F. Tonole 1986, comunic. verbal).

Na área de Datas, pesquisas exploratórias na lavra dos Ingleses demonstraram um teor de 0,048 ct/m3 (Chaves 1997). Na lavra Boa Vista (Campo de Extração), Haralyi & Svisero (1986) identificaram dois horizontes mineralizados: um inferior com 0,143 ct/m3, e o superior com 0,009 ct/m3. Nas lavras próximas, Serrinha e Cavalo Morto, os teores oscilavam próximo de 0,05 ct/m3 (Chaves 1997). Para este autor, os teores mais baixos do distrito se verificaram no Campo de Sopa-Guinda, variando entre 0,03 ct/m3 (Lavra dos Caldeirões) e 0,01 ct/m3 (Lavrinha).

Nos aluviões da bacia do rio Jequitinhonha, os teores decrescem de montante para jusante, assim como o tamanho médio das pedras. Na parte alta do rio, diversas pesquisas indicaram teores variáveis entre 0,1-0,5 ct/m3, ainda que sejam raríssimos os depósitos totalmente virgens (Chaves 1997). Abaixo do vilarejo de Mendanha, os teores são progressivamente mais baixos, de maneira que na área lavrada pela Rio Novo Mineração sejam 0,03 ct/m3 (Fleischer 1991) e na da Mineração Tejucana 0,008 ct/m3 (Dupont 1991). O último autor descreve ainda a drástica diminuição da granulometria do diamante desde Maria Nunes, a montante (3 pedras/ct) até o flat Leonel, a jusante (10 pedras/ct).

Em termos de produção, destacam-se as zonas de Diamantina e do Médio Jequitinhonha, responsáveis pela maior parte da produção estadual. Desta maneira, os levantamentos realizados em tais áreas indicaram uma produção em 2000 por volta de 80.000 ct/ano (Penha et al. 2000), o que contrasta fortemente com a produção oficial de 34.075 ct obtida para todo estado, onde os dados referem-se justamente às mesmas citadas áreas (os dados relativos a 1990 também são fortemente contrastantes). Tais discrepâncias são facilmente explicáveis, pois os dados oficiais na prática só relacionavam os valores de produção das mineradoras Tejucana e Rio Novo; logo, as informações oficiais podem ser consideradas de pouca utilidade. Em termos de preços médios por quilate, destaca-se a produção específica da área de Jequitaí (150-200 US$/ct), onde o diamante é considerado de melhor qualidade por serem “mais puros”.

2.2. Província Oeste São Francisco

2.2.1. Características Gerais e Geologia Básica

Essa província, em parte chamada de “Noroeste São Francisco” por Penha et al. (2000), teve seu nome e desenho modificado por Benitez (2009), como envolvendo uma extensa e dispersa região norte-sul na porção ocidental da bacia hidrográfica do rio São Francisco, que se estende desde São Gotardo e Tiros, ao sul, até aproximadamente o paralelo 17°, nas proximidades de Santa Fé de Minas (Figura 7 – destaque em azul claro). Foi nesta região que diamantes foram descobertos pela segunda vez em Minas Gerais, por volta de 1770, em aluviões do rio Abaeté, por escravos fugidios dos garimpos das redondezas de Diamantina. A província envolve duas zonas diamantíferas principais, uma a sul e outra a norte.

Ao sul, os principais depósitos diamantíferos minerados desde o século 18, localizam-se ao longo da tríade de rios paralelos Indaiá, Borrachudo e Abaeté (de leste para oeste), afluentes de primeira ordem do rio São Francisco, tanto em seus leitos como em depósitos de terraços em suas margens. No Abaeté, alguns de seus afluentes no alto curso, como o ribeirão dos Tiros e o rios Areado e São Bento, são afamados pelas pedras de coloração rósea (pink diamonds), de enorme valor comercial. Na parte norte da província, destacam-se as drenagens afluentes da bacia do rio Paracatu, como os rios da Prata e do Sono, onde também são conhecidos depósitos diamantíferos associados a terraços aluviais.

A geologia desta região é dominada por rochas da porção superior do Grupo Bambuí (formações Serra da Saudade e Três Marias), nas partes baixas do relevo, as quais são cobertas por formações cretácicas (grupos Areado, Mata da Corda e Urucuia), bem como sedimentos do Neogeno (Pinto & Silva 2014). Nessa zona, são conhecidos diversos possíveis kimberlitos nos municípios de Carmo do Paranaíba, Arapuá, Lagoa Formosa e Patos de Minas, contudo os resultados das pesquisas feitas por mineradoras multinacionais sobre os seus potenciais diamantíferos permanecem em sigilo. Dados geocronológicos disponíveis para duas intrusões de Carmo do Paranaíba indicaram idades do Cretáceo Superior: 89 Ma para a “X-270” (U-Pb em perovskita) e de 85 Ma para a “Abel Régis” (U-Pb em zircão) conforme, respectivamente, Read et al. (2004) e Chaves et al. (2012).

2.2.2. Depósitos Diamantíferos

Em termos de rochas fontes primárias, foram relatadas como diamantíferas as intrusões X-270 (Read et al. 2004) e Abel Régis, embora, aparentemente, ambas apresentando teores antieconômicos. A segunda destas, estudada por Chaves et al. (2009b, 2012), apresentou diversas características morfológicas e mineraloquímicas que a faziam assemelhar-se mais a um lamproíto do que a um kimberlito (Figura 16A-B). Tais autores relataram ainda que o programa de sondagem realizado pela SAMSUL, do grupo minerador canadense Brazilian Diamonds, recuperou cerca de 150 microdiamantes desta rocha.

Figura 16. A) Imagem de trabalho de campo didático realizado sobre a intrusão Abel Régis, em Carmo do Paranaíba. B) Detalhe do contato desta intrusão com rocha metapelítica do Grupo Bambuí. C) Ponte sobre o rio Abaeté na área de operação da GAR Mineração, em São Gonçalo do Abaeté. D) Detalhe da frente de lavra nesta mesma localidade. E) Terraço aluvionar do rio Borrachudo em lavra pela Petrus Mineração, em Tiros. F) Detalhe da cascalheira aluvionar nesta localidade. Fotos do autor.

O fato é que são reconhecidos como diamantíferos muitos dos rios que nascem no Planalto da Mata da Corda e vertem para o norte, na margem esquerda do rio São Francisco (Barbosa et al. 1970). Ao sul desta província, os depósitos mineralizados abrangem partes dos municípios de São Gotardo, Tiros, Cedro do Abaeté, Paineiras e São Gonçalo do Abaeté. Ao norte da mesma, existem garimpos em alguns dos tributários do rio Paracatu (como os rios da Prata e do Sono), além dos rios Santo Antônio e das Almas, afluentes do último, que abrangem os municípios de João Pinheiro, nas proximidades de Canabrava, e de Santa Fé de Minas, no extremo norte da região.

Os depósitos mais importantes ocorrem em terraços aluvionares, alçados em alguns metros acima do leito atual dos rios, e que possuem espessuras em torno de 1-3 m. Na atualidade, serviços mineradores ocorrem principalmente ao longo dos rios Abaeté, Borrachudo e Indaiá. No primeiro destes, a GAR Mineração opera uma mina na localidade de Fortaleza, em São Gonçalo do Abaeté (Figura 16C-D). No rio Borrachudo, a Petrus Mineração, de Patos de Minas também possui serviço minerador em atividade (Figura 16E-F), na localidade de Canastrão (Tiros), mas ainda se verificam muitos pequenos serviços garimpeiros menores nestes e em outros rios da região.

A ocorrência de diamantes do rio de Janeiro, ao norte de Três Marias, é muito interessante por constituir uma exceção na província, pois, ao contrário dos outros afluentes diamantíferos do São Francisco, este rio origina-se a leste. Chaves et al. (1993) presenciaram quase 50 garimpeiros na área do baixo curso desse rio, hoje abandonada. Provavelmente, sua fonte está relacionada aos mesmos conglomerados cretácicos (Formação Abaeté) que afloram na região da Serra do Cabral. Outra possível exceção é rio Santo Antônio, afluente do rio Quebra-Anzol (bacia do rio Paranaíba), que é diamantífero próximo de Ibiá. Como ele nasce no Planalto da Mata da Corda, na mesma região das nascentes dos rios Indaiá e Abaeté, a fonte dos diamantes pode ser a mesma.

2.2.3. Principais Aspectos dos Diamantes

Quanto aos aspectos mineralógicos dos diamantes desta província, Benitez (2009) estudou um lote representativo com 145 diamantes, procedentes do rio Abaeté na área de atuação da GAR Mineração (Figura 17A). Tal autor caracterizou assim uma população de diamantes da parcela sul da província, que em vários aspectos se assemelhou à da Província Alto Paranaíba (conforme Chaves & Chambel 2003). Entretanto, ela é muito mais heterogênea, abrangendo cristais de formas e tamanhos mais diversificados, além de mostrar a presença de “capas” verdes ou marrons cobrindo parcialmente os cristais, como também observado no rio Borrachudo (Figura 17B). A existência de cristais de grande porte, como relatado nos grandes diamantes do rio Abaeté, além de diamantes coloridos, particularmente os róseos, é relativamente comum nessa zona.

Figura 17. A) Lote de diamantes minerado no rio Abaeté, na área da GAR Mineração (foto Leila Benitez). B) Lote de diamantes minerado no rio Borrachudo, na área da Petrus Mineração (foto do autor).

Em relação à parcela norte da região, Chaves et al. (1999b) estudaram um lote de diamantes proveniente do rio do Sono, observando que tal população assemelhava-se mais com aquela caracterizada na Serra do Espinhaço, a leste (Chaves 1997), com cristais bem formados e de porte reduzido (havendo largo predomínio da faixa menor que 1 ct) e apresentando tonalidades amareladas, fazendo com que seus valores médios sejam mais reduzidos. De tal maneira, é provável que nesta província os diamantes sejam provenientes de mais de uma fonte alimentadora em termos de idade: uma primária, como no Alto Paranaíba (na parcela sul da província) e outra secundária, provavelmente a partir de conglomerados cretácicos (Chaves et al. 1999b, Benitez 2009).

2.2.4. Dados Econômicos

Nesta província, destacam-se em termos econômicos os rios do seu setor sul. Assim, no rio Indaiá, na década de 1960 foram relatadas a existência de cerca de 600 garimpeiros em atividade (Barbosa et al. 1970), número que atualmente pode ser reduzido a um sexto; pedras com 98 ct e 77 ct já foram achadas neste local. No rio Abaeté, cerca de também 100 garimpeiros ainda subsistem ao longo do rio das nascentes até a barragem de Três Marias, onde foram descobertos grandes diamantes, como (Reis 1959): “Tiros III” com 354 ct (descoberto em 1938), “Vitória II” 328 ct (1943), “Abaeté” 238 ct (1926), “Regente” 215 ct (1975), “Nova Estrela do Sul” 140 ct (1937), “Tiros I” 198 ct (1936), “Tiros II” 182 ct (1937) e, recentemente (2016), o “Incomparável do Abaeté” (Tabela 2). O rio Borrachudo é garimpado em menor escala. Tais diamantes apresentam em geral formas irregulares e comumente “toques” amarelados ou amarronzados.

Tabela 3. Os quarenta maiores diamantes já encontrados no Brasil (não incluindo os agregados microcristalinos conhecidos como carbonados) destacando-se a presença das pedras achadas nas províncias Alto Paranaíba e Oeste São Francisco (fontes: Reis 1959, Cassedanne 1989, Chaves & Chambel 2003).

Nome Ano do achado Peso (ct) Local Município
1 Presidente Vargas 1938 726,7 Rio Santo Antônio do Bonito Coromandel
2 Santo Antônio 1996 602,0 Rio Santo Antônio do Bonito Coromandel
3 Goyaz 1906 600,0 Rio Veríssimo Catalão (GO)
4 Sem nome formal 1998 481,0 Rio Paranaíba Coromandel
5 Darcy Vargas 1939 460,0 Rio Santo Antônio do Bonito Coromandel
6 Charneca I 1940 428,0 Rio Santo Inácio Coromandel
7 Presidente Dutra 1949 408,0 Rio Douradinho Coromandel
8 Coromandel IV 1940 400,5 Rio Santo Antônio do Bonito Coromandel
9 Diário de Minas 1941 375,0 Rio Santo Antônio do Bonito Coromandel
10 Tiros I 1938 354,0 Rio Abaeté Tiros
11 Sem nome formal 2000 351,8 Rio Paranaíba Coromandel
12 Bonito I 1948 346,0 Rio Santo Antônio do Bonito Coromandel
13 Vitória II 1943 328,0 Rio Santo Antônio do Bonito Coromandel
14 Patos 1937 324,0 Rio São Bento Quintinos
15 Incomparável do Abaeté 2016 380,0 Rio Abaeté São Gonçalo do Abaeté
16 Sem nome formal Dec. 90 303,0 Rio Santo Inácio Coromandel
17 Sem nome formal 1982 277,0 Fazenda Natália Vilela Coromandel
18 Sem nome formal Déc. 90 263,3 Rio Santo Inácio Coromandel
19 Vitória I 1942 261,0 Rio Santo Antônio do Bonito Coromandel
20 Sem nome formal 1984 260,0 Local desconhecido Coromandel
21 Estrela do Sul 1853 254,5 Rio Bagagem Estrela do Sul
22 Carmo do Paranaíba 1937 245,0 Rio Bebedouro Carmo do Paranaíba
23 Abaeté 1926 238,0 Rio Abaeté Tiros
24 Coromandel III 1936 228,0 Rio Santo Inácio Coromandel
25 Mato Grosso 1963 227,0 Local desconhecido (MT)
26 João Neto 1947 201,0 Rio Paranaíba Catalão (GO)
27 Tiros II 1936 198,0 Rio Abaeté Tiros
28 Sem nome formal 1925 195,0 Local desconhecido Abadia dos Dourados
29 Tiros III 1936-37 182,0 Rio Abaeté Tiros
30 Coromandel I 1934 180,0 Rio Preto Abadia dos Dourados
31 Coromandel IV 1940 180,0 Local desconhecido Coromandel
32 Estrêla de Minas 1909 179,5 Mina Água Suja (Romaria) Romaria
33 Sem nome formal 1941 176,0 Rio Paranaíba Catalão (GO)
34 Brasília 1947 176,0 Rio Preto Abadia dos Dourados
35 Juscelino Kubitschek 1954 174,5 Rio Bagagem Estrela do Sul
36 Tiros IV 1938 172,9 Rio Abaeté Tiros
37 Minas Gerais 1937 171,3 Rio Santo Antônio do Bonito Coromandel
38 Sem nome formal 1944 170,0 Rio Bagagem Estrela do Sul
39 Sem nome formal 1997 164,1 Rio São Bento Quintinos
40 Coromandel V 1953 141,0 Local desconhecido Coromandel

Além dos diamantes “gigantes” antes reportados, a existência de diamantes róseo-avermelhados ressaltam a importância econômica dos exemplares encontrados no rio Abaeté. Cassedanne (1989) relatou que em 1987 foi vendido por US$ 880.000 para um colecionador norte-americano, um diamante bruto de forma octaédrica quase perfeita e cor vermelha intensa, pesando cerca de 1 ct, encontrado neste rio. Para o citado autor, tal valor representaria a mais valiosa substância natural (em sua forma original) já comercializada até hoje, alcançando a fantástica cifra próxima de US$ 4,5 milhões por grama! Além disso, o mais valioso diamante brasileiro, considerado o nono a nível mundial, é o “Mussaief Red”, também encontrado no Abaeté. Pesando 13,9 ct quando bruto e transformado em uma gema de 5,11 ct, tal diamante tem hoje um valor estimado em US$ 7 milhões (Figura 18).

Figura 18. O diamante vermelho “Moussaief Red”, o mais valioso dos diamantes brasileiros e o nono a nível mundial, encontrado no rio Abaeté em 1990 (fonte: Gem Select).

Ainda no rio Abaeté, a GAR Mineração lavrou em sua mina de São Gonçalo do Abaeté, em 2010, cerca de 17.000 ton de sedimento aluvionar, de onde extraiu 251 ct de diamantes predominantemente gemas (Revista Minérios & Minerales nº 335, outubro de 2011). O teor de tal depósito deve oscilar assim em torno de 0,04 ct/m3. Na mina Canastrão, no rio Borrachudo, da Petrus Mineração, conforme informação de seu proprietário (Geólogo Luis A. de Deus 2013, comunic. verbal) os teores também variavam por volta de 0,04 ct/m3.

Na parcela norte, os diamantes em geral são pequenos, em média inferiores a 0,6 ct, embora ocorram comumente pedras de 1 a 2 ct; a maior pedra encontrada nas proximidades de Santa Fé de Minas pesou cerca de 10 ct (Penha et al. 2000). Assim como na Serra do Espinhaço, predominam os cristais de forma rombododecaédrica, o que indica depósitos formados por sucessivos ciclos sedimentares (Chaves et al. 1993). Conforme Penha et al. (2000), os diamantes da região se formaram provavelmente se formaram à mesma época do Espinhaço, mas foram distribuídos nos depósitos sedimentares glaciogênicos do Grupo Santa Fé (Permiano-Carbonífero) e paleoaluviais da Formação Abaeté, do Grupo Areado (Cretáceo Inferior).

2.3. Província Alto Paranaíba

2.3.1. Características Gerais e Geologia Básica

Essa importantíssima região diamantífera brasileira situada no oeste de Minas Gerais (Figura 7 – destaque em marrom), engloba ainda parte de Goiás em direção a oeste, e abrange uma zona concentrada na porção superior da bacia do rio Paranaíba e diversos de seus afluentes da margem sul, como os rios Santo Inácio, Dourados, Douradinho, Preto e Santo Antônio do Bonito (Figura 19). No rio Santo Antônio do Bonito foram extraídos os maiores diamantes brasileiros, destacando-se o “Presidente Vargas”, o maior encontrado no país. A cidade de Coromandel concentra o principal polo das atividades minerarias e também comerciais de tal província.

Figura 19. Principais rios com aluviões diamantíferos da Província Alto Paranaíba.

O primeiro corpo kimberlítico inequivocamente descoberto em Minas Gerais e o segundo no país foi o kimberlito Vargem-1 em 1968, nas margens do rio Santo Inácio, a sudeste de Coromandel (Svisero et al. 1977). Desde então, centenas de outras intrusões kimberlíticas ou de rochas relacionadas foram reconhecidas na Província Alto Paranaíba, que abrange uma zona tectônica designada de “Soerguimento do Alto Paranaíba”, também designada de “Arco da Canastra” (Hasui et al. 1975, Hasui & Haralyi 1991). Os principais municípios onde ocorrem depósitos diamantíferos são Coromandel, Abadia dos Dourados, Monte Carmelo, Douradoquara, Estrela do Sul, Romaria, Cascalho Rico e Grupiara.

A natureza tectônica peculiar desta região, que faz parte da porção terminal sul da Faixa de Dobramentos Brasília, e também constitui a porção norte do segmento final da Bacia do Paraná, tem propiciado uma série de interpretações diferentes para as sequências geológicas que aí afloram. As rochas mais antigas são constituídas por granitos, gnaisses e anfibolitos expostos principalmente no vale do rio Paranaíba, na zona fronteiriça com o estado de Goiás (Barbosa et al. 1970, Pinto & Silva 2014). Sobre este embasamento antigo, ocorrem diversas sequências metassedimentares complexamente estruturadas por falhas de empurrão que mascararam profundamente os seus empilhamentos estratigráficos originais.

Conforme Pinto & Silva (2014) tais sequências constituem os grupos Araxá, Canastra, Ibiá e Bambuí, que foram depositados durante o Proterozoico, e são compostos respectivamente por quartzo-mica xistos, quartzitos laminados, clorita-carbonato xistos e rochas pelito-carbonáticas. Esse conjunto foi estruturado segundo NNW-SSE no ciclo orogênico Brasiliano. Rochas basálticas do Cretáceo Inferior pertencentes aos derrames vulcânicos da Bacia do Paraná (Formação Serra Geral), com intercalações de arenitos (Formação Botucatu), ocorrem ainda na área, porém de maneira restrita. Na mina de diamantes de Romaria, esta sequência não ultrapassa 10 m de espessura.

Ao norte da área do soerguimento, ocorre o Grupo Areado, de mesma idade, cuja unidade basal (Formação Abaeté) é constituída por um conglomerado localmente também diamantífero. As intrusões kimberlíticas e de rochas relacionadas na região por sua vez possuem idades relacionadas ao Cretáceo Superior, entre 75 Ma e 90 Ma (Basei et al. 2003), e encontram-se tectonicamente relacionadas a sistemas extensionais orientados principalmente NW-SE, que definem o Soerguimento do Alto Paranaíba, e SW-NE, conforme sugerido por Pereira (2007). Segundo este último autor, os diamantes variam em suas características de um local para outro, refletindo condições distintas de geração e fonte, consequência da evolução geológica da região.

De grande importância para a geologia econômica do diamante na região, são os depósitos sedimentares de arenitos e conglomerados com contribuição vulcânica do Cretáceo Superior, que constituem as bases dos grupos Bauru (formações Uberaba e Marília), ao sul da área do soerguimento, e Mata da Corda (Formação Capacete), ao norte. Em direção ao norte do estado de Minas Gerais, diminui-se a contribuição vulcânica nestas rochas, aumentando progressivamente os depósitos fluviais e eólicos típicos de clima semiárido, os quais vão constituir as subunidades do Grupo Urucuia (Pinto & Silva 2014).

2.3.2. Depósitos Diamantíferos

São conhecidos diversos indícios da existência de kimberlitos diamantíferos na Província Alto Paranaíba. Embora a maioria das intrusões pesquisadas por empresas tenha-se revelado estéril (Gonzaga & Tompkins 1991), como o kimberlito Douradinho-8 (Figura 20A-B), outras intrusões como a Três Ranchos-4, em Goiás, próximo da fronteira com Minas Gerais, possui diamantes embora em escala antieconômica (Gonzaga & Tompkins 1991). Autores como Meyer et al. (1991) e Chaves (2012) descreveram a presença de diamantes no kimberlito Vargem-1, localizado no rio Santo Inácio (Figura 20C-D). Barbosa (1991), por sua vez mencionou a ocorrência de diamantes no solo de alteração de certas intrusões em Córrego Danta (Cana Verde e Boa Esperança). Entretanto, ainda faltam dados mais precisos sobre estas e outras possíveis fontes primárias da região.

Figura 20. A) Aspecto do kimberlito Douradinho-8, aflorante no córrego Grota do Cedro, afluente do rio Douradinho, onde é coberto por sedimentos lacustres, ao sul de Coromandel Fotos do autor.. B) Detalhe deste mesmo kimberlito. C) Cava aberta para a pesquisa do kimberlito diamantífero Vargem-1, aflorante na margem do rio Santo Inácio, a sudeste de Coromandel. D) Material extraído da parte semialterada do kimberlito, objeto da pesquisa. E) Conglomerado Capacete, aflorante sobre uma região onde as drenagens são diamantíferas na estrada de acesso a Coromandel (MG-188). F) Depósito fanglomerático lavrado para diamantes na margem do rio Santo Inácio. Fotos do autor.

Ao norte da área do soerguimento, Barbosa et al. (1970) observaram que os principais rios diamantíferos nesta província possuem conglomerados basais da Formação Capacete (Grupo Mata da Corda) em suas cabeceiras (Figura 20E), e depósitos fanglomeráticos derivados são diamantíferos (Figura 20F). Na parcela sul da mesma estrutura, na mina de Romaria, o conglomerado basal da Formação Uberaba (Cretáceo Superior) é minerado para diamantes desde 1888, constituindo um depósito típico de leque aluvial e indicando assim uma fonte próxima para suas possíveis rochas fontes (Suguio et al. 1979). Este é o único local que tal conglomerado tem sido lavrado, encontrando-se os serviços ainda em plena atividade em uma de suas frentes, agora pela GAR Mineração (Figura 21A-B).

Figura 21. A) Aspecto detalhado do Conglomerado Uberaba na mina de Romaria, mostrando a estratigrafia da porção inferior da sequência (cb, conglomerado basal, conhecido popularmente como “tauá”; cs, conglomerado superior, conhecido como “secundina”; ar, arenito; sl-ar, intercalação siltito-arenito. B) Estratigrafia da porção superior da mesma sequência (sl-ar, intercalação siltito-arenito; sl, solo de recobrimento. Fotos do autor.

A complexidade geológica da região faz com que a origem primária do diamante continue ainda em aberto. Alguns autores como Barbosa (1991), Chaves (1991) e Svisero (1994), entre outros, postularam uma derivação a partir de fontes “tradicionais”, tipo kimberlíticas. Leonardos et al. (1995) sugeriram como matrizes as lavas ultrabásicas, possivelmente lamproíticas, do Planalto da Mata da Corda. Entretanto, outros autores postularam ideias mais exóticas, como de que geleiras proterozoicas e paleozoicas teriam transportado os diamantes desde fontes mais antigas, intrusivas no Cráton São Francisco (Tompkins & Gonzaga 1989, Gonzaga & Tompkins 1991, Gonzaga et al. 1994), ou que tal mineralização teria origem num supervulcão cuja raiz seria representada pela intrusão carbonatítica de Serra Negra, em Guimarânia (Karfunkel et al. 2014).

2.3.3. Principais Aspectos dos Diamantes

Em relação aos aspectos mineralógicos de seus diamantes, essa província apresenta certas características que lhes são bastante peculiares. Uma das principais discrepâncias envolvendo comparações entre suas populações de diamantes são os achados periódicos de diamantes com uma altíssima quilatagem (Tabela 3). Neste contexto devem ser destacados os rios Santo Antônio do Bonito, Santo Inácio, Douradinho e Bagagem, todos tendo produzido diversas pedras com mais que 100 ct. Os diamantes “gigantes” do Rio Santo Antônio do Bonito, por exemplo, são dignos de nota não só por seus tamanhos excepcionais, como também pelo fato de que não se conhecendo sua rocha fonte, abre-se um extenso campo para novas campanhas de prospecção na região.

No rio Santo Antônio do Bonito foi achado o maior diamante brasileiro, em 1938, chamado de “Presidente Vargas”, pesando 726,7 ct (Tabela 3), que nesta época era o terceiro maior do mundo (Figura 22A). Outros grandes diamantes desta província são mostrados na Figura 22 (B-C-D-E-F). Chaves & Chambel (2003) e Benitez (2009) estudaram diversos lotes de diamantes da região. Segundo tais autores, dentre suas principais características destacam-se o predomínio de cristais incolores a incolores amarelados, com ocorrência de cristais coloridos, como na Província Alto São Francisco. Nota-se a presença considerável de pedras mal formadas, irregulares, que apresentam dissolução ou mesmo corrosão, aumentando assim a proporção de pedras classificadas como chips e industriais. Tal população mostra-se muito típica de diamantes que passaram por um curto transporte antes de se depositarem nos depósitos aluvionares onde são lavrados.

Figura 22. A) Diamante “Presidente Vargas, com 726 ct, o maior do Brasil, encontrado no rio Santo Antônio do Bonito (fonte: Reis 1959). B) Diamante”Canastrel“, produzido nesta localidade, possuindo 120,1 ct (fonte: cortesia de Vendome Mine Ltda). C) Diamante com 104,5 ct achado no rio Santo Inácio (foto do autor). D) Diamante com 351,8 ct descoberto em 2000 no rio Paranaíba (foto do autor). E) Diamante com 93 ct descoberto em na década de 1980 no rio Santo Antônio do Bonito (foto do autor). F) Diamante róseo com cerca de 5 ct achado em 2016 rio Douradinho (fonte: cortesia de Vendome Mine Ltda). Todas as localidades citadas encontram-se no município de Coromandel.

2.3.4. Dados Econômicos

Embora o diamante seja conhecido no Alto Paranaíba desde meados do século 19, os trabalhos sistemáticos de prospecção de kimberlitos só começaram em 1968 pela SOPEMI, então pertencente à empresa de mineração estatal francesa BRGM (Bureau de Recherches Geologiques et Mineries), posteriormente incorporada pela sul-africana Anglo-American, integrante do grupo De Beers. Usando o rastreamento aluvionar através de minerais indicadores, esta e outras empresas localizaram dezenas de intrusões de natureza kimberlítica ou de rochas de composições químicas semelhantes nessa região (Svisero et al. 1984).

Entretanto, todos os citados diamantes de grande quilatagem foram lavrados de depósitos aluvionares em garimpos dirigidos ou bancados por pequenos/médios grupos de garimpeiros das muitas localidades envolvidas. Alguns dos grandes complexos mineradores internacionais, como os grupos De Beers e Rio Tinto, investiram nos últimos 30 anos vultuosas quantias na tentativa de descobrir a(s) fonte(s) primária(s) desses diamantes, aparentemente sem qualquer sucesso, contudo não se importando com que os serviços de garimpagem fossem desenvolvidos sobre suas áreas de pesquisa.

Verifica-se assim uma situação que pouco tem se alterado nos últimos 100 anos: garimpos nos rios menores, mais fáceis de serem trabalhados, e nenhum investimento empresarial de vulto para lavras de porte mais significativo (como as que existiram no rio Jequitinhonha), o que poderia ser realizado no rio Paranaíba, por exemplo, que é diamantífero sobre longo trecho na divisa de Minas Gerais com o estado de Goiás. Nas proximidades de Romaria (antiga Água Suja), conglomerados cretácicos são lavrados desde fins do século 19. O principal exemplo é a mina Romaria, que esteve em operação regular até a década de 1980 pela EXDIBRA, de São Paulo (Feitosa & Svisero 1984). Desde 2014, uma outra frente desta mesma mina é operada pela GAR Mineração, de Belo Horizonte (Figura 21A-B).

O rio Bagagem, correndo ao pé desta mina e com diversos serviços de garimpagem ao longo de todo o seu curso, destaca-se não somente por ter produzido grandes diamantes (Tabela 3), como também pela excelente cor média obtidas dos lotes aí produzidos. Assim, apresentando um potencial ainda mal conhecido, é inegável a importância dos diamantes do Alto Paranaíba no cenário geológico nacional. A maior parte das pedras “gigantes” (com mais de 100 ct) encontradas no Brasil são provenientes desta região. Ainda na atualidade, é raro o ano em que pelo menos algumas pedras na faixa de 50-100 ct não sejam encontradas. Como as atividades agropastoris são cada vez mais incrementadas na região, em detrimento da atividade mineradora, acredita-se que uma importante parcela das reservas diamantíferas ainda permaneça intocada.

Na Província Alto Paranaíba, dados em termos de teores e reservas são mais escassos que na Província Serra do Espinhaço. Na mina de Romaria, o conglomerado basal da Formação Uberaba apresenta teores entre 0,03-0,07 ct/m3 (Feitosa & Svisero 1984). Pesquisas nos aluviões do Rio Santo Inácio, em Coromandel, resultaram em um teor de 0,05 ct/m3 (Meyer et al. 1991). No garimpo da Gamela, no rio Paranaíba, Barbosa et al. (1970) obtiveram um teor de 0,03 ct/m3. Quase toda produção dessa região é tradicionalmente de proveniência de atividades garimpeiras, embora nos últimos anos a fiscalização por órgãos federais tenha sido mais ativa. Cerca de 80% desta produção é proveniente das cercanias de Coromandel (rios Santo Inácio, Douradinho e Santo Antônio do Bonito), e em menor parte de Estrela do Sul (Rio Bagagem).

Em valores de US$/ct, deve ser ressaltado o fato de que a produção de grandes diamantes e de pedras coloridas, muitos deles com mais que 50 ct (o que não ocorre no Espinhaço, por exemplo), faz “saltarem” de modo expressivo os preços médios para cima, mesmo havendo uma razoável presença de borts entre as populações de diamantes locais. Chaves et al. (1993) relataram a existência de cerca de 2.000 garimpeiros na região e provavelmente a produção da gema fosse superior a 10.000 ct/ano, números que podem ser reduzidos na atualidade a 1/4. A GAR Mineração explotou em sua lavra aluvionar no rio Santo Inácio 19.000 t de material diamantífero em 2010, resultando em 312 ct de diamantes (Revista Minérios & Minerales Nº 335, outubro de 2011).

2.4. Província Serra da Canastra

2.4.1. Características Gerais e Geologia Básica

Diamantes foram encontrados na região das cabeceiras do rio São Francisco, na Serra da Canastra (Figura 7 – destaque em verde) somente em 1936, ou seja, bastante tardiamente em relação às outras três províncias diamantíferas, descobertas durante os séculos 18 e 19 (Barbosa 1991). A corrida de garimpeiros para este local logo levou ao surgimento do vilarejo de Vargem Bonita, atualmente município e principal polo de comércio desse mineral. Nos anos subsequentes aos achados iniciais cerca de 5.000 garimpeiros chegaram a trabalhar nessa área (Barbosa et al. 1970).

Na região, a prospecção aluvionar de fontes primárias através de minerais indicadores foi iniciada à mesma época que em Coromandel, levando à descoberta do kimberlito Canastra-1, em 1974, pela empresa francesa BRGM. Entretanto, conforme Chaves et al. (2008a) a pesquisa nessa época se limitou a um setor do corpo que possuía teores desprezíveis de diamantes. Passaram-se duas décadas até que uma nova fase de estudos voltasse a ser efetuada, agora pela SAMSUL, do grupo De Beers. Assim, pesquisas de detalhe foram realizadas durante a década de 1990 e, em 2001, foi protocolado junto ao DNPM o Relatório Final de Pesquisa que concluía sobre a viabilidade técnica e econômica para a mineração de diamantes no local.

De tal modo, estava descoberto o primeiro kimberlito do país com teores economicamente viáveis, no município de São Roque de Minas. Pelo menos outras 45 intrusões kimberlíticas foram sendo progressivamente achadas nesta região, várias delas altamente promissoras de serem mineralizadas, como os kimberlitos Canastra-3 e Canastra-8 (Chaves et al. 2008b). Não obstante, a lavra e as pesquisas sobre estes e outros corpos encontra-se inviabilizada por problemas junto a órgãos ambientais, com base em discussões a respeito dos reais limites do Parque Nacional da Serra da Canastra, situado logo a norte da faixa de ocorrência desses kimberlitos.

Conforme Pinto & Silva (2014), as rochas mais antigas da região pertencem ao Grupo Pium-í, uma sequência xistosa arqueana que é sobreposta pelos grupos Canastra e Araxá, de idades proterozoicas mas de relacionamentos ainda duvidosos (Figura 23). Na área do kimberlito Canastra-1, ocorrem quartzitos finos, de coloração branca, com intercalações métricas locais de filitos sericíticos do Grupo Canastra. No Grupo Araxá, estão presentes micaxistos variados quanto à composição. Os metapelitos do Grupo Bambuí (Neoproterozoico), complementam a sucessão de rochas pré-cambrianas. A idade do kimberlito Canastra-1 foi determinada (K/Ar em flogopita) em 120 ±10 Ma (Pereira 2007).

Figura 23. Geologia da Província Serra da Canastra, enfatizando a ocorrência de diamantes aluvionares (Di) e o kimberlito Canastra-1, em São Roque de Minas (fontes: Chaves et al. 2008a, Pinto & Silva 2014).

2.4.2. Depósitos Diamantíferos

A Província Serra da Canastra constitui o exemplo mais clássico brasileiro da existência de intrusões kimberlíticas e depósitos aluvionares mineralizados em suas proximidades. Entre as décadas de 1930 e 1990 existiram garimpos no rio São Francisco até cerca de 60 km abaixo da cachoeira Casca d’Anta (Figura 24A), embora ocorram diamantes também acima dela, já em terrenos do Parque Nacional da Serra da Canastra em sua área clássica (Barbosa et al. 1970). Para esses autores, os serviços desenvolveram-se principalmente nos terraços situados entre 5-30 m acima dos leitos atuais dos rios (Figura 24B), tornando-se gradativamente mais baixos na medida em que se aproximam da Casca d’Anta.

Figura 24. A) Cachoeira Casca d’Anta nas cabeceiras do rio São Francisco, mineralizado nesta zona. B) Depósitos aluvionares em terraços lavrados nas margens do rio São Francisco na década de 1990. C) Vista geral do kimberlito Canastra-1 aflorando entre quartzitos do Grupo Canastra. D) Amostragem de grande volume realizada sobre esse mesmo kimberlito realizada na década de 1990. E) Blocos desse kimberlito remanescentes da amostragem de grande volume. F) Testemunho de sondagem efetuada no kimberlito, mostrando um megacristal de diopsídio (– d). Fotos do autor.

O rio Santo Antônio, a sudoeste da Serra da Canastra (município de Delfinópolis), possui alguns garimpos de pouca importância (Figura 24). Diferentemente dos demais rios de tal província este último pertence à bacia do rio Grande (Chaves et al. 2008b). Ainda ocorrem diamantes nos rios Samburá e Bambuí, mais ao norte e também afluentes diretos do São Francisco, bem como no Rio Araguari (próximo a Nova Ponte), que também nasce na Serra da Canastra. A proveniência de seus diamantes deve ser também de kimberlitos próximos, alojados na serra e ainda desconhecidos. O kimberlito Canastra-1, de mineralização reconhecida em teores econômicos, certamente é somente um de muitos outros kimberlitos a serem ainda detalhados nessa região (Figura 24C-D-E-F).

2.4.3. Principais Aspectos dos Diamantes

A área produtora nos arredores de Vargem Bonita, a principal da Província Serra da Canastra, apesar dos valores totais relativamente pouco expressivos, se destaca por seus diamantes serem bastante valiosos, de modo característico pelo achado frequente de pedras com as cores “D”, “E” e “F” da escala do Gemological Institute of America (GIA), ou seja, sem qualquer “toque” de amarelado. A presença dessas cores, em geral muito raras entre os diamantes brasileiros, fez com que se introduzisse no cenário comercial brasileiro o termo “diamante tipo-Canastra” (Chaves & Chambel 2003), demonstrando assim os altos valores médios obtidos para a produção na área (entre 250-300 U$/ct).

Na Província Serra da Canastra, ocorre o predomínio de cristais de baixa quilatagem, porém são em geral octaedros e incolores, o que os classifica como gemológicos e de alto valor comercial (Figura 25A-B). Pedras com mais alta quilatagem, apesar de raras também ocorrem. Barbosa et al. (1970) relataram um diamante com 110 ct encontrado 3 km abaixo da Casca D’Anta e outros dois, com 76 ct e 40 ct, garimpados nas proximidades de Vargem Bonita. Reis (1959) descreveu um diamante de forma ocatédrica deformada, com 22,2 ct, puro e límpido, que foi classificado por ele como Extra Absolutely White, equivalente à cor “D” do GIA.

Figura 25. A) Lote de diamantes da região da Serra da Canastra, destacando pedras com peso em torno de 1-2 ct com suas excelentes qualidades da cor. B) Lote da mesma área com pedras ente 0,3-1 ct Fotos do autor.

2.4.4. Dados Econômicos

Os serviços existentes na zona das cabeceiras do rio São Francisco, abaixo da Cachoeira Casca d’Anta (acima dela também ocorrem diamantes, mas a área está inserida no Parque Nacional da Serra da Canastra), apesar de terem sido considerados como “garimpos”, há que se destacar que na realidade eles constituíram serviços bastante organizados até as décadas de 1980-1990, pois envolviam maquinários pesados. Como os depósitos em lavra constituíam terraços antigos deixados pelo rio São Francisco, tratores de esteira faziam o decapeamento do solo estéril até atingir a camada de cascalho mineralizado, que era recuperado em caminhões que alimentavam jigues processadores desse material. Barbosa et al. (1970) verificaram nesta região teores entre 0,04 e 0,10 ct/m3 com base nos garimpos de Vargem Bonita.

Em relação ao kimberlito Canastra-1, na planta de lavra experimental instalada para processar grande volume do corpo mineralizado, cerca de 15.000 m3 de rocha foram tratados pela antiga detentora dos direitos minerários (SAMSUL) para a obtenção da parte principal das reservas de diamantes, que totalizaram entre as cotas 960 (superfície) e 820 m, quase 2.300.000 t de rocha com um teor médio de 16 ct/100 t, estimando-se em 260.000 ct contidos (Chaves et al. 2008a,b). Outro fator fundamental na avaliação econômica de um depósito diamantífero qualquer é a quantificação do seu valor médio (dado em US$/ct).

Nesse sentido, o diamante da Província Serra da Canastra é considerado como um dos mais valorizados do Brasil, atingindo cifras da ordem de US$180-200/ct (Geólogo L. Giglio 2007, comunic. verbal). A qualificação comercial aproximada varia em torno de 80% de cristais gemológicos e 20% chips e industriais (Benitez 2009). Considerando ainda a predominância da forma octaédrica entre seus diamantes, as cores e purezas elevadas, além de cristais de maior porte (pedras de até 20 ct foram recuperadas na pesquisa) provavelmente esse kimberlito é um dos mais valiosos (em termos de valores médios) de todo mundo (Chaves et al. 2008a).

2.5. Depósitos Diamantíferos Isolados

Existem ocorrências isoladas de diamante no rio Aiuruoca, nos municípios de Bocaina de Minas Alagoa e Aiuruoca, no sul do estado. Os diamantes são sempre muito pequenos e sua fonte é totalmente desconhecida. Na mesma área recentemente foram encontrados diamantes nas cabeceiras do rio Grande (município de Alagoa). Ambos os rios nascem no maciço alcalino das Agulhas Negras, sugerindo que a área fonte esteja nesta região. Atualmente os serviços nestas áreas encontram-se inteiramente paralisados.

Segundo Leonardos (1956), na porção sul do Triângulo Mineiro são conhecidas ocorrências de diamantes no rio Uberaba, no município homônimo, e em seu afluente ribeirão Borá, onde já foi encontrada uma pedra pesando 97 ct. Nesta área, atualmente alguns poucos garimpeiros ainda trabalham. No rio Dourado (municípios de Conquista e Sacramento) também ocorrem diamantes. Neste depósitos, o diamante provavelmente deve ser originado do conglomerado basal da Formação Uberaba.

Ainda pertencendo à bacia do rio Grande, existem ocorrências diamantíferas da área de Claraval-Capetinga (fronteira com o estado de São Paulo), conhecidas desde 1835. Na realidade esta área é periférica ao Distrito Diamantífero de Franca, situado em São Paulo. Chaves et al. (2008b) incluíram também tal região na Província Serra da Canastra. Do mesmo modo, os depósitos da região de Frutal, como o famoso garimpo do Bandeira (Gravina et al. 2002), ainda em plena atividade neste município, possivelmente inserem-se no raio de espalhamento dos diamantes da Canastra.

No Museu da Escola de Minas de Ouro Preto, existe um diamante com cerca de 1 ct tido como de procedência do Ribeirão Maynart, em Mariana, de localização exata desconhecida. De fato, existem diversas referências algo desencontradas a respeito da presença de diamantes no Quadrilátero Ferrífero. Assim, no ribeirão Gualaxo do Sul também parecem existir vestígios de antigas áreas garimpadas (Geólogo Paulo de Tarso Castro 2017, comunic. verbal).

3. ASPECTOS ECONÔMICOS

3.1. Oferta Mundial

Segundo dados apresentados no Sumário Mineral do DNPM (Medeiros & Costa 2016) foram reportados para o ano de 2014 uma produção mundial de diamante da ordem de 124,78 milhões de quilates (Tabela 4). Os cinco maiores países produtores foram Rússia, Botsuana, República Democrática do Congo, Canadá e Austrália que, juntos, contribuíram com aproximadamente 80% dessa produção. O Brasil possui participação “oficial” ínfima neste montante, com apenas 0,05% da produção total, embora acredite-se que parte de nossa produção (principalmente as pedras de maior porte) seja ainda contrabandeada.

Tabela 4. Reservas e produção mundial (Medeiros & Costa 2016).

Discriminação Reservas (106 ct) Produção (ct)
Países 2014(1) 2013(3) 2014(3) (%)
Brasil 13,5(2) 49.166,23(4) 56.923,25(4) 0,05
Rússia nd 37.884.140,00 38.303.500,00 30,70
Botsuana 130 23.187.580,00 24.668.090,77 19,77
Rep. Democrática do Congo 150 15.681.984,89 15.652.014,63 12,54
Canadá nd 11.728.657,41 12.011.619,00 9,63
Austrália 250 10.561.623,00 9.288.231,89 7,44
Angola nd 10.411.817,65 8.791.340,01 7,05
Outros países 146,7 20.977.811,41 16.006.748,53 12,83
TOTAL 730 130.482.780,59 124.778.468,08 100
Fonte: (1) USGS: Mineral Commodity Summaries – 2015, (2) dados DNPM: Relatório Anual de Lavra (RAL) 2015; (3) KPCS – Annual Global Summary; (4) dados do SCPK (Sistema de Certificação do Processo de Kimberley) gerenciados pelo DNPM; (nd) dado não disponível.

Nesse mesmo ano, as reservas mundiais de diamantes foram estimadas em 730 Mct. A Austrália é o país que detém as maiores reservas mundiais, seguida da República Democrática do Congo e de Botsuana. O Brasil detém 1,8% da reserva mundial, considerando-se as reservas declaradas pelos detentores de concessões de lavra no país ao Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM (Medeiros & Costa 2016).

3.2. Produção Interna

Em 2014, o Brasil produziu 56.923,25 ct de diamantes, o que representa um aumento de 15,7% em relação ao ano de 2013, cuja produção foi de 49.166,23 ct (Tabela 5). O estado de Mato Grosso foi o maior produtor de diamantes em quantidade, com 87,2% do total da produção do país, seguido de Minas Gerais (12,6%) e Bahia (0,2%). Há que se ressaltar que tal produção, na época, ainda não contava com a entrada da mina de Braúnas (Bahia), em atividade.

3.3. Exportação

De acordo com os dados do SCPK (Sistema de Certificação do Processo de Kimberley), gerenciados pelo DNPM, o Brasil exportou 52.786,28 ct de diamantes em 2014, totalizando US$ 12.357.447, o que correspondeu a uma diminuição de 4,9% na quantidade em relação ao ano de 2013. Entretanto, o valor das exportações (US$) registrou uma alta de 84,6%. Este resultado foi diretamente influenciado pela venda de uma única pedra produzida no estado de Minas Gerais, no valor de US$6.000.000, devido à sua excelente qualidade gemológica.

3.4. Importação

Em 2014, 100% dos 27.031,44 ct de diamantes brutos importados foram do tipo industrial (NCM 71.02.21.00 – Diamantes industriais, em bruto ou serrados), sendo 86,2% desse valor proveniente dos Estados Unidos da América. As demais importações (13,8%) foram derivadas de países da União Europeia. Deve-se destacar que tais diamantes industriais são sintéticos.

3.5. Consumo interno

Devido ao fato de o Brasil não ter tradição na lapidação de diamantes e dos produtores aguardarem melhores preços para venda, parte da produção provavelmente encontra-se na forma de estoques. Adicionalmente, pela dificuldade em definir a quantidade lapidada e absorvida pela indústria joalheira local, o consumo efetivo de diamantes no Brasil é de complexa determinação (Medeiros & Costa 2016).

Tabela 5. Principais estatísticas sobre diamante no Brasil (Medeiros & Costa 2016).

Discriminação Unidade 2012 2013 2014
Produção Bruta Diamante bruto (ct) 49.233,97 49.166,23 56.923,25
Importação(1) Diamantes não selecionados, não montados (NCM 71.02.10.00) (ct) 0 0 0
(US$ – FOB) 0 0 0
Diamantes industriais, em bruto ou serrados (NCM 71.02.21.00) (ct) 16.698,86 24.048,80 27.031,44
(US$ – FOB) 103.481,11 128.708,70 186.226,51
Diamantes não industriais, em bruto/serrados
(NCM 71.02.31.00)
(ct) 0 0 0
(US$ – FOB) 0 0 0
Exportação(1) Diamantes não selecionados, não montados
(NCM 71.02.10.00)
(ct) 37.237,66 55.354,48 52.418,51
(US$ – FOB) 2.560.434,01 3.189.529,99 2.948.297,57
Diamantes industriais, em bruto ou serrados (NCM 71.02.21.00) (ct) 0 0 0
(US$ – FOB) 0 0 0
Diamantes não industriais, em bruto/serrados
(NCM 71.02.31.00)
(ct) 499,35 165,10 367,77
(US$ – FOB) 1.434.244,02 3.504.333,21 9.409.149,04
Consumo Aparente(2) Diamante bruto (ct) 28.195,82 17.695,45 31.168,41
Preço Exportação(1) Diamantes não selecionados, não montados
(NCM 71.02.10.00)
(US$/ct) 68,76 57,62 140,14
Diamantes industriais, em bruto ou serrados (NCM 71.02.21.00) (US$/ct) 0 0 0
Diamantes não industriais, em bruto/serrados
(NCM 71.02.31.00)
(US$/ct) 2.872,22 21.225,52 29.241,13
Fonte: DNPM – Processo Kimberley; (1) dados do SCPK (gerenciados pelo DNPM); (2) Consumo aparente = produção bruta + importação – exportação (não foram considerados os estoques); (ct).

3.6. Projetos em andamento e previstos

No ano de 2014, o DNPM aprovou 20 relatórios finais de pesquisa para diamante, dos quais um localiza-se no estado de Roraima e os demais em Minas Gerais. Em 2013, o Projeto Braúna, no município de Nordestina (norte da Bahia), que corresponde a um dos primeiros depósitos de diamante em fonte primária a ser regularmente explorado no Brasil, iniciou sua produção por meio de “Guias de Utilização”, obtendo a publicação do título de Concessão de Lavra em 2015. De acordo com Medeiros & Costa (2016), projeta-se que a Mina Braúna terá um impacto significativo na produção nacional de diamantes, contribuindo para um aumento de 7 a 9 vezes na produção atual, além de renovar o interesse no investimento em projetos de pesquisa visando depósitos primários no país.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Alecrim J.D. 1982. Recursos Minerais do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, Metamig, 298 p.

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